Kanté e o que se recicla de 1998
Não faltaram latas, garrafas, bandeiras e todo tipo de lixo largado pelas ruas de Paris na celebração do título da Copa de 1998 pela dona da casa. Sobrou o maior dinheiro conquistado por N'golo naqueles dias de festa para o mundo e trabalho para ele do baixo dos 7 anos. Do baixinho de 1m68 hoje que não conseguia times para jogar pela pouca altura. Dez disseram não a ele pela estatura. O que não é documento para quem não tem tamanho de tanta vontade de coletar bolas pelo campo como sobras. Antecipar lances para limpar a sua área e o campo do time dele.
N'Golo tem nome de rei do Mali onde vieram os pais para morar no subúrbio de Paris. Aos 11 ele perdeu o pai. Mas não o Norte. Ajudou a criar os irmãos menores com a mãe. Quando viu que vencer no futebol seria difícil com tantos nãos, ele foi estudar contabilidade. Até que a oportunidade de jogar pra valer ele foi catar como se fossem as sobras recicladas da infância.
Kanté demorou a explodir pelo Leicester que ninguém esperava campeão da Inglaterra, em 2016. Foi bicampeão pelo Chelsea em 2017. Agora é bicampeão do mundo 20 anos depois de catar lixo para ajudar a família a sobreviver. Como o jogador que mais correu em média na Copa. O que mais desarmou. O que fez o trabalho mais "sujo" no time. Como se fosse o mesmo menino que trazia o trocado para a casinha no subúrbio de Ruel Malmaison, no leste parisiense. O que não desistiu quando ninguém lhe dava bola.
Ele era o menor entre todos os jogadores. Mas, desde os 8 anos, o que sonhava maior que todos. Não tinha dinheiro para ir aos estádios. Não conseguia ver os grandes jogos que só passavam na televisão paga. O que ele conseguia apenas era jogar. E não deixar que ninguém jogasse fora o que poderia ser reutilizado.
No Chelsea é quem chega com o menor carro em tamanho e preço. Não precisa mais do que isso. Nós é que precisamos mais de campeões como Kanté. O de valor que não se paga e não tem tamanho.
A prova mais do que viva de que o caminho francês em 1998 se recicla. A França "negra, branca e árabe" segue muito viva 20 anos depois. Revolução de integração que pode e deve reciclar muita coisa na Europa.
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