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Blog do Mauro Beting

Bolsa Pódio pode. Não pode é não ter escola.

Mauro Beting

12/08/2016 14h49

Bolsa Atleta foi ampliada e virou Bolsa Pódio no Plano Brasil Medalha. Complexo de Mutley elevado à eNuzman potência. Em vez de pensar um país esportivo, o interesse é fazer um Brasil olímpico. Isto é, medalhado. Quanto mais medalhas conseguir para o COB, melhor. Não importando muito as vocações naturais dos brasileiros. 


Desde 2005, foram 43 mil bolsas para 17 mil atletas brasileiros. Excelente. Mais de R$ 600 milhões investidos. Muito bom. 

Desde abril de 2013, 201 atletas de ponta  receberam o auxílio pró-ouro. Ajuda de 5 a 15 mil no Bolsa Pódio. Desse grupo de elite, 123 fazem parte do Time Brasil em 2016. Outros 78 atletas não conseguiram índices ou classificação para o Rio. 
Estado pode e deve ajudar. Mas só em nome de cartaz?  Os fins justificam as mídias?

Mas que adianta reclamar da falta de incentivo privado se o patrocinador não é mostrado e nem falado por parte da mídia?

Que adianta investir pesado nos atletas de nível só quando eles já são de nível?

Que adianta aparelhar escolas, clubes, parques, espaços e comunidades se não prepararmos professores e instrutores? 

E ainda são poucas escolas. No máximo 40% tem quadra. E, número muito maior, tem mais pedagogo que professor de educação física dando "aula". Ou apenas como bedel do virem-se. E não se sujem tanto.  

Olimpíada no Rio é abrir o freezer e encontrar um pote de sorvete no calor da tarde, abri-lo e descobrir que só tem feijão gelado lá dentro. 

Adoraria ser o Guga e ser feliz e otimista como ele – e nem falo do craque de pessoa e de esportista que é. Confesso que até tento ser um cara alegre, e sou mesmo um sujeito feliz por muitos motivos reais, e outros que a gente inventa. 

Mas quando se vê quanto o Brasil poderia ser também no esporte, pelas condições naturais, humanas, e tudo mais, o que me vem à cabeça é a cerimônia de abertura dos jogos. Lindíssima. Brasileiríssima. E ao mesmo tempo hipócrita. Dos mesmos criadores de uma Olimpíada devedora nas promessas ambientas e estruturais, um alerta pela mudança no planeta da gente que não planeja. 

Não despoluímos a Baía da Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas como prometemos ao COI e aos coitados contribuintes em 2009. Mas pintamos de verde nossas águas incolores nas piruetas e pirotecnias nos saldos orçamentais devedores. 

Alertamos contra o aquecimento global reduzindo nossa pira tanto quanto reduzimos nossas florestas. 

Gambiarra é isso. Não tem graça e nem garra. É só a guerra que vamos vencendo contra o terrorismo. É só a paz que estaremos perdendo no apagar da velha chama. 

Como o nosso Paes. Doa a quem Dornelles. Nós temos tudo a Temer. 

As bolsas têm de ser mantidas, sem que alguém passe a mão nelas sem cerimônia de abertura, como não deixaram levar a da Bundchen. Mas é preciso ir muito além do projeto olímpico. É preciso investir na saúde, educação, lazer e tudo que ganhamos de verdade com o esporte. 

É dever de estado ampliar o investimento na base, projetando não só medalhas em 16 anos, mas uma vida melhor e mais saudável não só para quem quer pódio. 

É mais que dever de quem é eleito. É poder de quem vota e também pode vetar. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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