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KKK. Klose Kroos Khedira. Do 1 a 7 ao 171

Mauro Beting

08/07/2016 13h05

KKK.

Klose, Kroos, Khedira.

KKK.

Não é piada. É triste.

KKK.

Não é pra rir. KKK. E muito menos chorar como tanto se lamentou na alegria e na tristeza em 2014. KKK é sigla das mais deploráveis da humanidade. KKK muitas vezes é argumento paupérrimo em discussão de rede social. KKK é risada. Pode ser alegria. Ou alergia à inteligência.

6min40s. O tempo que começou para a Alemanha (e parou o Brasil) para Klose se transformar no maior artilheiro das Copas no segundo gol. Para Kroos aparecer livre para fazer o terceiro gol. Para Kroos roubar a bola em nova falha de Fernandinho e fazer o quarto. Para Khedira receber do impedido Ozil para fazer o quinto gol.

Quatro gols em 6min40s.

Teve um gol antes de Muller sozinho pela desatenção de David Luiz. Teve mais dois depois de Schurrle para fechar a conta chula e de mentiroso que foi pura realidade: sete.

A um.

Gol de Oscar no fim do único jogo histórico das Copas que não durou 90 minutos. Acabou aos 28min48s com o quinto gol alemão no Mineirazen.

Não importa o que aconteceu depois, quando muito tempo depois do que mandava o bom senso Felipão trancou a equipe um tanto mais, equilibrou um jogo que os alemães largaram já pensando na mais definida final antecipada desde 1930, e, ainda assim, venceram o segundo tempo por 2 a 1. A maior derrota em 100 anos de Seleção. E nos próximos 1000.

Sim, Ainda haverá Brasil. Seleção. Mais títulos mundiais. Ainda fabricamos do nada como mamonas craques. Mas não podemos ser tão bananas. Nem tão babacas metidos a bacanas. Todos nós. Precisamos aceitar a realidade. E entender que quando não somos os melhores, e não éramos em 2014, é preciso ter humildade para reconhecer. Para planejar. Treinar. E jogar.

Faltava o capitão discutido Thiago Silva na semifinal. Faltava o indiscutível Neymar até a partida final. Mas faltou muito mais coisa no Mineirão e em má parte da Copa.

Não foi a tristeza irreparável do Maracanazo de 1950. O sentimento do Mineirazen de 2014 é tão difícil de definir como foi indefinida a marcação na entrada da área brasileira. Foi o único jogo de Copa que vi com meu caçula. Entre o quarto e o quinto gol (ou seria entre o terceiro e o quarto?), falei para ele que trocava as lágrimas pela risada nervosa da perplexidade que ainda não tínhamos visto juntos uma partida do Brasil em Copa do Mundo. Aquilo não era o Brasil pentacampeão. Mas era a Alemanha tetra. Chocolate com cerveja que a transmissão oficial poupou da dor após o quarto gol. Nenhum torcedor mais foi mostrado depois da quarta tunda.

Faz parte. Por mais partido que tenhamos ficado todos. Não cabia no gerador de caracteres da Fifa a lista dos sete gols alemães. Foi tão impressionante que mal deu tempo para sofrer. O Brasil não perdeu por W.O. Foi deletado por um grande time com quase oito anos de trabalho em excelente atuação. O Brasil não borrou a história pentacampeã, nem foi ao W.C. por temer um time que foi avassalador.

Faltou muita coisa no Mineirão. Sobrou tudo para a Alemanha. Ainda tem tempo para consertar. Mas sem cobrar além da conta uma geração jovem semifinalista. E respeitando bastante um tetra como Parreira, um penta como Felipão.

Não é para caçar bruxas e bagres. É hora para refletir a respeito da Seleção e do futebol brasileiro. E chegar a conclusão que dois anos passaram. E quase nada mudou. E, se mudou, foi pra pior. Foi além do 1 a 7. Foi mais para 171.

Fora de campo, o Brasil foi tetra com Ricardo Teixeira e penta com um dos coconspiradores do FBI. Foi tri mundial com o ex-sogrão do ex-presidente da CBF como ex-presidente de ex-honra da Fifa. Já fizemos lindo com muita gente fazendo coisa feia nas tribunas (mal)ditas de honra. Fizemos de qualquer jeito a preparação para 2002 e ganhamos. Fizemos direitinho em 2006 e perdemos. Fizemos o que era possível no quartel de 2010 e perdemos. Cantamos lindo o Hino em 2014 e… Não sabemos se estaremos em 2018 – acho que iremos para a Rússia. Mas de que jeito voltaremos de lá e de outros lugares como senhores deste mundo eu ainda não sei. E quem deveria também não sabe.

Dois anos depois do fiasco, ainda não estreou na Seleção quem deveria ter assumido depois do fracasso. Tite vai pegar um Brasil sexto colocado nas Eliminatórias. Duas vezes derrubado precocemente na Copa América. Apenas com Neymar afirmado – embora desgastado. Com Douglas Costa e P.Coutinho ganhando maturidade. Mas Thiago Silva perdendo espaço, e poucas soluções no meio-campo e na defesa para tantos erros recentes.

Mais que futebol e talento, falta humildade para reconhecer que os únicos bobos que restam no futebol são os que acham que ainda existem bobos do outro lado.

 

 

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Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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