A torcida pela qual eu torço
FC Union Berlin foi fundado no ano em que nasci. 1966. Para não dizer no mês em que fui concebido. Três anos depois do nascimento da Bundesliga.
A gênese do clube, de fato, é 60 anos mais antiga. De 1906. Uma associação de operários. E, desde então, uma entidade com "filiais", sobretudo depois do Muro de Berlim ser erguido em 1961, separando a cidade e os mundos, os sócios e atletas. O lado ocidental do sentimento teve vários nomes. O oriental ficou sob a órbita soviética. Mas independente demais para as autoridades. Ainda mais tentando lutar contra a hegemonia do Dínamo de Berlim, ligado à polícia política Stasi.
A unificação alemã em 1990 não virou o jogo. O clube faliu em 1997. Reorganizado desde então, esta temporada superou o Stuttgart no rebolo e chegou enfim à divisão de elite alemã.
Trazendo à Bundesliga o mesmo espírito caseiro da Copa de 2014, quando mais de 800 sofás foram levados ao gramado do seu estádio pelos seus torcedores para ver no telão os jogos do tetra mundial. Fazendo de seu lar a sua casa. Como desde 2003 celebra o Natal em suas arquibancadas misturando cantos futebolísticos e natalinos.
Esse espírito se viu enfim na primeira rodada da Bundesliga 2019-20. Clássico da região contra o Red Bull Leipzig, clube que os torcedores desprezam pelo aporte econômico que dá asas ao rival. Derrota dolorida por 4 a 0.
Mas o que vai ficar do primeiro jogo do Union Berlin é o que a turma da casa mais uma vez fez em seu lar. Estiveram presentes 22.012 torcedores. Mas o público pagante foi de 22.467.
Evasão de renda ao contrário! 455 pessoas a mais pagaram ingresso.
O clube fez a promoção com sua torcida: quem pagasse por um ingresso a mais teria direito de levar para a arquibancada uma foto gigante da pessoa amada que não pôde ver o seu Union Berlin na Bundesliga.
A mesma torcida que há anos ajudou financeiramente o clube dando e doando sangue em campanhas agora deu o mais lindo exemplo de amor e amizade a quem partiu sem ver o sonho.
Levando para campo suas fotos como levou seus sofás para a Copa no Brasil.
Essa é a única torcida única possível.
Já tenho um time pelo qual torcer na Bundesliga. Ou melhor: uma torcida pela qual torcer em 2019-20.
MELHOR ESCREVE ANDRÉ AVLIS
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Eu não lembro muito bem da minha primeira vez no estádio de futebol.
Mas lembro das outras. Inúmeras. Várias.
É como uma "cicatriz boa". Estará sempre ali para te lembrar.
Fui com meu avô, meu pai, meu tio, minha mãe.
Sempre era algo especial. Nunca era igual.
Vi meu time pela primeira vez ao lado de quem amo.
Hoje, amo muito mais meu time. E enormemente quem já amava.
O time do Unión Berlin tem 53 anos e nunca participou da Primeira Divisão Alemã.
Em sua estreia, vários apaixonados não estavam.
Pois estão no céu. Não puderam estar em corpo.
Mas estavam em espírito e em fotos.
Pais, filhos, avós, mães, levaram imagens de quem não podia estar lá. Em forma física.
Esse amor é inexplicável. As lágrimas são de: Obrigado!
É a "cicatriz boa". Momentos que são eternizados e "reeternizados".
Lembranças daquilo que nunca era ou será igual.
A saudade misturada com gratidão.
O amor e a paixão.
O eternizar em mais puro estado de espírito. Presente.
É como eu disse, são as "cicatrizes boas".
Necessárias.
Para mostrar que, nunca estaremos sozinhos.
E que nunca devemos esquecer de quem amamos.
MELHOR ESCREVEU ANDRÉ AVLIS
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