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Blog do Mauro Beting

Cuspir ou engolir Neymar?

Mauro Beting

23/08/2016 10h34

Pelé cego e pé-frio. Senna viado. Ronaldo gordo. Neymar moleque. 

Guga legal – mas esse é de outro planeta, como se viu de novo na Globo. Como também é Pelé, só que não O idolatramos como deveríamos (levando demais em conta os erros de Edson). 

Com razão ou apenas difamação, o brasileiro médio e abaixo da média trata os muito acima da mídia desse jeito sem o menor jeitinho brasuca. É só porrada. É só pancada. 

Neymar é o bolão da vez. Escreve AQUI Rica Perrone, em seu blog: 

"Nenhum atleta olímpico toma porrada o ano inteiro, todos os dias, e é cobrado individualmente por um coletivo. Nenhum deles tem a importância de um jogador de futebol da seleção brasileira e portanto ninguém ali sabe o que é ser capitão da seleção.

Aos 24, campeão de tudo, cobrado como se fosse um Pelé maduro aos 30, Neymar precisa aceitar ser um moleque e aceita.

Ele erra, faz biquinho, fica puto, decide o jogo, xinga de volta, sobe na arquibancada, abraça a (ex)namorada e recebe o filho no gramado. Neymar é Neymar, não é o cara que você decidiu que queria pra capitão da seleção.
Porque diabos você acha que um ídolo deve ser como você espera que seja e não como ele é? Quem você acha que é pra saber sua reação após apanhar por 15 dias 24h de todos os lados e com a medalha no peito ouvir uma ofensa?
Ele bateu no rapaz? Não, só mandou tomar no cu. Que aliás, é algo bem justo considerando que o mandam pro mesmo lugar o dia inteiro em todos os lugares do mundo. Especialmente no Brasil, onde sucesso é crime.
Esse moleque que vocês querem moldar numa forma de Messi, nos deu a medalha que ninguém havia dado. Esse pivete cheio de marra que vai pra noite sem se esconder de fotografo e que quando não tá afim não dá entrevista pra imprensa, é o cara que resolveu a final da Champions League e a da Libertadores antes dos 23 anos.
Você quer mesmo meter o dedo na cara desse moleque?" 

Queremos, Rica. E metemos. E matamos um pouco de tudo que ele nos revive. 

Neymar não é o Serginho filho da dona Didi de Pirituba, esse monstro bi olímpico do Escadinha, craque de 40 anos que parece jogar há 40 décadas com maturidade de 40 séculos e garra de 40 semanas. Como Neymar filho da Nadine então de Mogi das Cruzes não é igual ao filho da dona Didi, ao filho da dona Lucila do Ipiranga (Mamma, põe macarrão na água que eu estou chegando), ao filho querido da sua mãe e a muitos filhos da mãe.

Neymar é filho da paixão do futebol. É filho da riqueza das boladas. Filho das baladas do status e do glamour, que são commodities tão uppadas que shippamos por elas (e só usamos estrangeirismos para falar delas, de tanto que gostamos delas…) 

Nenhum atleta é tão adorado e querido como também parece que amamos odiar Neymar. Ele e alguns mais. Sou suspeito para elogiar esse menino. Mas acho mais suspeito alguns o detonarem só por criticar. 

Ele ganha ainda mais dinheiro com as redes antissociais do mesmo modo como perde muitas coisas com ela. O que ele faz nas folgas não é diferente do que se fazia antes sem smartphone. A diferença é que ele ganha muito mais e aparece ainda mais. Mas a festa e farra são iguais a que muitos já fizeram. E não só os Bad Boys. E não só nos últimos 30 anos. 

Neymar, como craque que é, tem de responder pela bola mais do que pela boca. Mas é fácil falar quando não se é cobrado por tudo e também por nada. Ele pode e deve falar mais com a imprensa. Pode aproveitar para desabafar usando o mesmo microfone que o critica. Tem todo o direito ele e qualquer um de não querer falar. Mas quando é protocolo, está no contrato, precisa jogar o jogo da mídia. Fala qualquer coisa para evitar que falam qualquer coisa também. 

Neymar precisa saber driblar também fora de campo os marcadores da mídia com e sem modos. Tem de ter a mesma visão cada vez mais apurada de jogo para bater bola com quem bate nele. Do que critica por ser critico contumaz. Por detonar por não gostar dele. Por arrasar por ter inveja e ciúme. Pecados capitais ainda maiores com quem tem mais capital. 

Neymar é abusado. Ousado. E nem sempre consegue ser alegre. Por isso vai continuar sob marcação cerrada. Romário era meio assim. Genial igualmente, não dava a menor pelota, porém. Apreciava ser cobrado a ferro e fogo. Gostava de jogar contra. E quanto mais gente tivesse contra, mais animado e afinado se sentia. 

Neymar não é assim. Ele quer ser querido. Ele gosta do assédio. Trata com naturalidade. Mas é só ele que é tanto cobrado. Só ele é quem pode dar o que se pede hoje. 

Por isso sofre o que Romário meio que jogava e andava. Por isso Neymar precisa cada vez mais não ter 24 anos. Por isso a Olimpíada fez tão bem a ele quanto ele fez para o Brasil. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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