Opinião de um babaca
Mauro Beting
15/06/2016 14h51
Juninho, seja Neymar Jr.
Pai. Adulto. Não "pai de família", que os "homens de bem" desvirtuaram com tantos bens não declarados pelo país e outros paraísos.
Você precisa crescer. E vai amadurecer. Sua segunda postagem depois da primeira que você mesmo sabe que foi infeliz é ótima amostra do cara que você é – é muita gente mal sabe. Não saia pelo mundo chamando o planeta de babaca. Pode e deve defender os companheiros com quem você não pôde estar na Copa América. Mas não precisa sair atacando quem – com razão – cobra mais futebol, placares, dedicação, conhecimento, reconhecimento.
Eu sei quanto você quer jogar pelo Brasil. É tanto quanto o muito que você joga. Mas não é tanto quanto as pessoas te cobram. Isso é algo que só você pode mostrar. E tem talento para tanto. E vai ter de se esforçar ainda mais para isso.
Mas sempre pela bola, não pela boca.
Não é justo, algumas vezes. Mas é o imposto que se paga não só ser um craque. Mas por se um astro tão pop quanto o novo amigo Bieber. Ele pode quebrar suítes. Você não deve nem dormir nelas. É injusto. Mas é a taxa que a luta por taça cobra da pessoa física que precisa do físico e da química para dar liga.
Ronaldinho, Ronaldo e Romário não tinham redes sociais para postar. Já falaram o que você disse. Já pensaram e ainda pensam até pior. Mas os times deles seguravam a bronca. Eles tiveram mais companheiros e comandantes qualificados para levantarem a bola, canecos, taças e latinhas, e também levantar a voz – quase sempre baixando o nível.
Rede social é para fazer o que você e a competente assessoria fizeram na segunda postagem. Até quem não é babaca estava bravo com o Brasil. Não era só quem torce contra. É quem torce pelos pentas. É quem torce pelo Brasil. É quem gosta de futebol e, por tabela, adora seu jogo.
E quer te idolatrar. Desde que você entenda que até Pelé foi criticado e xingado. É também foi injustiçado. E ele foi tri. Com um monte de gente ótima. Nível de colegas que você não tem.
Sei que você não concorda. No nosso papo na PLAYBOY você deixou claro isso. Você se irrita quando dizem que a sua geração só tem você. E, para alguns, nem você.
Quando você é suspenso na Copa América de 2015, sou obrigado a concordar com eles. Quando você se irrita demais em todos os campos, mais ainda.
Sei que é fácil não se irritar fora de campo. Mas é outro tributo que você precisa pagar.
Como ler o que escreve outro cara que adoro como gosto de você. Meu amigo Menon, aqui do UOL:
Fala, Luís Augusto Símon:
ESCREVE MENON
"Não sou um babaca. E não escrevo merda. Não tenho problemas com o fisco.
Sou um jornalista de muitas qualidades e que construiu uma sólida carreira escrevendo sobre futebol e outros esportes.
O futebol nos une, Neymar. Você tem o dom de jogar bola. Um dom que poucos tem. Eu o escalaria em todas as seleções brasileiras de 1958 para cá. As outras, talvez. Eu nunca, repare bem, nunca fui o penúltimo a ser escolhido na pelada da rua lá de casa, na esquina da Washington Luiz com a General Osório. Sempre fui o último. E apenas porque eu era o dono da bola.
Não sei jogar, mas sei escrever. E foi acompanhando a seleção brasileira que conheci muitos países. Fui a três continentes. E, neles todos, de país em país, conheci o respeito que o futebol brasileiro construiu.
A seleção, Neymar, é – ainda é? – uma representação de nossa Pátria. Eu soube disso em minha primeira competição. Uma Copa América. A do Equador, em 1993.
Não me lembro o jogo. Chovia. Um equatoriano, um senhor gordo de mais de 60 anos perguntou se eu era brasileiro.
Respondi que sim.
Ele começou a chorar.
Por que o Júnior não deu um passo para a frente, por que ele não deixou o Paolo Rossi impedido?
Não entendi, de imediato.
Ele explicou que estava em Sarriá em 82. E que aquela derrota marcou sua vida. Não se conformava com a derrota, que considerava uma traição ao futebol. Disse que, a partir daí, passou a ir em todas as Copas torcer para o Brasil. Sonhava com o dia de ver o Brasil campeão do mundo. Tomara que tenha realizado seu sonho em 94.
