Carta ao Tom 18: Vinicius Jr. e Marielle Franco
https://youtu.be/wvtILq1qXdA
MPB-4. Pois é, pra quê. Canção de Sidney MILLER
Para ler ouvindo a canção de 1968 de Sidney Miller: POIS É, PRA QUÊ. Na versão do MPB-4.
O menino bom de bola do Mutuá, São Gonçalo, nasceu depois do bug do milênio. Mr. Brasil 2000. Vinicius veio ao mundo que tem bola para conquistar driblando os problemas cibernéticos que não eram tão graves quanto previstos quando ele nasceu. Certamente menores que as big bostas do Brasil bugado de pelos bufões de bravatas.
Em 2006 já treinava no Flamengo de coração. Veio morar na Abolição para ficar perto do Ninho do Urubu. Alforria para encantar na base dos craques que o Flamengo faz na Gávea. Dez anos depois ele estreou com apenas 16 no time de cima. Já valendo 30 milhões de euros. Não tinha 17 anos e já foi vendido para o Real Madrid por 45 milhões.
Depois de sua segunda partida pelo Flamengo…
Em 1953, os rubro-negros chegavam mais cedo ao Maracanã para ver Dida jogar pelos juvenis. Em 1970, faziam o mesmo com Zico. Os dois maiores artilheiros do clube.
Hoje que revejam Vinicius Jr. em noite sênior virar o jogo contra o Emelec antes que ele nos deixe como Zico só deixou o Flamengo 12 anos depois da estreia, em 1971. Como Dida só deixou o clube porque o mandaram embora, em 1963.
Nossos filhos pródigos e prodígios deixam mais cedo nossas casas. Eles nos deixam órfãos, os nossos juniores e Vinicius. Nós é que ficamos sem lar. Sem saída para o mar.
Como a Cidade que ainda persiste Maravilhosa assiste na mesma noite de consagração do menino do Mutuá ao assassinato de uma mulher corajosa, combativa, atuante. Uma vereadora carioca. Executada. Provavelmente não foi vítima "apenas" da violência impune pelo despudor público. Foi mesmo morta por "justiceiros" por não querer tanta injustiça. Tanta violência. Tanta falta de tudo. Tanta falta fará por tudo que fez.
Que se faça a justiça pela qual trabalhou. Pela igualdade que mais uma vez mataram nas ruas do Rio sem lei. Da filha da Maré levada pela ressaca da imoralidade no Rio que deságua no mar morto. Do Estado que elegeu desde 1998 governadores presos ou pedindo. Da cidade cujos alcaides se perdem pelo que falam e desfazem. Dos cidadãos que não votam direito e não vetam quem devem. E devem demais.
Marielle Franco tinha 38 anos. Lutava pelas mulheres e moradores de favelas. Criada no Complexo da Maré. Estava há um ano na Câmara como a quinta vereadora mais votada.
Ela que veio e viveu no Complexo da Maré que não é complexo. Não é Maré. Mas que ajuda a tentar explicar o que é o Rio que se perdeu. O Rio que curtia o nascimento, o crescimento e a maturidade de Zico. E agora perde filhos que não são adultos como Vinicius. Sem nem embalar sonhos. Com os pesadelos das balas perdidas como as esperanças.
É preciso acabar com essa tristeza. É preciso inventar de novo o amor que se perdeu com o garoto que fará a vida em meses em Madrid. É preciso dar um basta a esse Rio de dor que está se perdendo. Vinicius que vá sorrir metálico na Espanha o que a gente chora dos ex que apanham e morrem na cidade que precisa mais de uma reinvenção que de uma intervenção.
Era como se o amor doesse em paz nos tempos dos campos de Dida e Zico. A tristeza da gente era mais bela. Hoje ela é essa fachada fechada de uma casa de Botafogo. Linda e histórica por fora. Oca e sem nada por dentro. Depauperada. Depredada. Deprimente
Uma fachada. Uma história.
Mais nada.
Vamos remar a favor da Maré e das milhares de Marielles e mulheres que dão à luz aos filhos da escuridão.
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