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Blog do Mauro Beting

Duelos têm regras; clássicos matam, mas não morrem.

Mauro Beting

26/04/2016 07h55

  

Em menos de dois minutos já se pegavam vascaínos e rubro-negros em Manaus. Amarelados os capitães. Tinha máscara  dos santistas no banco da Vila para retribuir as de Ricardo Oliveira, na final da Copa do Brasil, contra o Palmeiras. 

É clássico. É o que nos move além em todos os campos. Dentro e um tanfo fora das regras. É o desejo não só de vencer. É o do rival perder. Por vezes até preferível. 
Por isso adversários viram inimigos. O que não é bom. Pode ser letal. Mas é natural. Tanto quanto o acirramento de rivalidades. Vasco X Flamengo, de 1974 a 1988, tiveram momentos espetaculares de deuses da raça à raiva do ladrilheiro que invadiu o campo. Pênaltis e Cocadas. Zico X Dinamite. Marcio X Eurico. Deuses e os diabos fazendo o Flamengo entrar em campo quebrando o protocolo e o presidente fazendo a fuzarca no gramado e fora dele na Amazônia. 

Muitas vezes passa-se do ponto. Mas não se passa o ponto à frente. Clássico, por definição, é atemporal. Sobrevive. A rivalidade pode se esvanecer. O Clássico das Multidões vai definir o MG-16. Mas a rivalidade do atleticano não é mais com o americano. Desde o Mineirão, ainda menos. Mas o América ainda é clássico. Não tão rival, mas é. Como foi o América do Rio contra os outros grandes. Como foi a Portuguesa em São Paulo. E torço que volte a ser
É questão de história e respeito. Corinthians X Portuguesa é clássico. Mas não tem mais a rivalidade. Ainda que fosse descompensada. Como tem sido, por exemplo, o duelo alvinegro paulista. Nos anos 1960, a Operação Descida de rivalidade tinha operação especial do Parque São Jorge em direção à Vila Belmiro. Mais pistas vinham de São Paulo sedentas de vingança contra o Pelé do Santos. Tanto que a quebra do tabu de 11 anos sem vitórias corintianas no clássico pelo Paulistão, em 1968, foi a maior vitória do Timão nos anos 1960.  

Nos últimos anos, a operação foi invertida. O maior rival do Santos é cada vez mais o Corinthians. Também pelo título espetacular do Brasileiro de 2002. E a recíproca não é real. O corintiano prefere mais uma vez vencer o São Paulo. O maior duelista alvinegro nos últimos anos. E o melhor para os alvinegros. Em São Paulo, o Trio de Ferro se equilibra nisso. O Palmeiras é freguês do São Paulo que é freguês do Corinthians que é freguês do Palmeiras. Simples assim. 

Mas as rivalidades se acirraram com as disputas. Agora é Santos X Palmeiras, como passou a ser desde 1958-59. Um pênalti. Várias penalidades. Uma punição às torcidas. Uma celebração.  Uma marcação. Uma máscara. Uma tuitada. Várias tumultuadas.  Vale tudo. Só não vale torcida única. Isso não pode.  

É preciso ser esperto para evitar maiores provocações. – quase todas dando maus resultados depois. A rebolada de Edmundo do Vasco à frente de Gonçalves do Borafogo ajudou a decidir o estadual de 1997 para o Fogão. O gol porco do corintiano Viola em 1993 iniciou a revolta palmeirense que deu na volta olímpica depois de 16 anos. A careta de Oliveira em Santos X Palmeiras no BR-16 ajudou a levantar a Copa do Brasil meses depois. 
Histórias e gestos que não se esquecem. E movem por décadas rivalidades. Flamengo X Atlético Mineiro não são os mesmos depois dos embates bélicos e diabólicos de 1980-81 e 1987. Palmeiras X Grêmio de 1995-96. Cruzeiro X Palmeiras de 1996 a 1998. Inter X Corinthians de 2005 e 2009.  Divididas, dúvidas, dívidas e DVDs, puxadas e viradas de tapetes apimentam rivalidades que podem ser amortizadas pelo tempo. Mas, como clássicos, não morrem. 

Nem que queiramos matar os rivais em metrôs. Nem que as autoridades matem tudo isso instituindo torcida única.  Clássicos podem matar. Mas não morrem. 

(E não falei do Gre-Nal? Não precisa. A maior rivalidade do país, tu a tu, essa não precisa nem citar. É o Fla-Flu dos clássicos. Epa…)

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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