Topo

Blog do Mauro Beting

Futebol tem dessas histórias. United tem muita história. PSG 1 x 3 Manchester United

Mauro Beting

06/03/2019 21h32

Quando foi fundado o PSG, o Manchester United celebrava dois anos da épica conquista da Europa em Wembley, na final vencida na prorrogação pelo time de Bobby Charlton e George Best contra o Benfica de Eusébio e Coluna, bicampeão europeu em 1961 e 1962.

Não tem como comparar camisa, tradição e história. Nem mesmo dinheiro, mesmo com os aportes fabulosos desde 2011 em Paris.

Neste 6 de março, 61 anos e um mês depois da tragédia aérea de Munique que matou meio United (e quase levou Charlton), os Red Devils refizeram algo do nível dos 3 x 2 em Turim contra a Juventus, na semifinal de 1999. O que fizeram nos últimos três minutos no Camp Nou há 20 anos contra o Bayern. Quando do banco vieram Sheringham pra empatar o clássico, e Solskjaer pra virar a partida e a história.

O mesmo treinador que substituiu Mourinho em dezembro e ganhou 10 jogos e empatou 2 na Premier League. O que foi emprestado pelo seu clube na Noruega até o final da temporada. Só perdeu um jogo. O que parecia definitivo em Old Trafford. Dois a zero pro PSG do ex-Di Maria. Mesmo sem Neymar e Cavani, o ótimo time de Tuchel infligiu a maior derrota do United no Teatro dos Sonhos em jogo de Champions.

Em 106 duelos na competição com derrota por 2 a 0 do mandante do primeiro jogo do mata-mata, nenhuma vez conseguiu a reversão o perdedor da primeira perna.

Mas quem pode dizer que futebol se decide pelas melhores e mais fortes pernas?

A pena duríssima pagou o PSG. Dolorida como a remontada do Barcelona de Neymar por 6 a 1. Horroroso como as duas derrotas para o Madrid em 2018. Pavoroso como esse 3 a 1 no Parque dos Príncipes para os Red Devils.

Nas três dores de Paris, Neymar foi "responsável" pela primeira pelo que jogou pelo Barça. Nas duas pelo PSG pelo que não pôde jogar pelo metatarso quebrado.

Mas não foi só pela ausência de Neymar e pelo injustificável atraso para Cavani entrar num time que sentiu a ausência presencial de Draxler, e a pior partida de Mbappé (ainda que dando o gol de empate ao ótimo Bernat, aos 11, no ousado 3-2-4-1 de Tuchel).

O United não tinha Pogba, tolamente expulso em Manchester. Não tinha os lesionados Martial, Lingard, Matic, Mata, Herrera, Alexis Sánchez, Valencia, Darmián. Nove desfalques. Não lembro de outro grande tão desfalcado num mata-mata. Obrigado a chamar cinco da base pra completar o banco.

Poucas vezes vamos lembrar de outro jogo tão inesquecível. Não é vitória do tostão contra milhão porque o United e colosso. PSG quer ser.

Mas futebol também tem disso. Tem Kherer atuando como zagueiro pela direita e querendo entregar o croissant para o monstruoso Lukaku passar por todos e fazer 1 a 0 United a 1min51s apenas. Plantando ainda mais o time inglês no 4-4-2 com escalação nunca antes feita. Pra não dizer mesmo um 5-3-2-0. Porque Lukaku e o excelente (porém discreto) Rashford jogavam do meio pra trás. Bailly era lateral-direito secretariado por Young para impedir o apoio do lateral Bernat que não era ala. Era ponta como Daniel Alves. E assim empatou aos 11.

O PSG buscou mais o jogo e o gol. Parecia ele o necessitado. Mas foi o United que desempatou aos 29. Quando Buffon fez algo que não faz. Falhou ao largar a bola pro imenso Lukaku marcar 2 a 1.

Na segunda etapa, mais do menos. O PSG com 80% da bola. Mas apenas duas chances. O United desde os 32 com Dalot espetado e Young mais atrás pra blindar Bernat. Esperando e especulando. E como o próprio Solskjaer na decisão de 1999, saindo do banco para aos 44 finais chutar uma bola que bateu no braço direito de Kimpembe que estava de costas. Escanteio pro United. Não pro VAR.

Árbitro foi ver. Kimpembe que marcara o primeiro gol dele em Old Trafford esperando o veredito lancinante. Pênalti.

Eu não marcaria. Pela distância e velocidade da bola, não vi intenção dele. Não achei que tivesse deixado o braço pra aumentar a área do corpo.

Mas compreendo qualquer interpretação contrária. Como a de Jorge Iggor e Bruno Formiga na transmissão que fizemos pelo Facebook do Esporte Interativo, quando se atingiu 868 mil vendo o jogo naquele instante de quebra de recorde e paradigmas.

Eu não teria marcado o pênalti. E aceito e compreendo demais quem pensa diferente nesse lance. É interpretação. Toda ela válida. Respeitável num mundo em que pouco se respeita.

Inclusive quem tem história como o United.

Eu mesmo tinha apostado no Instagram antes de a bola rolar em Paris. Eu dava 95% de chances pro PSG. 4% pro United.

E 1% pro milagre.

Um por cento para o menino de 21 anos que bateu como gigante que será Rashford. Vestindo a camisa que vive de passado porque tem história.

Vencendo Buffon que em 2018 vencia com a Juventus dele o Madrid no Bernabéu por 3 a 0. Levando o jogo impossível à prorrogação. Até o pênalti discutível marcado. A expulsão dolorida do maior goleiro que vi. E o golaço de pênalti de CR7 classificador.

Buffon que não vi falhar como errou no segundo gol. Buffon que não teve como defender o pênalti de Rashford.

Futebol que tem dessas histórias. United que tem demais história.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

Blog do Mauro Beting