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Blog do Mauro Beting

Belle Époque

Mauro Beting

16/07/2018 13h49

Foi em Lyon, em 1998, quando a Croácia marcou o terceiro gol contra a Alemanha, que disse ao saudoso locutor Marco Antonio (que faria ali sua última transmissão de Copa) que o Brasil acabava de se sagrar campeão mundial do século XX. A Itália tinha sido eliminada na véspera pela França e não poderia ser mais tetra (que seria em 2006). A Alemanha perdia ali a chance do tetra que viria em 2014. O Brasil não tinha mais como ser alcançado por nenhum país no século XX. Mesmo perdendo logo depois a final para a França.

Vinte anos depois, na Rússia, a França conquista a quinta Copa deste século que já teve Brasil ganhando o penta, a Itália o tetra, a Espanha a primeira, a Alemanha o tetra, a França o bi. A França que foi vice mundial em 2006. Vice da Europa em 2016. Era o melhor time do mundo em 2002 depois de ganhar a Euro-00 até perder Zidane e se perder na Copa na Ásia. A França que se perdeu em 2010 em crise entre treinador e atletas. Só perdeu em 2014 para a campeã Alemanha, nas quartas. Só empatou em 2018 com os reservas com a Dinamarca. Não passou por nenhuma prorrogação até o título como só o Brasil em 2002 e a Argentina em 1986 desde que a Copa tem jogo único desde a fase de grupos.

França que soube jogar o Mundial. Ganhar merecidamente a Copa. Embora, como o Brasil de 1994, pudesse ter entregado mais futebol. Preferiu na final dar a bola e o campo aos estafados croatas. Foi o único jogo em que criou menos oportunidades que o rival (5 x 10). Ainda assim marcou quatro gols – os dois primeiros em lances discutíveis de arbitragem. E só concedeu um gol na falha de um goleiraço que quis brincar onde não podia. Diferente da equipe que poderia ter brincado mais com a bola. Brindado o torcedor com o talento de seu jogo.

O torque, o turbo, o toque e os truques do Mbappé que parece ter 19 Copas e não apenas anos. A elegância do estilista Pogba que baila como se fosse um Zidane de passadas de Bolt e posse de bola. Griezmann que fica atrás dos atacantes ou aberto pela esquerda ou onde for necessário para compensar um Giroud que como Guivarc'h em 1998 não faz e nem chuta pro gol. Mas muito melhor que aquele medíocre centroavante de 1998 o de 2018 prende zagueiro, libera espaço no HD 4K pra quem vem de trás como Pogba, pra quem sai da frente como Mbappé, para Griezmann criar, Matuidi atacar como terceiro meia pela esquerda ou como terceiro volante.

Embora só bastasse na frente da zaga um Kanté para varrer a área de Varane e Umtiti. Bolões pelo alto na área alheia. Balões dirigíveis na própria defesa. Ainda melhor com Lloris. O capitão necessário. Discreto sob as traves quase sempre só uma hora foi brincar e deu o gol aos croatas. Nas outras horas foi o goleiro que quase sempre esquecem de citar entre os grandes. Capaz de milagre contra Cáceres.

Como foram enormes Pavard e Hernandez. Dois laterais que imaginava reservas e que são zagueiros nos clubes onde mal conseguem ser titulares. Dois que podem ser titulares de qualquer seleção da aCopa.

Ainda mais uma que não teve Benzema no ataque pelos tropeços fora de campo feios como os de Giroud lá dentro. Não teve Rabiot que tinha bola para ser titular. Como já foi Payet. Não pôde ser Coman. E alguns convocados que tiveram minutos e têm bola como Dembelé, Tolisso, Lemar.

Grande armeé da França. Time que era para ser campeão a partir de 2019. E já reconquistou o mundo em 2018.

França de 15 filhos da África e do Caribe e outros com ascendência de outros países da Europa. França com mais de três cores.

Exemplo em campo e fora dele. Para todos os campos da vida.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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