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Blog do Mauro Beting

Maracanã, aquele abraço

Mauro Beting

11/01/2017 15h15

Derreteram a Taça Jules Rimet no país que a conquistou. Furtaram busto de Mario Filho no estádio Mario Filho.  

O jornalista que idealizou o desfile de Carnaval. O agitador que mais defendeu a construção do estádio do Maracanã e que ganhou o naming right quando morreu. 

Furtaram e devem derreter o bronze do busto de Mario. Irmão de Nelson Rodrigues. Quem melhor descreveu o que se passou no Maracanã 40 minutos antes do nada até 36 anos depois da morte. 

Nem Nelson faria uma tragédia como as peças que vão sendo levadas nesse quebra-cabeça, coração, cofre levado por bandidos desconhecidos. Mas menos perigosos que os sabidos. Alguns já presos. Outros ameaçados como o patrimônio histórico do esporte mundial. 

Maracanã, que lindo, que viu a colossal festa de abertura olímpica, em agosto de 2016. Maraca, que belo, que reviu a bola rolando no final da temporada. Mario Filho que foi furtado o busto. Foi roubada a alma. 

O Rio-16 é um choro-171 de contas não pagas. A Copa-14 é um oceano de dívidas e dúvidas. O consórcio que administra (SIC) o complexo é ócio com azar da economia. E com alergia a fazer direito. Fazer o certo. 

O estádio custou os olhos da cara de tão caro. A manutenção é mero detalhe. Os clubes não se acertam. A FERJ se borra. A bola se ferra. Clubes sem estádios, estado com estádio sem clubes, Maracanã às merdas. Que as moscas já sobrevoam outros coliformes formados nos gabinetes. 

O geraldino expulso no New Maracanã agora se vê no mesmo campo do futebol despejado pela nova arena de velhos problemas e velhacas soluções. Sofremos de camarote a expropriação e espoliação de nosso palco. Picadeiro de picaretas. 

Furtaram aparelhos de TV. Fios. Cabos. Objetos. Mangueiras. Bustos. Muita coisa foi levada nesses últimos dias de Maracanã entregue aos amigos do alheio. Muita coisa tem sido tirada do Mario Filho e dos netos da Geral. Do Maracanã templo do futebol, patrimônio esportivo da humanidade, altar de imolação de autoridades desautorizadas, despudor público e impotência administrativa de décadas. Dos "quadros móveis" da Suderj mais móveis que as peças furtadas aos imóveis gestores da coisa pública que virou sucata que não cabe em privada alguma. 

O Brasil onde só o amor e a Odebrecht constroem mudou de mãos. Mas as digitais seguem iguais. Impressões deixadas nas antigas arquibancadas viraram códigos de barra modernos que alguns atrás das barras já não conseguem tungar. E quem deveria cuidar desse gigante de concreto amado só consegue arquitetar negociatas estranhas que não conseguem minimizar o pus que carcome as entranhas. Nem com o plus que por décadas fez reformas no estádio e no complexo do Maracanã. Mais complexo que Maracanã. 
"Vamos derrubar tudo de novo para ganhar mais cascalho novo" é a tradução em Tupi-Guarani de Maracanã. Estádio de recordes que levou um ano para ser construído e 66 para ser desconstruído, detonado, depredado, detonado. 

Não é só a crise que fez o consórcio entregar as contas. É a incapacidade administrativa. Brigas pessoais e picuinhas clubistas. Estratégias eleitorais e picardias políticas que inviabilizam o ex-maior do mundo. Atual logradouro de um dos maiores problemas do mundo da bola.
 

Planeta que daria a alma para jogar no Maracanã. Desalmados armados que dariam a mãe para seguir ganhando com o estádio que não parece ser do estado e nem do consórcio. 

Dinheiro público sepultado em uma arena cara demais para um poder pobre demais. Estado e município falidos nos cofres e nos tronos com o futuro celado. De cela de ex-governantes. De sela para quadrúpedes estupidos que merecem as esporas e esporros do cidadão lesado e do torcedor derrotado. 

Os clubes nem sempre conseguem ajudar. Ou não ajudam mesmo. Pensam apenas neles. Esquecem que ninguém ganha sozinho. Ninguém joga sozinho. Para alguém vencer no futebol alguém precisa perder. Mas dentro de campo. Não da tribuna nem sempre de honra. Para o tribuno apenas da hora. Administrador que não deixa legado. A não ser um delegado de porta de vestiário. 

O Maracanã precisa ser abraçado pelo seu dono, o torcedor. O cidadão contribuinte do Rio de Janeiro precisa cobrar solução. As contas da Copa e da Olimpíada chegaram. E as dívidas do dia a dia são as mesmas. 

 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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