Entendeu, Neymar por que a camisa amarela é importante? Por que ela tem um lugar especial no imaginário popular?
E aí é que entra minha preocupação. Não é mais amada pelos brasileiros, como antes.
Pudera.
É muita roubalheira. Muita. Ricardo Teixeira não pode sair do Brasil. Del Nero não pode. Havelange não pode. Marin saiu e pegou cana.
A gente é pobre, mas é limpinho.
Não gostamos de sonegadores de impostos. Aliás, tomara que você consiga regularizar a sua situação.
Muita gente torce para a seleção perder para ter seus jogadores de voltas. Amam o clube e não a seleção. E o motivo não é só a roubalheira. É a falta de futebol e, em parte, pelo seu comportamento.
Como disse o amigo Rodrigo Bueno, Neymar, você não sabe ganhar e não sabe perder.
Quando está por cima, vai de carretilha, chapéu, rolinho e tudo mais. Defendo e sempre defenderei o seu direito de fazer isso. E nem entro no mérito se é para frente ou para o lado. Não quero te limitar. Mas, que há uma grande dose de arrogância, não se pode negar. Você não tem respeito, você gosta de humilhar. Você não acrescenta dignidade ao futebol.
Quando está perdendo, você faz bico, cara de choro. Lembra da Copa América do ano passado? O Brasil perdeu por 1 a 0, você se irritou e chutou a bola em Armero. Foi expulso, sofreu uma bela multa e deixou os companheiros. Voltou para o Brasil. Bem, estavam pipocando os seus problemas com o fisco e a gente entende…
E na Copa do Mundo? Sofreu uma falta violentíssima de Zuniga. Ficou fora da semifinal com a Alemanha. Quando a goleada começou, você foi jogar pôquer;
E agora? Não pode ir à Copa América, mas deu uma passadinha por lá com o Justin Bieber. Depois, foi embora. E, no dia do jogo, estava em uma festa. Você viu o vexame? Eu vi.
Você, craque, é um dos responsáveis pelo mau momento do amor do povo pela seleção.
Os santistas não te perdoam por aquela transação mal feita. Você já era do Barça e defendeu o Santos em uma final contra o…Barça. E mais. Você e seu pai deram um balão no Santos, vamos falar a verdade? Ficaram com 90% e deram uma merreca para o clube.
O Brasil não aceita seu comportamento como capitão. Você não é um Zito, um Mauro Ramos de Oliveira, um Bellini, um Dunga… Você deixa os amigos ao léu. Você é um menino mimado, um hedonista.
Você precisa crescer, Neymar. Virar homem. Comandar a nossa seleção. Caso contrário, por mais que jogue, muitos vão te considerar um babaca que fala merda."
ESCREVEU MENON
Não concordo com tudo que o Menon escreveu, Juninho. Aliás, não concordo com muita coisa que ele escreveu. Até por conhecer você, sua família, sua assessoria, seu Instituto, suas vontades, algumas de suas necessidades. Sou mesmo suspeito para falar, por ter escrito a autobiografia de você e do seu pai, em parceria com o colega Ivan Moré. Sou mesmo suspeito. De tanto que sou fã. E do tanto que conheci de vocês.
Mas entendo quem pense como o Menon. Até por ele ser um Neymar do jornalismo esportivo. Um craque que, como todos nós, adora futebol. Ama a Seleção. E quer o melhor para ela.
Ele não é um babaca, Neymar. Nem todos que criticam são babacas. Mas juntando tudo no mesmo saco (e haja saco para tudo!), assim você dá mole e dá banana para as macaquices dos babacas. Dá razão aos que babam sandices.
De fato, só vocês atletas sabem o que passam para chegar à Seleção – ainda que alguns não mais a tratem como prioridade. E, de fato, você é mesmo do bem ao assinar as desculpas pela manifestação irada, no mesmo Instagram, dias depois.
Esse é o Neymar Jr. que conheço e reconheço. Um craque que tem de responder pela bola. Não pela boca.
(Só escrevi a respeito hoje por saber que você iria se retratar. E também por não ter cabeça e nem muito peito por ter perdido hoje de madrugada o meu amigo e colaborador Daniel Barud, 18 anos. Aquele menino com fibrose cística para quem você mandou um autógrafo e força).
Sobre o Autor
Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério
Sobre o Blog
O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.