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Blog do Mauro Beting

Frames da memória seletiva de um jogo que muda e não se compara

Mauro Beting

25/02/2019 07h29

Manchester City de Pep legal ataca pela esquerda o Chelsea de Sarri na final da Copa da Liga inglesa. Os 11 de Londres estão dentro da área se defendendo. Logo depois a bola é recuperada e Hazard arruma outro belo lance no contragolpe, com a companhia de mais três colegas de time do treinador italiano.

O Brasil ataca a Itália pátria-mãe do catenaccio na final da Copa de 1970, e Gerson marca o segundo gol. Quatro italianos na entrada da área. No máximo. E até três espetados mais à frente preparados pro letal contropiede italiano.

Frames de jogos históricos na memória. Como a bola de pedra que rola atrás de Indiana Jones no primeiro filme da série, em 1981. Como a cena dos créditos iniciais do último "Guardiões da Galáxia", de 2017, ao som de ELO.

O ritmo do primeiro de Spielberg da "franquia" (odeio a expressão) não é mais o mesmo, 38 anos depois. Não diria arqueológico só por brincadeira. Mas para os olhos acelerados e celerados destes dias, pode parecer cena inicial de filme iraniano em câmera lenta. Como em alguns anos talvez esqueçamos dos Guardiães – até porque não lembrei outro que me chamasse a atenção no cinema.

É quase por aí o futebol. Era outro ritmo. Intensidade. Tensão. Velocidade. Mas clássico, por definição, não perde a mão e nem o pé. É clássico. Respeita-se. Encanta. Ainda mais porque quem o fez, muito provavelmente o faria agora. Mas com outro andamento. Ritmo. Elementos. Edição. Olhar. E velocidade. Muita velocidade. Pressa. Pressão.

Gerson que podia respirar então agora lançaria mais rápido antes da chusma de rivais aparecerem. Oscar de roteiro adaptado e também efeitos especiais. Antes não precisava correr tanto. Não tinha corpo e nem preparo dele pra tanto. Hoje ele seria outro. Diferente. E ainda monstro. Exemplo difícil de imitar e emular. Não porque são muitas mulas. Mas porque talento não tem idade. Nem era. Muito menos já era. Eles são. Craques se adaptam. Eles se editam.

O desafio agora é sobreviver à floresta de pernas alheias. Criar espaços e lances. E na velocidade de clipes. De edição de YouTubers. Compartilhe e dê joinha.

E tudo isso não tem nada de novo. Até porque este novo cada vez mais rápido vai ser mais velho. Como o jogo. Como este texto já carcomido.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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