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Blog do Mauro Beting

Jumelo e o Corinthians

Mauro Beting

24/11/2017 09h20

Jumelo, seu jumento. Ainda bem que você não saiu feio como sempre foi na foto da sala de transmissão que leva seu nome na Arena Corinthians. Mas eu não queria ver seu sorriso ali na parede. Eu queria te ver por aqui sorrindo quando saí triste de Itaquera no Derby que encaminhou o hepta. Lembrando tantos outros em que pude berrar "chupa" pra você. Aquele do BR-99, na cabine da Band, quando o Corinthians poderia ter feito cinco gols em dez minutos. Mas levou mesmo três do Palmeiras. E um dedo de Vizeu mostrado pra você por um colega que prefiro não citar o nome.

(Essa imagem não deve ter chegado ao céu, mas o dedo do Vizeu é aquele do meio que ele mostrou num clássico do Flamengo contra o Corinthians, depois de uma treta com o Rhodolfo, companheiro de equipe. Tipo daquelas em que você se metia).

Poucos profissionais tão completos eu conheci como você. Muitos corinthianos tão complexos como você são amigos. E eles não imaginavam o que poderia acontecer em 2017. Nem em sonho. Já que você partiu no final de 2016, na mais triste madrugada do mundo da bola, vou te contar o que a gente viu aqui da Terrinha. Mas jamais imaginaria.

O Fábio Carille acabou ficando mesmo como treinador do Corinthians. O Reinaldo Rueda do Atlético Nacional que você tantas vezes cobriu pelo Fox Sports não quis deixar a Colômbia. Sem muito dinheiro, o seu time acabou ficando com o Carille. E foi duca. Foi hepta.

No Paulista ficou o papo de que seria a quarta força. De fato, estaria do nível do São Paulo. Mas foi muito além. Ganhou mais um estadual. Jogando fechadinho, lá atrás. Mas aos poucos se soltando. Palavras e prancheta do Carille.

Chegou o Brasileiro, e ainda tinha gente que achava que não daria nem para chegar no G-6 da Libertadores. Na quinta rodada já era líder. Fez a melhor campanha em um turno dos pontos corridos. Não só ganhava, mas jogava bem. E ninguém dando bola. Começou o returno e a queda esperada. Mas não tanto era pra cair. Por 28 horas precisou torcer contra o meu time contra o Cruzeiro. O bumbo deu certo. Vocês só dependiam de vocês no Derby. Vocês só precisaram dos primeiros 45 minutos. E de ao menos um erro de arbitragem daqueles que você tanto me enchia o saco como torcedor que sempre foi. Apaixonado como sempre as pessoas têm de ser. Como eu quando te vi depois do pênalti do Prass, em 2015, e me atirei como ele no chão da saudosa Fox do Bixiga.

O título veio na virada contra o Fluminense, três jogos depois. No mesmo estádio onde está o seu nome que ninguém merece: Lilácio. Mas na cabine que não tinha nome melhor para ter.

Jumelo, sua jamanta, o Corinthians foi muito Corinthians em 2017. Mesmo sentindo a sua ausência e a de tantos que partiram e não voltaram de Medellín. Tantas histórias que a tragédia nos levou. Tantas tristezas que não sabemos contar.

Mas os que ficam órfãos de colegas como você ao menos se confortam que, aí de cima, o Jumelo deve estar coordenando a transmissão com a categoria de sempre. O humor rasgado de costume. Dando tapa em anjo, bronca em santo, puxando cabo pelas nuvens, mandando Deus ficar um pouco mais à direita no enquadramento.

Só não sei como o céu aturou palavrões e cornetas no Kazim. Mas vai ver que foi por isso. Só você aí de cima para empurrar esse time que ninguém dava nada. E os caras deram tudo. E por isso deu Timão.

Jumelo, eu queria mesmo era te dar aquele pênalti do Marcelinho. Não de replay. Mas o brinquedo que comprei depois daquele pênalti. Mas não tem como. Só posso dar a você e aos seus parabéns por mais um Brasileiro. E acreditar que o milagre corintiano em 2017 tem sim um pouco a ver com o nome das cabines de transmissão da Arena Corinthians.

O seu nome também é campeão. Eternamente nos corações.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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