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Blog do Mauro Beting

Moisés, o mais humilde. Palmeiras 1 x 0 Botafogo

Mauro Beting

21/11/2016 13h01



Moisés.



Para a Bíblia, "o mais humilde de todos os homens da Terra". Para o palmeirense, em janeiro, "um refugo da Lusa! Croácia? Esses caras estão de brincadeira".
 
Ele, não. É sério. É o cara que dá carrinho como zagueiro, cerca como volante, arma como meia para dar passes de trivela como no gol incrível perdido por Jesus no primeiro tempo; enche o pé de primeira como atacante no belo sem-pulo aos 34. Moisés é o pai da menina que encanta cantando o hino do maestro Totó. É cara o que desarma aos 38 finais, e, no mesmo lance, avança e cria a jogada. É o pé que toca para Dudu avançar e cruzar pela direita, Gabriel Jesus chegar atrasado e ainda acreditar, levantar a bola na área para Dudu vencer Sidão, o jogo, e encaminhar o título mais do que merecido para quem é líder há 27 das 36 rodadas. Tudo isso aos 17min13s.
 
Para quem superou desconfianças como Moisés, melhor em campo, dos 11 melhores do BR-16. Para um torcedor que há dois anos fazia contas no Allianz Parque contra o Atlético Paranaense na última rodada e dependia de resultados. Para quem sofreu nos últimos anos fazendo simulações de resultados que quase nunca davam certo. Quase sempre catastróficos. Para quem via a bolinha da Globo no ar e ficava tentando sacar de quem era o gol pela entonação do Cleber Machado. Para quem todo gol era importante em todos os jogos. Porque o seu time já não sabia mais andar e jogar pelas próprias pernas.
 
Contra o bravo Botafogo, e contra mais 18 rivais no domingo, o Palmeiras também dependia de outros placares. Mas para outro fim. Ou o princípio de tudo.
Por isso a festa no Allianz Parque aos 22, quando Arrascaeta abriu o placar no Mineirão. 1 a 0 . Faltava o Palmeiras vencer o Botafogo como parecia pronto. Enfim voltava a atuar melhor e trabalhava mais a bola. Com paciência e ciência. Chegou a ficar 73% com ela. Mas com poucas chances (quatro contra três no primeiro tempo). Cleiton Xavier não conseguia armar. Mesmo com o Botafogo desfalcado, recuado e sem conseguir bolar contragolpes pelos erros de passes e pela distância entre os jogadores.
 
O primeiro tempo acabou com duas perigosas chegadas do Botafogo. Pimpão bateu no canto e Jailson se manteve invicto. Na sequência, Carli se atrapalhou com a bola e perdeu a maior chance alvinegra, em belo lance do ótimo Camilo.
 
Três minutos no segundo tempo no Allianz, o Santos já empatava em Minas, com Ricardo Oliveira. Cuca poderia ter sacado CX10 para enfiar Alecsandro no comando, recuando Dudu por dentro, e deixando Róger Guedes e Gabriel Jesus abertos, em um 4-2-3-1 repaginado do 4-2-1-3 original (como faria apenas aos 10).  Mas a lesão sentida de Mina com 11 minutos já queimara uma alteração. Thiago Martins entrara bem. Melhor que Fernandes no meio e Emerson na lateral, como foi obrigado Jair Ventura a fazer no fim do primeiro tempo, na lesão de Alemão.
 
O Botafogo voltara com mais coragem. Mais desenvolto. Mais avançado. O Palmeiras podia responder no contragolpe. Jogo aberto. Nervoso. Imprevisível. Jogo de Palmeiras.
 
Jogo a caráter para o Santos no Mineirão. Pênalti.
 
O Allianz Parque ligado no rádio ou no minuto a minuto dos portais ou no WhatsApp recebeu a notícia. Pênalti para Ricardo Oliveira. Justo ele das caretas e dos gols em 2015. Contas no simulador. O Santos quantos pontos ficaria com aquele possível gol da virada em Minas? Era hora de o Palmeiras marcar contra o Botafogo.
 
