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Blog do Mauro Beting

César Martins tem um filho de dois anos

Mauro Beting

27/05/2016 11h09

César Martins trabalha em banco. Tem potencial, mas não vive grande fase. Os companheiros de serviço também não estão rendendo o esperado. Os resultados não são bons. Mas ele é profissional correto. É ótima pessoa, segundo todos os relatos de colegas e avaliação do RH. Os especialistas (ou supostos especialistas) entendem que talvez ele não tenha condições técnicas para exercer as funções designadas. Mas ele pode muito bem compor o grupo de trabalho. Ainda que não batendo as metas propostas. 

César Martins foi ao supermercado no Rio de Janeiro onde mora.  Ele, a mulher e o filho de dois anos. Reconhecido por um bando de "clientes" (o bando no sentido de súcia fica sem aspas), ele foi perseguido, xingado, cercado e, quando entrou no carro, ele foi chacoalhado, depredado, e teve vidro quebrado. Só por não estar entregando as metas estabelecidas. 

César Martins lamentou o ocorrido. Mas hoje vai trabalhar normalmente. Dentro do que pode ser considerado normal uma selvageria dessa com um profissional que pode não ser um craque no que faz. Mas não é um escroque como os que assustaram o filho dele de dois anos. Um que mal sabe falar. E não tem nem o que falar. Como a gente perde a fala nesse mundo em que 30 falam pelo falo. E ainda muitos e mútuos falam que a outra menina violentada por 30 é a responsável pelo estupro filmado e postado. 

César Martins segue trabalhando. Bem ou mal, segue na labuta. Os que o intimidaram não conseguiram. Mas vão assim tirando da empresa pela  qual distorcem mais gente qualificada. Quem vai querer ganhar dinheiro onde se pode perder a tranquilidade, segurança e sabe lá o Diabo o que mais. 

Entre tantas coisas que eles não sabem eles não desconfiam que por pressão não vão melhorar o desempenho do grupo de trabalho. Ameaçando não vão conquistar resultados. Intimidando podem até mandar pra longe profissionais que não gostam, como o antigo gerente da firma, o Wallace. Mas, desse jeito, os trainees e estagiários que deram certo por lá, e em qualquer lugar dariam, como Rondinelli, Mozer, Figueiredo, Aldair, Júnior Baiano e Juan vão ficar com medo de seguir na firma. Vão tentar buscar novos ares o quanto antes. 
Triste ver clientes consumindo ódio e intolerância. Onde vamos parar com isso?
Imagine se essa praga de revoltados Online que perdem a linha chegam, sei lá, até gabinetes de ministérios da Educação? Imagine se esses talibans de justiça com as próprias patas invadem os campos de futebol?  

Ainda bem que a paixão e o amor incondicional dos torcedores impedem que isso estrague o futebol. Se um dia jogador que vai ao supermercado com mulher e filho de dois anos for cercado e atacado por vândalos, meus amigos, eu juro que vou pensar se vale mesmo a pena trabalhar com futebol. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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