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Blog do Mauro Beting

Como a Croácia supera os tempos extras

Mauro Beting

13/07/2018 12h11

Luka tinha seis anos quando a guerra bateu na porta da casa dele em Krusevo, cidade com duzentos habitantes, em 1991. O pai mecânico de aviões foi para o exército lutar pela independência da Croácia. O avô foi executado por rebeldes sérvios logo depois. A casa da família foi incendiada.

A mãe, Luka e os irmãos menores se refugiaram em um hotel em Zadar. Passavam os dias fugindo de granadas e bombas. Luka fugia do barulho jogando bola no estacionamento do hotel. No segundo em que foi morar até o fim da guerra, o gerente do Iz repete o que disse o seu colega do Kokevare: Luka quebrou mais vidraças com as bolas que chutava do que as granadas que estilhaçaram a antiga Iugoslávia até o final do conflito, em 1995.

No segundo hotel ele também jogava bola pelos corredores, repetindo o que aprendia na escolinha de futebol que o tio pagava com o dinheiro que já não havia.

Quando a independência foi conquistada, a família tinha pouco como o país. Mas o que sobrava servia para pagar a escolinha de futebol que levaria Modric para o futebol até o Real Madrid para conquistar a Europa quatro vezes. No sonho domingo para tentar ganhar o mundo que todo dia ele via explodir no hotel onde não era hóspede, era refém.

Rakitic nasceu na Suíça refugiado da guerra. Mandzukic, na Alemanha. Lovren saiu cedo da Croácia. A família tentou morar na Alemanha e não conseguiu. Voltaram para uma casa que não era mais deles. Como tantos refugiados do mundo sem lar e nem respeito. O zagueiro Corluka viveu a infância sem casa driblando a guerra e coleguinhas jogando bolas em campos esburacados ou minados.

Esses meninos agora são a Croácia. Não é tão difícil entender como eles superaram três tempos extras na Copa.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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