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Blog do Mauro Beting

Vara da infância do Thiago Braz

Mauro Beting

16/08/2016 01h16

Ele não tinha quatro anos em Marília e, no final do dia, na casa dos avós, colocava a mochila nas costas esperando a mãe voltar. 

Foram alguns dias sem que ela voltasse. Ele não esperou mais. Foi criado pelos pais da mãe que o largou. 

O esporte o ajudou. Primeiro o basquete. Depois uma atividade que não é normal. Sair correndo com uma vara enorme na mão, espetá-la em um buraco, mexer-se todo para passar por cima de um sarrafo de quase dois andares, e estatelar-se do outro lado num colchão. 

Velocidade, força, concentração, coragem, estratégia, técnica. Não é normal e nem natural. Nem para mitos como Sergei Bubka. O ucraniano tinha 20 anos quando tinha tudo para ser ouro pela URSS em Los Angeles, em 1984. O boicote do bloco soviético sonegou a medalha conquistada apenas em 1988. Perdida em saltos fracassados em 1992 e 2000. E na lesão que o impediu em 1996. 

Bubka foi o primeiro a superar os 6 metros (em 1985). Hexa mundial. Bateu 35 recordes. Um dos maiores atletas de todos os tempos. Mas apenas uma medalha de ouro. 

Criador de um método de treino com seu professor Petrov. O mesmo de Isinbayeva. Murer. E do brasileiro Braz, Thiago. 

Atleta de grande potencial. Mas que se perdia em grandes competições, como o genial Bubka não ganhou as medalhas esperadas. 

Quem explica?

Braz explica ao não se justificar. Dizia a cada insucesso que iria treinar mais. Foi assim no Pan onde nada fez. Não dava desculpa. Mesmo com o vento forte no Engenhão, em 2016. Depois a chuva forte. Os atrasos na competição. As críticas. O favoritismo do francês. 

Braz não se entregou. E teve de ir além das marcas dele e de qualquer sul-americano. Arriscou 6m03. Único jeito de ser ouro. 

E foi. 
No salto perfeito ele já cai celebrando. Ele já pula ganhando. Brasil é Braz. Thiago. Só nove homens saltaram mais de 6 metros. Só Thiago superou no Rio o Francês Voador.
Na primeira tentativa ele nem subiu. Na última, ainda não caiu a ficha, só a medalha. 

Brasileiro não gosta de esporte, gosta de vencedores. Ganhamos um esporte para torcer. Amanhã tem mais. Tem Murer. Tem mais torcida. 

Depois de amanhã vai ter Braz. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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