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Blog do Mauro Beting

Torça pra quem você quiser. E mande o bedel de torcida pro epidídimo de onde foi excretado.

Mauro Beting

09/07/2019 11h02

Torça pra quem você quiser. Torça contra quem você quiser. E mande para o indevido lugar o sommelier de torcida, o grão-mestre dos malas que diz para quem você deve torcer, e corneta se você torcer para quem você quer.

Esse perfil de bedel de arquibancada pulula e polui as redes antissociais. Em tempos de Seleção, é o que hashtagueia #chupa para quem eventualmente torceu contra o Brasil por motivos de Brasil, futebol, Neymar, Tite, CBF, clubismo, bairrismo, raiva, descaso, cansaço, saco cheio, baixo nível e até por política, por identificar na camisa amarela do Brasil uma ligação indireta com o presidente do país e/ou com a ideologia dominante.

O profeta do pensamento único (se pensa tem que ser plural) vira torquemada de Instagram se um brasileiro torcer pela Argentina por motivos de Argentina. Ou Messi. Aguero. Dybala. Maradona. Tango. Fito Páez. Borges. Les Luthiers. Darin. Buenos Aires. Alfajor. Dulce de leche. Sei lá.

Mas esses intolerantes sabem ainda menos.

Torcer é incondicional. E jamais merece repreensão.

Sou bisneto de italianos e alemães. Só não torço por eles quando jogam contra o Brasil. Fiquei menos triste pelos 7 a 1 por ser Alemanha. Fiquei menos arrasado pelo Sarriá em 1982 por ser a Itália. Fico envergonhado mas também feliz pelos títulos sob Mussolini em 1934 e 1938. E nem Médici estraga o nosso México em 1970.

Na Itália sou Palestra. No mundo sou só Palmeiras. Não gasto torcida. Mas gosto de alguns times, "torço" até por eles, mas não pelos clubes. Cresci com o Bayern tricampeão da Europa. Amava Beckenbauer, Breitner, Maier, Muller. Se o termo "modinha" estivesse em voga naqueles dias de "lacração" (perdoa, Pai…), talvez me chamassem de modinha. Porque o Bayern era uma novidade no início dos anos 70. Um PSG de hoje. Um Manchester City desde o final da década passada. Um Chelsea desde 2003.

Normal e compreensível quem cresça e torça por eles. Tanto quanto torcer pelo Manchester United a partir dos anos 90. O Ajax este ano. Ou em 1995. Ou antes mesmo do Bayern, nos anos 70.

Como ninguém pode chamar alguém que não nasceu na Baixada Santista de "modinha" por começar a torcer pelo Santos no final dos anos 50.

Ou virar são-paulino com Telê. Virar palmeirense com a Parmalat ou mesmo agora. Flamengo por Zico e companhia ilimitada. Corinthians com os títulos além de São Paulo a partir de 1990.

Deixa torcer.

Pelo amor de Deus. E pelo seu.

Ou tudo bem: desde que só você não torça mais também. Ou não ame mais sua família.

A escolha é tão sua quanto é minha.

Em qualquer campo. Pergunte pro Vampeta. Ele fala na Jovem Pan abertamente o que não poucos campeões mundiais pensam. Eles torcem contra a Seleção que defenderam em Mundiais para se manterem no grupo seletíssimo dos campeões de Copa.

É dele. E de outros que não admitem.

Inadmissível é só quem quer mandar no coração dos outros. Ou mesmo no fígado e no cotovelo.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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