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Blog do Mauro Beting

Leicester é para todos

Mauro Beting

23/03/2016 08h53

 

 

VARDY. O exemplo do que tem sido o Leicester. FOTO; IBMTIMES

Era uma vez um clube que lutava apenas para não ser rebaixado na Premier League em 2014-15. Na 12a. rodada estava na zona de rebaixamento. Na 13a. virou lanterna. Perdeu seis jogos seguidos. Foram 17 rodadas na rabeira da tabela. Faltavam nove quando venceu uma e virou penúltimo. Ganhou sete dos últimos nove jogos. Terminou na honrosa 14a. colocação. Quase um milagre.

Era um time de empates. 19. Um turno inteiro empatando. O saldo ainda assim foi negativo. 11 gols. O treinador Nigel Pearson produziu o drama com seu assistente Shakespeare. Craig Shakespeare. Mas outras questões extracampo não o garantiram. Histórias de folhetim indignas de O Fuxico atrapalharam. Ele saiu em junho de 2015 depois de salvar um caso que havia acontecido apenas três vezes: um lanterna no Natal estar salvo ao final da temporada. Pearson era muito querido pelo elenco.

Duas semanas depois da demissão, chegou o italiano Claudio Ranieri… O pior entre os mais badalados treinadores do planeta. Ele havia sido demitido pela Grécia depois de perder para as Ilhas Faroe… Em Atenas… Em novembro de 2014.

Na transmissão da primeira partida da temporada pelo Fox Sports, Leicester x Sunderland, antes de a bola rolar, o comentarista Mauro Beting cravou logo depois da chegada dele:

– Ranieri acerta com o Leicester que erra com Ranieri. Se escapou de modo brilhante na temporada passada, agora o Leicester encaminhou o rebaixamento nesta temporada.

Ele assumiu a liderança na 13a. rodada. Exatamente a mesma que, um ano antes, quase o mesmo elenco chegou ao fundo do poço. Desde então ou o Leicester é vice-líder ou líder (são 12 rodadas na ponta, e as últimas sete como líder.

O jornalista brasileiro não foi o único a queimar a língua. O jornal inglês THE GUARDIAN previu antes de a bola rolar, em agosto: o Leicester terminará a competição na 19a posição. A penúltima. Rebaixado.

As bolsas de aposta calculavam as chances do clube: uma em 2.500.
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Ranieri pegou uma base formada. Perdeu Cambiasso na cabeça da área. Justo quem passava melhor a bola. Apostou em Kanté e foi muito feliz ao lado de Drinkwater. Mudou o 3-4-1-2 da fase de recuperação com Pearson e adotou um 4-2-3-1 vertical. Sem Cambiasso e uma saída mais qualificada, Ranieri apelou para a bola longa, contragolpe veloz, técnica com Mahrez cortando da direita pra dentro, Vardy fazendo os gols que nunca fizera. Nem na sétima divisão onde atuava em 2010-11. A zaga que no ano passado sofrera mais gols que dois dos três rebaixados, desta vez deu liga.

Mas nada deu mais que Vardy. Um cara comum que tem uma cota incomum de gols. Um cara que poderia ser torcedor virou artilheiro é jogador de seleção. Assim como o Leicester pode ser qualquer time, Vardy pode ser qualquer um. Difícil mesmo é repetir o que fez Vardy. O que faz o Leicester.

Outro post eu falo mais do jogo de um time que fica pouco com a bola, mas faz demais quando a tem. É ótimo para o Leicester, não necessariamente para a qualidade do futebol.

 

Mas, como disse Ranieri, é um exemplo para todos os campos da vida.

 

Dinheiro não é tudo. O Leicester pode ser.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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