Mais sobre quem é mais odiado no futebol
Mauro Beting
13/04/2016 12h40
Sim. Criou-se a expressão "Apito Amigo" para o Corinthians. Obra desse papel de mala cabeçudo do santista Milton Neves. Craque também na arte de amar ser odiado. Como o próprio Corinthians. Como muitos colegas jornalistas.
Eu não quero ser amado. Como jornalista, menos ainda. Como comentarista futebolístico, ainda menos. Como torcedor assumido do Palmeiras, serei ainda mais cornetado pelos pares, parceiros e paredros do clube. Paredão onde o Mauro Beting palmeirense (antecessor do Mauro Beting pessoa jurídica jornalística) também gostaria de mandar o MB que corneta profissionalmente.
Faz parte. Como virou anedota que corintiano é tudo maloqueiro na pior acepção. É não educado. É bronco. Ganha só na marra. No murro. Na merretada. Com e por picaretas. Sem muro.
Ele ganhou campeonatos e são tantos e são todos. E isso também dá raiva dos rivais por arbitragens discutíveis. Por tapetões puxados ou sujos. Pelo estádio que enfim saiu por obra da Copa. Por manobra do presidente corintiano petista e do petista corintiano ex-presidente. Mais uma obra da Odebrecht. Só ela e o amor ao Corinthians constroem o que os adversários querem ver destruídos. Destituídos.
Estádio que custou os nossos olhos da cara. Casa que ainda é de todo o povo pelos empréstimos tomados (que estão sendo pagos) e pelos CIDs que estão tombados.
Existem motivos para reclamar do poder público que adora o poder do público corintiano. Há razões para odiar a mídia que ama a audiência que o Corinthians dá. Jornalistas que fazem média, babam-ovo, adulam, bajulam, pagam-pau ao Timão que nos paga indiretamente.
Tudo isso me chamam e me xingam pelo chorume que dizem que escrevo quando elogio o Corinthains, os corintianos, o corintianismo. Essa profissão de fé e de fiéis que faz dos profissionais do jornalismo leais propagadores do todo-poderoso timão zica das catracas e dos ibopes.
Também por essa percepção rival ele é o mais odiado. Com ou sem razão. Ou só emoção.
Como eu odeio a capacidade do Duvivier de fazer quase tudo muito bem como o Adnet e o Porchat. Odeio o George Clooney por tudo que ele pensa, faz e ainda tem estoque perpétuo de Nespresso. Tenho raiva do Bono por compor o que decompõe meu decoro.
Tenho raiva do Maluf por se achar santo. Tenho pena do país que consegue perder o que tem de bom de tantas bolsas e costura com o que há de pior de tantos Bolsonaros. Vão todos tomar do Cunha, dá vontade de berrar nesse país que não teria o que temer. Só o Temer. Questões de acento. E onde ele vai tomar assento.
Dilma erra demais na Seleção. Dunga não acerta uma no Planalto. Assim mesmo, nessa falta de ordem. A dos fatores não altera o PIB.
Mas eles devem sair? É tudo isso mesmo ou a gente é que não sabe mais debater e entender o outro lado?
Como jornalista, sou obrigado a ser plural. A ouvir os vários lados. A procurar a melhor versão possível dos fatos. E, como comentarista, a dar uma opinião entre tantas.
Mais que tudo, a ouvir todas as possíveis.
O resto é o risco que vivemos. A falta de democracia. O desvirtuamento do debate. O desvio das práticas. O risco de riscar sem provas.
Sobre o Autor
Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério
Sobre o Blog
O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.