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Blog do Mauro Beting

Jô 1 a 0. Corinthians 1 x 0 Palmeiras nos 100 anos do Dérbi.

Mauro Beting

23/02/2017 00h58


Jô marcou em agosto de 2003, dois dias antes do aniversário de 89 anos do maior rival, o seu primeiro gol pelo Corinthians, nos 3 a 1 sobre o Internacional, no Pacaembu. Desde então, e há 106 anos, nenhum outro tão jovem anotou com a camisa alvinegra. Jô tinha 16 anos, 4 meses, 4 dias.

Pouco menos de três meses da celebração do centenário do Dérbi paulistano, quase 14 anos depois do primeiro gol pelo Timão, Jô substituiu o estafado Kazim em Itaquera, no fim do arrastado e nervoso clássico. O inglês-turco, o "gringo da favela" nas palavras do voluntarioso atacante, era o primeiro dos 10 defensores de Fabio Carille no treinamento de ataque do Palmeiras x defesa do Corinthians, no segundo tempo. Cortesia do apavonado e prepotente árbitro Thiago Duarte Peixoto. Ele se confundiu no fim do péssimo primeiro tempo ao mostrar o segundo amarelo a Gabriel, quando de fato o autor da falta que merecia o cartão era Maycon. O árbitro acabou erradamente expulsando o volante que merecia ter recebido antes o primeiro amarelo (que passou batido), e só o receberia mais tarde, pelo conjunto da obra em um primeiro tempo mais batido e faltoso que bem jogado pelas duas equipes.

Keno, que sofreu a falta de Maycon, apontou Gabriel para o árbitro que se precipitou. E insistiu no erro ao não ouvir o quarto árbitro, flagrado pela Globo dizendo claramente que não havia sido Gabriel o autor da infração. O ex-palmeirense saiu chutando tudo que viu pela frente, como fazia em campo – mas não a ponto de merecer o cartão injusto e errado. Cartão vermelho que no final faltou a Vitor Hugo, que cotovelou Pablo.

Infelizmente, em vez de concorrerem ao prêmio Fair-Play da Fifa, atletas e comissão técnica do Palmeiras fizeram de tudo para seguirem ludibriando o árbitro. Ninguém ajuda os atrapalhados apitadores. Não é exclusividade dos palmeirenses, no caso. É do nosso futebol, da nossa incultura, da lei imposta de Gerson. (E SEI QUE VOCÊS JÁ ESTÃO ME CHAMANDO DE NAIVE, PATRULHEIRO, UTÓPICO, INOCENTE, TOLO. MAS OS PALMEIRENSES PERDERAM ENORME CHANCE DE GANHAREM O MUNDO COM A ATITUDE,  EM VEZ DE GANHAREM UMA VANTAGEM QUE, NO SEGUNDO TEMPO, JÔ TRATOU DE ACABAR NA ÚNICA BOLA ALVINEGRA EM 45 MINUTOS…)

Foi o que se viu. Eduardo Baptista apostou em Guerra para articular o que Raphael Veiga não fez com tanta qualidade. Contra o 4-4-1 de Carille, por vezes um 5-3-1, quando não mesmo um 6-3-0, o Palmeiras criou no máximo seis chances boas de gol em 90 minutos. Guerra foi caindo de novo de produção, Dudu mais uma vez se preocupou mais em enfeitar lances, Keno alternou bons e maus momentos e, no final, todo o esforço dos limitados corintianos transformou-se em gol, e em história para contar aos netos alvinegros: Guerra foi mais juvenil que o ótimo jovem Maycon numa sobra de bola que Jô aproveitaria para fuzilar Prass.

Vitória inesquecível de 10 corintianos que se superaram contra 11 palmeirenses que acharam que fariam em Itaquera os gols e a vitória do jeito que fizeram recentemente lá e em outros estádios. Mas futebol não é assim. Dérbi, ainda menos. É preciso correr como Leo Jabá, Arana, Maycon e companhia limitada. Aproveitar como Jô a chance que teve. Defender como Cássio salvou gol certo de Keno, mesmo com o Palmeiras abusando da lentidão que se confundia com paciência, com a troca inócua de bolas, e com a falta de intensidade que sobrava em campo sob a direção anterior.

Algo que Eduardo precisa reencontrar tão rápido quanto as vitórias. Superação que o maior rival teve em Itaquera. Com provocações, canetas e lençóis, e as equipes entrando juntas por Camacho e pela paz pré-prélio. Conquistando o Corinthians vitória que pode valer pouco para o campeonato. Mas que pode ser contada por muito tempo. Como aqueles 4 a 3 de 1971, que não levaram o Timão de Adãozinho a lugar algum no jejum de títulos.

Mas que hoje, 46 anos depois, e pelos próximos tantos anos, sempre será celebrado como o Dérbi da virada. O Jogo do Adão. O primeiro dos homens. Como este será o Dérbi do Jô. O menino mais novo a marcar pelo vencedor da noite em Itaquera.

 

ADENDO: Vendo a entrevista de "peito aberto" do árbitro, ainda na Arena Corinthians, retiro o "apavonado e prepotente" do texto acima. Corajosa, humana e correta atitude em se expor e assumir o erro crasso cometido. Gostaria que mais vezes os árbitros tivessem vez e voz para explicar as decisões tomadas – ainda que as inexplicáveis.

Ponto para ele. Boa sorte, Thiago. E melhor sorte aos árbitros que errarem – para que sejam ajudados pelo mundo da bola.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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