Topo

Blog do Mauro Beting

Ali nas cordas

Mauro Beting

04/06/2016 11h05


O maior nome do boxe. Um dos maiores do esporte. Uma das maiores personalidades pop do século XX. Um dos maiores ativistas. As melhores lutas dele sempre foram longe dos ringues e das rinhas de pesos-pesados do esporte. Ele lutou contra o preconceito racial e religioso. Bravamente desafiou a Guerra do Vietnã negando o único combate que lhe confiscou medalhas, cinturões e armas. Lutou pelo país e pelos pais. 

Tão pesado que foi dois. Cassius Clay de berço. Muhammad Ali pela conversão ao islamismo. Não era nome de guerra. Virou Ali. Em nome de Alá, trocou de documento e de fé mantendo a convicção e golpeando duro quem não batesse com ele. Em todos os lugares lutando. Contra as cordas. Contra a corrente. Contra as leis ilegítimas. Batendo pesado. Mas muitas vezes apanhando na linha da cintura até cair. E foram apenas cinco derrotas no esporte, em 21 anos profissionais, desde o ouro olímpico, com 18 de idade. E foram 56 vitórias. Revanches que deram cinturões. Nocautes eternos. Popularidade imensa, muito além dos socos. 

Não entendo de boxe. Não gosto de lutas livres, regradas, marciais, militares, civis, comerciais, midiáticas. Mas aprecio lutadores como Ali. Biografia de cinema maior e mais inverossímil que Balboa. Respeito quem peita o poder desgovernado. Venero quem marcha a ótima batalha. 

Ali trocou a fé catequizada pela crença adotada como quem trocou socos a vida toda. Escolheu ser assim. E até por isso teve de lutar em casa e em todo lugar. As convicções dele ajudaram muitos a pensarem em mudança. As lutas pelo mundo e pela África onde eles eram reis em meio à pobreza real do Zaire de 1974 inspiraram negros, amarelos, vermelhos, brancos, azuis, todas as cores e credos.

Ali ficou muitas vezes apanhando nas cordas. Levando no fígado na vida e na veia. Mas quando respondia, o contragolpe era letal. Bastava um. Mesmo sendo dois. Cassius e Muhammad. E muitos mais que multiplicavam o bom humor que corroía. A jactância que contagiava. A prepotência própria do ofício. 

Ele falava demais. Mas ele se defendia. Ou melhor. Atacava. A língua era um direto na fuça de quem aparecia pela frente. Ou só tinha coragem para vê-lo pelas costas. 
Coragem. Isso era Ali. Coragem. Não teve ninguém assim por aqui. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

Blog do Mauro Beting