Luciano do Valle cantou a bola de Bárbara. Brasil 7 X 6 Austrália, nos pênaltis.
Quando Pinilla mandou aquela bola no travessão do Mineirão no Brasil X Chile de 2014, ele havia acabado de chegar. Como sempre fez com elegância, quando não concorda com algo, prefere o silêncio. Ou o trabalho bem feito. Contra a Alemanha, na semifinal da Copa, ele não disse nada para o novo patrão. Mas pensou quanto diria ao microfone que tão bem usou por mais de 50 brilhantes anos.
Quando a australiana mandou em 2016 um balaço no mesmo travessão do Mineirão, ele resolveu se levantar. Não falara nada em 2014 que tanto sonhou com a Copa por aqui. Mas agora, com as meninas que sempre tratou tão bem, que tanto levantou a bola, já era demais!
O Brasil não jogava o bolão que mostrara contra Suécia e China. Sem Cristiane, Marta centralizada não fluiu tão bem no 4-2-4 contra o bem armado 4-1-4-1 australiano. Nem o avanço da incansável Debinha para fazer dupla com Bia funcionou. De volta à armação pela direita, no 4-4-2, Marta e todo Brasil fizeram menos, mesmo com o notável esforço de Andressa Alves. Mas ainda fizeram mais que a Austrália. As rivais jogaram a melhor partida delas. Só não fustigaram tanto pela ótima partida de Monica e Rafaela.
Faltou Vadão apostar antes em Andressinha. Mas como tirar Formiga ou Thaísa? Ainda que fosse a mais pálida partida brasileira com o time completo, a excelente goleira Williams impediu a vitória nos 90 minutos que pareceram dias, nos 120 que foram a tensão de 220.
Pênaltis…
Na mesma meta contra o Chile…
Muitas canhotas batendo pelo Brasil…
Eu quero 11 canhotos no meu time jogando. Mas 11 destros batendo pênaltis. E JAMAIS o craque do time cobrando o último pênalti.
Aquele que Marta bateu rasteiro e Willians foi pegar. Mineirão não mais berrando EU ACREDITO. Tudo acabado.
Então ele não se aguentou de vez. Já tinha perdido a oportunidade de narrar a Copa no Brasil, levado que foi antes da hora pelo coração verde-amarelo. Já não pode narrar aqui no país que tão bem contou a história o que só ele podia relatar de tantos esportes que não só elevou, mas criou, recriou, levantou, promoveu, reforçou.
A Olimpíada no Brasil tinha de ser com ele. Contada por ele.
Ele chegou ao dono da bola antes da cobrança que seria fatal. Ele foi falar com os deuses do esporte e com que o levou:
– Assim não dá! Essas meninas não merecem ser eliminadas. O Mineirão não merece outra derrota assim. Eu já não posso narrar. Você não vai deixar isso acontecer!
Ele é misericordioso, você sabe, o dono da bola. Ouviu os apelos da voz dos esportes no Brasil. O Magnânimo deu força para Bárbara defender o pênalti que empatou a série. E deu à goleira a técnica e rapidez para buscar o pênalti decisivo de Kennedy.
Aquele que fez as meninas pularem na direção da goleira, enquanto Marta se virava para o meio-campo para celebrar a merecida redenção dela e das meninas.
Depois da virada e da bronca que deu Nele, nosso companheiro de tantas jornadas voltou ao lugar lá no céu que é dele desde 2014. Para continuar vendo a Olimpíada que, mais que qualquer outro brasileiro, merecia ver e contar ao país. Aquilo que, como diria outro gênio da narração como Silvio Luiz, "só ele viu" no futebol feminino nos anos 90, no vôlei nos anos 80, e no esporte quase sempre.
Obrigado, Luciano do Valle, pelos 17 anos de amizade, pelos 40 de aprendizado, pela vida que fez o Brasil ser mais esportivo e, também, pela virada nos pênaltis contra as australianas.
A Marta, as meninas e você não mereciam perder essa.
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