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Blog do Mauro Beting

Ídolo não precisa ser craque. Moisés é 10.

Mauro Beting

13/01/2017 10h15

"Para quem já teve Jair Rosa Pinto, Chinesinho, Ademir da Guia, Zinho, Djalminha e Alex, celebrar Moisés com a camisa 10 é muita carência de ídolos e de craques"!

Alguém vai escrever isso. Ou pensar isso. Pode procurar em algum comentário aí embaixo. "Geração 7 x 1" "Cucabol". "Palmeiras não tem Mundial". "Vendo Monza 87". Algo do género e de sub-espécie. 

O futebol é assim. Nossa vida tem sido assim. Além de bisbilhotar quem amamos, ainda xeretam como gostamos. Futricam quanto apreciamos. Fuxicam o que devemos apreciar ou não. 

É paixão, estúpido. Tenha a sua. E respeite a do outro. Sei que, às vezes, você desdenha por não entender nem desenhando. Outra você detona por, no fundo, shippar a relação do outro. Você adoraria ter com as suas cores e sua camisa quem se deu tão bem com a nossa. E se dar tão bem, às vezes, é se doar e ser uma figura como o Cristaldo. É chorar tanto e deixar tudo no gramado como o Gabriel. É ser Tonhão, Tonhão, Tonhãããão!

É ser o que foi Cleiton Xavier na Libertadores de 2009, que nem título deu ao Palmeiras: 

– Não chuta! 

11 em 10 palmeirenses… Ok. 9 em 10 não queriam que CX10 chutasse lá do meio da cordilheira a bola que voou até os Andes do Colo-Colo. 

Marcos entre eles. O santo soltou o verbo antes do berro que ecoou do Chile ao Brasil. O gol que classificou o Palmeiras na Libertadores para a outra fase quando tudo parecia perdido. Quando mais uma vez o Palmeiras que odiamos amar tanto nos faz cornetar ao inferno e elevar aos céus em segundos quem insiste em nos fazer primeiros e Palmeiras. 

Cleiton se lesionou no BR-09 e o Palmeiras se perdeu. Cleiton se lesionou demais e não ajudou como gostaria em 2015. Não foi falta de vontade. Foi de condição. 

Porque vontade e condição ele mostrou em momentos decisivos em 2016. Na primeira bola dele em campo fez o gol da vitória no dérbi no Allianz Parque, no turno do BR-16. Marcou o gol decisivo de pênalti contra o Sport, na Ilha. Cavou o penal que empataria o jogo em Chapecó. Fez o gol que abriu a vantagem contra o Vitória no jogo do título do turno. Deu o passe no Recife para o gol da dura vitória contra o Santa Cruz. Marcou o gol da vitória fundamental para encaminhar o título contra o Inter. 

Marcou nas duas passagens. Mas hoje lutaria apenas por um lugar no banco com muito crédito do Palmeiras. O custo-benefício não bate mais. É hora de sair do clube. Mas não da nossa esperança. Muito menos da lembrança. 

Não por acaso fiz questão de mostrar no filme PALMEIRAS – O CAMPEÃO DO SÉCULO o gol que ninguém chutaria em 2009. Ele está no clipe final do documentário dirigido por mim e pelo Kim Teixeira. 

CX10 não precisaria ter sido campeão brasileiro e da Copa do Brasil. Pro meu coração, bastaria aquele chute que eu não mandaria. Bastaria acreditar quando eu não acreditava mais. Bastaria ele crer. Bastou, Cleiton. 

Obrigado e seja feliz como você nos fez.  Como o volante Ezequiel, com muito menos bola, foi referência corintiana, nos anos 90. Não adianta querer explicar. É sentimento. É química. Disposição física. Superação anímica. Empatia. Iúra, do Grêmio dos anos 70, por exemplo. Lugano no São Paulo. Ronaldo Angelim no Flamengo.  

Ídolo de um time não precisa ser craque. E não depende diretamente de conquistas, ou mesmo de carências. Ídolo pode ser o cara que vem da Croácia sem lembrança. Quebra o pé e volta sobre as nuvens e gramados. Marcando, armando, criando, chutando, suando, batendo lateral, criando, jogando, amando, cuidando de uma filha que é uma gracinha palmeirense, cuidando de milhões que se sentem muito bem representados pelo jogador, pelo profissional, pela pessoa, pelo palmeirense nota 10 que é Moisés. 
Ele já disse e a gente já sabe que ele não tem a bola daqueles 10 nota 1000 lá de cima. Mas em 2016, e espero que por muitos anos ainda, ele honrou não só o número que vai vestir, fazendo funções de 8, de 5, de 7, de 11, pelos milhões. Ele foi o melhor jogador do BR-16. Com os pés e com as mãos. Mas muito mais com o coração que transborda. Com aquilo que alguns que não amam nossas cores não entendem. E desconfio que até não sabem amar os próprios ídolos deles. Não só por falta de conhecimento de bola e de boleiros. Mas por falta de órgão vital. 
Consulte um cardiologista, amigo. Espero que você não tenha problema. Mas temo que você não tenha mesmo é coração. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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