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Blog do Mauro Beting

Se eu fosse você, Glória Pires

Mauro Beting

02/03/2016 11h53


Não sou capaz de opinar a respeito de novelas. Como a Glória Pires comentando o Oscar pela Globo, eu não assisti. Não sei. Não vi. Não entendi. Interessante. Bacana. Isso. Tá…

Mas, como cornetarista futebolístico, eu acho (pra não dizer tenho a absoluta convicção!) que posso opinar a respeito do ambiente no vestiário do Palmeiras, sobre os treinos que não têm dado certo no Grêmio, sobre a melhor maneira de aproveitar os muitos talentos ofensivos do Atlético Mineiro, sobre o que passa na cabeça de Tite na remontagem do elenco do Corinthians, como o São Paulo vai se reorganizar dentro e fora de campo, como o Barcelona faz tudo aquilo, como é que o Leicester fez o milagre. E, principalmente, diferente da lacônica Glória Pires, posso opinar sobre jogos e jogadores que não vi e não conheço.

Não precisamos de mais comentaristas com o conhecimento, verve e humor dela (modo ironia ligado). Mas, talvez, da humildade e sinceridade da grande atriz para falar que não sabemos. Desconhecemos. Não vimos. Não temos a menor ideia.

Adoramos ser onipotentes, oniscientes, gulosos googles ambulantes metralhando informações, nem sempre conhecimento. É bom vez e outra o jornalista futebolístico tentar ser Tony Ramos para trocar com Glória Pires. É "bacana" – diria ela – "se eu fosse você" partes 1, 2 e 3 até a 171 para saber que não precisamos saber as coisas.

"O que está acontecendo com o Palmeiras?" é o que me pergunta o espelho, filhos, leitores, e até gente do próprio clube. E eu respondo com a mesma pergunta: não sei. A base é a mesma, e é boa. Foi reforçada. E o time não joga. Treina para jogar, trocar a bola, marcar melhor no meio, estar atento na bola parada, mas não rola. Não joga.

Como o Grêmio. Perdeu consistência defensiva mais que o esperado. Wallace faz falta na cabeça da área. Galhardo, mais do que imaginava (por ora) na lateral direita. Marcelo Oliveira não tem sido nome feliz em 2016 – tem errado demais na esquerda. Kadu não substitui Erazo. Fred vai bem na falta, mas ainda falta algo… Ainda assim, com Miller Bolaños, e com o provável crescimento de todo o time que terminou muito bem 2015, hoje é dia de vitória na Arena. Nas duas, já que o Corinthians (o único grande brasileiro que tem justificativa para não se acertar por ter perdido seis titulares em menos de um mês) recebe o bom Santa Fé para vencê-lo, em Itaquera.

Vou acertar meus chutes? Sei lá. Você conhece jornalista esportivo que tenha acertado na Loteria, que ganha o bolão de Copa do Mundo da família? A gente acha que sabe. E quem se acha acaba se perdendo.

Tem mais coisa entre o gramado e o céu. Mas, como a Glória Pires, não sei, embora eu veja. Só não enxergo.

Não está dando liga. Não funciona. Mas a real é que não sei realmente o que acontece em muitas situações, embora tenha a pretensão jornalística de achar o quê, o porquê, o como, o onde, o quando e o quanto de tudo. Muitas vezes, falta tanto conhecimento e sabedoria quanto humildade e modéstia para buscar as perguntas mais que trazer as respostas.

Glória Pires sabe muito ao não saber nada. Só poderia saber com um pouco mais de humor. Sempre a melhor resposta para tudo. Para fazer jornalismo sério o jornalista não precisa ser sério. Nem humorista. Apenas bem-humorado.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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