Moisés abriu o caminho. Dudu cruzou e Jesus chegou atrasado. Não foi dessa vez. Mas o menino foi buscar. Levantou na área, Dudu subiu como Leivinha, com a raça do xará que virou busto dia 6, com o oportunismo do César com a 9, com a insolência de Edmundo. Um 7 como ele. Um a zero. Gol de tirar os chapéus. 
 
Segundos depois de Ricardo Oliveira diminuir a diferença para dois pontos, Dudu manteve os quatro. O Palmeiras ainda dependia de resultados dos outros. Mas não mais para ficar na primeira. Mas para ser o primeiro. Ser Palmeiras pela nona vez. Campeão.
 
O Botafogo, a melhor surpresa do campeonato, lançou-se mais à frente. Mas chegou pouco. Ou parou em Jailson. Ou parou junto com o Palmeiras que soube jogar o campeonato mais que o jogo e parar a partida. Fez o suficiente para cravar o resultado que precisava. E que administrava esfriando o Fogão quando, aos 44, cantando o hino palmeirense, o torcedor soube que, em Belo Horizonte, Manoel empatou para o Cruzeiro com 10 jogadores. Ele estava impedido pela TV. Mas já não havia mais como impedir a festa alviverde nos dois anos e um dia de Allianz Parque.
A torcida que já cantava e vibrava explodiu no 2 a 2 do Santos. O jogo acabou quatro minutos depois em São Paulo. Três minutos depois, acabou o jogo do Santos. Não o campeonato. 
 
Não foi com gol de Thiago Ribeiro no Barradão, como em 2014. Bastava o empate do Santos na Bahia contra o Vitória para o Palmeiras permanecer na primeira. Mas o gol santista então foi alívio e festa alviverde. Dois anos depois, o Santos era de novo protagonista. Mas ao sofrer o gol agora aliviou de vez o sofrimento palmeirense. Bela festa na arquibancada. Belíssima festa na esquina do mundo verde da Palestra Italia com Caraíbas depois do jogo. Corrente dos atletas no gramado. Alegria verde nas ruas.
 
Mas sem gritos de campeão. Esse time não é disso. Essa torcida sabe o quanto sofreu para isso. Não tem o grito zicado de "o campeão voltou". Tem apenas aquele que ecoa na cabeça, mas não sai do peito. Pode até mostrar faixa de enea no Instagram. Mas o palmeirense não a veste. Ainda não é hora. O Santos não ganhou o jogo em BH, mas não tem como o Palmeiras ainda ser campeão no domingo.
 
Por mais que os rivais queiram que seja. O Maracanã voltou ao Flamengo. O futebol, não. O rubro-negro abriu 2 a 0 no Coritiba no jogo que começou 19h30. Mas o ex-palmeirense Amaral diminuiu. E a tabela entre dois ex-palmeirenses Vinicius e Kleber Gladiador empatou o jogo que terminou 21h22. E com ele as chances de hepta rubro-negro, que só foi líder do BR-16 por 19 minutos, quando vencia o Palmeiras no Allianz Parque até Gabriel Jesus.

O Galo, outro que pintava bem, só pensa agora, e com razão, na Copa do Brasil. A que o Palmeiras ganhou um ano depois de pedir para ser rebaixado em 2014.
 
Basta agora um empate em seis pontos para o líder. E ainda o Santos precisa vencer os dois jogos que restam. É quase tudo Palmeiras. Só que ainda não é.
 
Mas para quem canta e vibra, é mais que tudo Palmeiras. O Verdão do Periquito de 1960, 1967, 1967, 1969, 1972-73. O Verdão do Porco de 1993-94. Não o de 2009. Aquele que precisava vencer o Botafogo e depender de outros resultados. Aquele que perdeu por 2 a 0 no Engenhão. E nem para a Libertadores em 2010 foi. Porque o Cruzeiro venceu o Santos, na Vila, por 2 a 1, com um a menos. Gol de Kléber Gladiador.
2009 acabou. Mesmo.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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