Red Bull Bragantino, a linguiça energética

Vice brasileiro em 1991 dirigido pelo treinador que seria tetra em 1994 com a camisa geométrica do carijó. Campeão paulista em 1990 e campeão da Série B em 1989 com um dos maiores treinadores da nossa história com a camisa branca que a Nike estampa na parte de cima na série especial.
Era o Bragantino dos irmãos Chedid que hoje um dos filhos dele fez parceria com o Red Bull. Essa potência que dá asas e mais uma série B 30 anos depois. Refazendo no Brasil as energéticas parcerias de inegável sucesso pela Europa. Mudando histórias de clubes na Áustria e na Alemanha. Alçando voos e patamares que não só o dinheiro consegue. Também trabalho e planejamento. Como bem executado no Brasil do Red Bull Bragantino. Cada vez mais Red Bull. E ainda de Bragança.
Problema? Nenhum.
Entre a primeira eleição de Nabi Abi Chedid a deputado estadual em 1966 até a ascensão à elite nacional a partir de 1990, as melhores campanhas do Braga eram em anos eleitorais. Nabi usava o clube como palanque. Normal. Fazia parte da política. E do negócio. Não era abuso de poder econômico. Era do poder político. Algumas vezes um despudor público.
Não conspurca agora a injeção de adrenalina do Red Bull. Se o Grupo Globo vai chamar o clube como ele tem de ser chamado – Red Bull Bragantino a partir de 2020 -, são outros 500 que ninguém do RBB, opa, Red Bull Bragantino vai comprar cota master.
Se o "torcedor-raiz" vai se recusar a seguir torcendo pelo novo clube-empresa, mais empresa do que clube, todo o direito dele. Ele deve ser neto de quem não torceu mais por um clube quando o grande campeão paulista Paulistano deixou o futebol com a troca do amadorismo pelo profissionalismo. Quando os atletas de futebol do clube do Jardim América se juntaram aos da AA das Palmeiras e fundaram em 1930 o São Paulo Futebol Clube.
Cada um faz o que quiser e o que bem entender. Até o que não entende ou não quer entender.
Não torço pelo Braga. Aliás, não mesmo, desde aqueles 3 a 0 do SP-89 num sábado de junho que iriam eliminar o meu time. Mas torço demais para que novos investidores, empreendedores, empresas e gente com dinheiro, ideias e sobretudo ideais entrem em campo.
Não quero novas MSI ou mesmo o que se tornou depois a Parmalat. Quero dinheiro como quero justiça. Transparência e eficiência. Gente boa com dinheiro bom na mão.
Como lá fora mudaram a vida do Chelsea, do Manchester City e do PSG. Para citar exemplos mais vitoriosos.
Claro que nenhum deles teve o nome trocado. Cores mudadas. Branding reformulado além do razoável. Mas algum torcedor agora vai se opor aos novos patamares deles, clubes mais tradicionais e com muito mais condições, torcida e história?
"Red Bull Bragantino" não me parece aberração histórica, desrespeito desportivo, abuso de poder econômico, unfair-play financeiro, doping e anabolizante nas contas. Se o novo gestor-dono tiver o respeito à velha e bela história do Massa Bruta, os brutos vão virar o jogo. A massa vai jogar junto e será enriquecida como já é o clube. Mais do que Etti Jundiaí ou Lousano Paulista, os nomes comerciais do Paulista que voltaria a ser Paulista até chegar a uma Copa do Brasil em 2005.
"Ah, mas e se o seu time virar Parmalat-Palmeiras, ou Crefisa-Palmeiras? Você vai gostar???!" Pois é. Virou sem ter virado. E foi maravilhoso. E tem sido ótimo.
"Vendido"! Não. Até porque somos Sociedade Esportiva. Temos parceiros desde a compra do Parque Antarctica em 1920 (indústrias Matarazzo), e na reforma do Palestra em 2010 (WTorre e Allianz). De 1992 a 2000 tivemos a cogestão com a Parmalat. Desde 2015 mais do que patrocínio com a Crefisa. Sorte do Palmeiras. Ainda que sujeito a discussões e trovoadas. Culpa de palmeirenses e de parceiros nessa PPP privilegiada.
O que não pode é exigir – com muita razão – profissionalismo e vociferar com paixão juvenil quando um grupo forte e com tradição e experiência na área vem jogar junto.
Ou vamos todos jogar a várzea ou não vamos ser apenas renumerados.
2020 vezes um Red Bull Bragantino em campo a um Nabigantino. Ou Betinguino. Milhões de vezes alguém que pague as contas em dia a quem não as paga em meses.
"Capitalista"! Não. Torcedor para um futebol melhor. E mais profissional.
"Você não respeita a história". No caso, prefiro respeitar a inteligência e refazer a história. Sem a conspurcar como delira a talibancada mais fundamentalista.
"Você vendeu o clube para um dono"! Desde 1966 ele tinha dono. E ou ele era "vendido" agora pelo patrão (que ainda apita institucionalmente) ou não tinha mais o que vender.
Hora de torcer para que novos Red Bull Bragantino entrem em campo. Novas parcerias façam tabelinhas de acordo com interesses mútuos.
Todo casamento tem suas diferenças. Não é 50% para cada lado. Mas precisa ser 100%. Como começou o namoro em Bragança.
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