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Blog do Mauro Beting

Parabéns, Corinthians, por me fazer ser muito mais Palmeiras

Mauro Beting

01/09/2019 13h14

Hoje eu não vou escrever "parabéns" pelos 109 anos de Corinthians porque os que torcem comigo vão torcer o nariz mais uma vez ou até distorcer os meus votos sinceros. Quem é Corinthians pode achar hipocrisia. Que eu quero jogar pra galera. Que sou mureteiro. Marketeiro em vez de marrento passador de marreta. Passador de pano. De vergonha.

Essas excrescências que o mundo que polarizamos além da conta produz.

Mas não vou deixar de dar parabéns pelo que vocês são e eu sou do outro lado da cidade e da amizade.

Polos opostos que se atraem. Como na Linha Vermelha do metrô paulistano: a que começa na Palmeiras-Barra Funda e termina na Corinthians-Itaquera. Ou é o contrário. Depende do ponto de partida. Ou do fim dela.

O fato é que um não vive sem o outro. Pra um viver melhor o outro tem que sobreviver pior. É do jogo. É da nossa vida.

Por isso dou os parabéns por vocês serem tudo que não somos. E vice versa e o campeão prosa. Nestes dias dias de intolerância e ignorância, entender e respeitar o outro lado é essencial para a gente entender o que somos.

Tão bom pra nossa gente quanto ganhar é vocês perderem. A recíproca é real, rival.

Parabéns, irmãos de outras cores e credos. O que sentimos por vocês mostra toda a grandeza da nossa rivalidade. Respeitar vocês é respeitar as nossas diferenças que nos fazem tão iguais.

ADENDO

Vou respostar meu texto ATUALIZADO dos 105 anos de Corinthians, acrescentando homenagem devida a um mito que cresceu demais nos últimos 4 anos.

Reposto também porque recebi em vários grupos de WhatsApp a versão de 2015, que foi publicada no fórum do MEU TIMÃO e que, como sempre, pelo enorme alcance do portal, gera muita repercussão.

Segue o texto ATUALIZADO

Vai, Corinthians!

Eu nunca fui.

Mas sei que tem um bando que vai sem ter como, quanto, quando, porquê.

Vai sem saber pra onde ir. Mas vai sabendo que importa mesmo é a jornada. Sempre é tudo e nunca é nada mesmo quando o Ronaldo em 1974… Quando o Zinho em 1993. E depois o Evair, o Edilson e de novo o Evair soltou a voz…

Quando o misto verde no Rio-São Paulo de 1993….

Quando o Rivaldo em 1994…

Quando o Marcos em 1999. E em 2000…

Quando o Prass em 2015…

O Romeu nos 8 a 0 em 1933. O Caetano Izzo no primeiro Dérbi, em 1917…

Foi tudo pra nós exatamente por vocês serem tudo pra nós.

Quantas vezes eu não gritei mais feliz pelo meu time vencer o de vocês.

Mas quando em 1954…

Quando Adão fez o pecado daquela virada inesquecível em 1971 que eu não lembro. Quando o calcanhar de outro Adão nos tirou do sério em 1989.

Quando em 1979 na canelada do Biro-Biro eu chorei.

Quando em 1982 eu fui vocês por vocês serem a Democracia em preto e branco.

Quando em 1988 o Viola foi Paulista…

Quando em 1990 o Neto foi Brasil eu só não fiquei um ano refugiado por ser jornalista esportivo havia seis meses.

Ainda bem.

Ajudou a suportar aquele gol de Elivelton em Ribeirão Preto em 1995. O de Marcelinho Carioca em Porto Alegre.

Eu estava lá.

E vocês estiveram por todo o Brasil em 1998. Em 1999. O mundo todo em 2000.

Não ganharam Libertadores? Foram invictos em 2012. Mundiais de novo em 2012.

Caíram feio em 2007? Subiram bonito desde então.

Ganharam estranho em 2005? Ganharam em 2011 erguendo o punho ao céu com o doutor Sócrates.

2015 com Tite. 2017 com Carille. Sempre com vocês corintianando.

Ganharam em 2018 calando a nossa festa interna com ou sem interferência externa.

Vocês são insuportáveis.

Como nós somos quando ganhamos de vocês.

Vocês que "nunca seriam" foram. Vocês que "nem a pau" paulista, brasileiro, Libertadores e Mundial.

Vocês que "não têm estádio" têm arena e têm muitas contas a pagar.

Mas vocês têm crédito.

No centenário não tinham Libertadores e nem estádio do tamanho. Em 109 anos têm tudo e mais muito a ganhar.

Vocês viraram o jogo e as jogadas. No grito e na garra. No Neto e no Gamarra. No ritual e na raiva. No Neco e no Rivellino. No suor e no saber. No Ezequiel e no Sócrates. No apuro e no apito. No Luizinho e no Marcelinho. No gogó e no gol. No Gilmar e no Ronaldo em casa, Dida e Cássio pelo mundo. Na alma e na arma. No Wladimir e no Jacenir. Na bola e na bala. No Tévez e no Guerrero. Na mídia e no mundo. Sem meios e sem modos. Casagrande e senzala. Maloqueiro e Doutor Osmar.

Quase todo mundo não gosta de vocês.

Todo mundo não quer ver vocês. Todo mundo é anti pra vocês.

Por que será?

Preconceito? Desprezo? Despeito? Receio? Medo? Raiva? Inveja? Ciúme?

Como pode um time tão amado ser tão odiado?

Talvez por ser algo além do amor que vocês têm.

Mais que ter amor pelo Timão, vocês têm Corinthians pelo Corinthians.

Deve ser isso. Vocês Corinthians o Corinthians.

Um substantivo que é verbo. Adjetivo. É tudo. Resume todos.

É mais que amor. É Corinthians.

São vocês.

Um bando de loucos.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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