Rio 2016 e tombo em 2020
Olimpíada é maratona, por definição. Precisa ter resistência, perseverança e resiliência. É longa. Mas é mesmo curta. 100 metros rasos e ralos e raros.
O melhor momento olímpico não dura 10 segundos. Bolt! Ou pouco mais que nada: Phelps! Mitos que o Rio viu e que ninguém mais vai ver. Em qualquer água, incolor ou verde. Amarela linha nada tênue que nos deixou vermelho. Mas com mais graça que Lochte. Perdido na ilha de mentiras. Mantra de que Na Hora Sai da pátria da gambiarra com garra na Barra, que ganha no Maraca, que vence em Deodoro, que empolga no Engenhão, que integra a gente desterrada pelos Jogos, que grama o povo que gramou para poucos de fato ganharem.
Desenvolvimento que não devolve tantos benefícios. Legado para os netos de Paes mais para lá que Maricá. Evento levado pelo umbigo com o vento forte que derrubou a luz no último dia na Barra e o teto dos mais fortes que ainda têm de cristal. Não teve terrorismo que aqui não tem. Mas segue o cotidiano da violência urbana que quebra recordes. Teve a simpatia dessa gente de Gugas sem medalha contra essa muralha de presidente ausente e presidenta impedida enquanto samurais e Marios Bros ministros do Japão antecipam a festa deles.
Foi muito melhor que a encomenda. Claro que, como a vida, poderia ter sido melhor. Para quem torce e para quem distorce. Para quem paga e para quem não foi pego. Para os voluntários desinformados, para as lanchonetes sem comida nas praças esportivas, para os preços abusivos para serem presos. Mas foi o que deu para fazer. Inclusive lá dentro. A meta do COB de pódios não foi batida. Quem de fato esperava? Mas a lista de top-10 foi melhor que o imaginado. É o que de fato importa.
O Complexo de Mutley de Nuzman, o cartola que quer MEDALHA, MEDALHA, MEDALHA para o "yellow and red" nacional (e que ainda deve estar terminando a metade do discurso da bela cerimônia de encerramento), não é a solução para o esporte brasileiro. Investir na base é o caminho. Os projetos estatais desenvolvem muito mais os esportistas vendedores e vencedores que o esporte que quer ganhar saúde, educação e lazer para o povo que não quer só pódio, quer poder ser campeão em qualquer campo.
O Brasil segue sem política esportiva, apenas com políticos no esporte e alguns apenas por esporte. O país segue sem quadras nas escolas e sem professores nessas quadras. Grandes resultados em modalidades campeãs como futebol e vôlei acontecem sob administrações contestadas. Vencedores como Isaquias nascem das águas de uma cidade de canoas, com o incentivo SIM de projetos do governo, mas com milhares de "nãos" a atletas negados ou renegados nas canoas furadas e cofres frustrados pelo ouro roubado pela incompetência ou pela ladroagem com timoneiro e sem temor.
Mas mesmo com tantos que zikaram ou urubuzaram, não foi nem o fim e nem o começo da picada. Não seguramos vela para defuntos e objetos mortos como pneus e sofá na Baía que viu a família Grael ser mais uma vez ouro. Não despoluímos. Mas fomos além de qualquer outra Olimpíada. Não mitigamos a fome, mas não matamos o tanto que desmatamos. Não ganhamos o que o Comitê Medalhista Brasileiro pretendia, mas conquistmos mais do que nunca.
No mais, o que o amigo Eduardo Castro postou e protestou:
"Na Olimpíada da Grécia, um padre doido arruinou a maratona, invadindo a pista. Na China, perderam a vara da Fabiana Murer. Na de Moscou, a transmissão de TV era tão ruim que vários jogos foram exibidos em VT, pois o sinal simplesmente não chegava. Na da Alemanha, um atentado matou 11 pessoas. Em Atlanta também teve.
Na Copa da França, foi tanta greve durante o evento que até o Louvre ficou fechado. Da Córéia, roubaram tanto pro time da casa que até a torcida pedia desculpas. Na África do Sul, durante os jogos no Soccer City, o fim do Soweto ficava às escuras, pois não tinha energia pra tudo junto. Na da Espanha, um sheik invadiu o campo e mudou o resultado de um jogo, mandando um juiz anular um gol contra o Kuwait. Na da Inglaterra, roubaram a Jules Rimet, que foi encontrada no lixo, por um cachorro.
Na nossa Copa, só teve vexame esportivo, o nosso 7 a 1. Na nossa Olimpíada, quem passou vergonha foi um quarteto de nadadores americanos.
Lamento profundamente por quem torcia por um fiasco."
Não foi fiasco para merecer assovio. O fisco que esteja de sobreaviso.
Mas, lá no fundo, lá onde estão os desalojados pelo shopping esportivo, o importante é competir.
O Rio competiu.
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