E se Guardiola treinasse o Atletico de Madrid e Simeone, o Bayern?
Mauro Beting
10/05/2016 09h01
O obsessivo, intenso e tático Simeone precisava tirar na Alliaz Arena a derrota que o organizado, ousado e também tático Guardiola impusera em casa, no Vicente Calderón.
Simeone se manteve fiel ao 4-4-2 bávaro. Neuer; Lahm, Benatia, Alaba (sem o lesionado Boateng) e Bernat fizeram a sólida linha de quatro defensiva, com os laterais se projetando mais à frente e para as triangulações pelas necessidades de tirar o 1 a 0 contra de Madri. Neuer pôde atuar ainda mais à frente, com a linha de marcação mais alta.
Na intermediária, Simeone escolheu jogadores tanto de posse quanto de velocidade. Mas todos com um olho na bola e outro no adversário: Thiago Alcantara e Ribèry pelos lados, Vidal e Xabi Alonso por dentro.
À frente, Lewandowsi e Muller, enquanto Douglas Costa e Coman foram ensarilhados como armas de destruição em massa para o segundo tempo. O brasileiro podendo atuar como um dos atacantes ou como um dos meias pelos lados.
Se Simeone faz do seu Bayern um time mais previsível e pragmático, menos espetacular, mas igualmente eficiente e, digamos, bem alemão, Guardiola dá aos colchoneros algo além de grandes placares e resultados. Um tanto mais de ambição. Ousadia. E o risco que é inerente ao jogo. Qualquer jogo. Além da beleza da troca de passes com objetividade.
A escalação e o time variam mais que os de Simeone no Bayern, mesmo não tendo tanto elenco. Ainda assim é clube que investiu 136 milhões de euros. O que não é fichinha. Em Munique, Guardiola montou o Atleti com a defesa tradicional. Talvez se tivesse com o ainda lesionado Tiago, pudesse escalá-lo na zaga. Mas a solidez de Gimenez e Godin se justifica. Assim como Juanfran e Filipe Luís nas laterais, onde Pep não tem tantas alternativas.
No meio, o móvel 4-3-3 de Guardiola manteve Gabi para gerar jogo como o 5 tradicional de Pep – dentro do que há de "tradicional" nas equipes dele. Saúl e Koke foram os meias internos: sem a bola são volantes que sabem como ocupar espaços; com a bola são meias que pensam a troca de bola colchonera. Bem de Guardiola.
No tridente ofensivo, Carrasco seria opção como foi no Calderón. Mas melhor apostar no mais seguro pra hora: Correa e Griezmann pelos lados, mas se mexendo muito, e Torres aproveitando a ótima fase e o poder de decisão.
Uma equipe ousada como costuma ser Guardiola, até o próprio limite da ousadia. Contra um time pragmático além da conta, como vê e vive o futebol Simeone. Duas escolas distintas. Um confronto que encaixa e fica ainda mais equilibrado e sem prognóstico.
Seria mais natural ver Pep no banco de crédito ilimitado do Bayern e Simeone no também rico mas mais comedido caixa forte do Atleti. Mas nem sempre se tem tudo no lugar e na hora certa…
Afinal, e se fosse o contrário? Quem garante que saberia o resultado final?
O que se imaginava, porém, foi o que se viu em mais 90 minutos de não tirar o olho da bola e da tela. Simeone atacando com consciência e ligeireza e objetividade exaustiva com o Bayern. Guardiola tratando bem a bola e tentando ficar com ela o máximo possível. Atletico propondo o jogo com intensa troca de bola dos três do meio e movimentação de Griezmann (por vezes o quarto homem do meio pela esquerda), e o Bayern abusando da bola em Lewandowsi, com Muller e Vidal se multiplicando, e Ribèry e Thiago fazendo de tudo.
O jogo lá e cá rendeu o esperado. Em casa, com mais qualidade técnica, o Bayern levou a melhor, com gol de cabeça no segundo tempo, em belo cruzamento de Douglas Costa para a chegada de Lewandowski. DC entrou muito bem no lugar de Ribèry.
Nos pênaltis, sem o critério do gol qualificado que nem sempre premia a melhor equipe, Neuer fez a diferença contra o ótimo Oblak e classificou o Bayern de Simeone.
Duelo equilibrado que não significa a vitória de um time pragmático contra outro mais, digamos, espetacular. Foi apenas o sucesso em 180 minutos, e mais pênaltis, de uma disputa que não tem vencedores definitivos.
E jamais terá. Mesmo se a gente quiser inventar outros critérios. Tipo: e se Guardiola treinasse a fortaleza do Bayern? Será que ele seria "invencível"? Simeone não se daria melhor com o elenco e espírito colchonero?
O ótimo do futebol é poder conjecturar com qualquer coisa. E, mais importante: não chegar a conclusões "definitivas" de nada.
Sobre o Autor
Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério
Sobre o Blog
O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.