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Blog do Mauro Beting

Voltando à origem. Tottenham 0 x 2 Liverpool.

Mauro Beting

01/06/2019 22h35

Um segundo antes da foto, o filho de Origi estava jogando pra cima os papéis picados brilhantes no centro do gramado do Wanda Metropolitano. Fazia uma hora e meia que o pai recebera uma bola pela esquerda e havia batido cruzado, aos 42 minutos, vencendo o excelente Lloris na quinta chance do Liverpool no jogo que não foi o que se esperava.

Mas uma Champions tão insana e inesperada tem o "direito" de ter uma final chocha. Mesmo quando com 22 segundos um pênalti discutível é mercado de braço (em posição antinatural de Sissoko, mesmo depois de bater no peito) na bola virar a cobrança que Salah guardou, a 1min48s em Madri.

O Tottenham que jogava a sua maior partida em 136 anos levou mais um gol com menos de 7 minutos. Um a cada 4 gols sofridos pelo ótimo time de Pochettino em 2018-19 foi assim. A torcida murchou. O lado vermelho ganhou ainda mais no grito. O 4-3-3 usual de Klopp nem precisou fazer muita coisa mais na sonolenta primeira etapa. Dois avanços dos ótimos laterais Alexander-Arnold e Robertson em tiros de fora da área foram o que fez o hexa. Mais nada.

Até porque os Spurs fizeram ainda menos. Kane sentiu a longa ausência de 9 jogos por lesão no tornozelo. Também se mexeu pouco. Mas a bola não chegou. Erikssen não fluiu pela direita. Son fez pouco na primeira parte pela esquerda. Sissoko e Winks (que voltava a campo sem jogar desde abril) estavam travados. Como Rose pouco avançou e Trippier, mesmo pouco acompanhado por Mané e Wijnaldum, pouco criou.

(Não citei Dele Alli por dentro. Porque mais uma vez ele deu pra trás. Seria a minha escolha inicial. A atuação foi mais vergonhosa do que a minha defesa para a escalação dele).

Pior fez o ótimo Pochettino ao não mudar a equipe no intervalo depois de 45 minutos em que Alisson não sujou o uniforme. Ao menos o versátil Tottenham veio mais vivo. Son foi pra direita. Erikssen foi jogar por dentro. Dele Alli foi aberto pela esquerda. Mas o time só criou algo mais mesmo com a entrada tardia de Lucas Moura (substituindo Winks), aos 16. O brasileiro foi mais aplaudido pelos torcedores do clube do que Dele Alli no anúncio de seu nome antes do jogo.

Atuando atrás de Kane, com Erikssen corretamente recuado para armar, os Spurs melhoraram. Mas o melhor time e mais objetivo era o Liverpool que não precisou ter mais de 30% da bola para jogar mais e melhor. Também por ter um talento como Alisson para lançar bolas. E agarrar as que só chegaram a partir dos 33 minutos. Logo depois de Milner (que entrou para reforçar o meio fisicamente) perder a quarta oportunidade dos Reds.

O Tottenham cresceu. Llorente como centroavante ao lado de Kane (substituído o lastimável Dele Alli), com Lucas e Son abertos, fez fumaça. Só não fez gols porque Alisson fez pelo menos três grandes defesas. E o monumental Van Dijk anulou com enorme presença e inteligência belo contragolpe de Son. Lembrando aquele challenge monstruoso quando negou o gol a Son e Sissoko, em março.

O jogo estava mais equilibrado até Origi (que substituíra o discreto Firmino) manter a sua excepcional média de acerto de finalizações. Todo chute na meta rival tem sido gol. No caso, o do título.

O segundo que fez com que Henderson levantasse a sexta orelhuda em bela festa do Liverpool inteiro abraçado no gramado ao som da enésima tocante versão de "You'll Neves Walk Alone".

Seguida por Queen ("We Are The Champions"), lançada no mesmo 1977 do primeiro título europeu do Liverpool; logo depois tocou "Solsbury Hill", clássico de Peter Gabriel do mesmo ano.

Na sequência musical dos hexas, Coldplay, John Lennon ("Imagine" do filho de Mersey), e fechando a trilha com U2. "Beatiful Day".

Maravilhoso.

Mesmo com a partida fraca e de muitos passes errados de um Tottenham que não acertou o pé. Mas que fez uma linda história de ficção que quase virou realidade na Champions.

Dia lindo como deve ter sido para os filhos dos hexacampeões que fizeram festa no gramado com seus pais. Como Alisson que ficou até tarde falando com a família sentado no gramado.

Mas dele já se esperava tudo desde a defesa à queima-luva no tiro de Milik do Napoli, que quase eliminou o Liverpool ainda na fase de grupos. O goleiro que só brasileiro parece que não gosta faria mais milagres contra o Barcelona. E agora fez na Espanha a melhor atuação, abraçada no apito final por Moreno, pelo reserva Mignolet e, em segundos, por quase todo o elenco na final que Origi virou o "unsung hero".

O herói não devidamente celebrado.

O de dois dos quatro gols contra o Barcelona. O do gol que encerra discussões a respeito do melhor time.

O que Klopp dirige como se fosse uma família. Que se diverte como família numa noite de sábado no gramado. Jogando papel picado brilhante pra cima como criança.

Voltando pra origem. Pro berço campeão. Hexacampeão europeu.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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