Torcer também é um ato de intolerância
Mauro Beting
12/04/2016 14h33
Paraná Pesquisas perguntou a 4.066 brasileiros de 214 municípios e 24 estados. Para qual time você torce?
Deu o que se sabe há décadas, embora nas últimas três tenha crescido demais a torcida corintiana. Uma vez Flamengo, 16,5% Flamengo. 13,6% Corinthians. 7,6% o São Paulo de tantas conquistas nos últimos 25 anos.
Preocupa sempre os 19,4% que não torcem por clube algum. Fatia importante que não tem departamento de marketing que dê jeito. Ainda mais quem manda o torcedor deixar o sofá.
Interessante na pesquisa é a segunda pergunta: qual o time que você mais odeia?
É próprio do futebol. O mais amado é o mais odiado. O futebol tolera que se ame um clube e se odeie outro. Ou até mais a segunda alternativa à primeira opção.
Interessante a "vitória corintiana". 14,6% são antis. 8,6% são da turma do arco-íris que não gosta do Flamengo. Muito por conta de Eurico Miranda, o Vasco é o terceiro, com 5,9%. Palmeiras é o quatro colocado nas duas listas.
A goleada corintiana não é surpreendente contra a maior torcida do Flamengo. Quase todo mundo adora não gostar do Corinthians.
Todo mundo não quer ver Timão. Todo mundo é "anti" para o corintiano.
Por que será?
Preconceito? Desprezo? Despeito? Receio? Medo? Raiva? Inveja? Ciúme?
Como pode um time tão amado ser tão odiado?
Talvez por ser algo além do amor que eles têm.
Mais que ter amor pelo Timão, eles têm Corinthians pelo Corinthians.
Deve ser isso. O corintiano Corinthians o Corinthians.
Um substantivo que é verbo. Adjetivo. É tudo. Resume todos.
É mais que amor. É Corinthians.
São eles. Um bando de loucos
Mais que os rubro-negros que ainda são tantos mais. Mas parecem mais festivos. Alegres. Cariocas na melhor acepção do termo. No mais desbragrado estereótipo. O rubro-negro tem um quê de festa, de graça e até de tirar sarro que falta ao paulista de anedota.
Ele meio que se leva menos a sério. Não sei. Mas, nessa, por mais que "deixaram chegar", tem o seu ar de graça e mistério.
É diferente. Por isso acaba criando menos animosidade.
O corintiano também é diferente. Como são todos os clubes. Mas a alegria de um corintiano se basta só de ver outro corintiano pela vida. Ele celebra o Corinthians acima do jogo.
Ali é Corinthians. Fica difícil entender. Ainda mais medir o amor. E mesmo o desamor alheio.
Tem quem gosta de ser amado. A maioria. Mas também tem outra maioria que adora ser odiada. É Corinthians.
Sobre o Autor
Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério
Sobre o Blog
O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.