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A Invasão Corintiana foi de cinema. Agora é filme

Mauro Beting

25/09/2016 10h57

Corinthians entrando em campo em 5 de dezembro de 1976

 

Dizem que foram 70 mil corintianos para o Rio de Janeiro naquele domingo, 5 de dezembro de 1976. Disse um dos entrevistados tricolores de "1976 – O Ano da Invasão Corinthiana" (quinta-feira estreia nos cinemas) que a cada dia são milhares a mais de alvinegros no Maracanã, e que a capital paulista virou cidade fantasma naquela semifinal do BR-76: todas as almas corintianas estavam ou foram ao Rio, empataram por 1 a 1 o clássico no aguaceiro com a Máquina do Fluminense na puxeta de Ruço, e defenderam os pênaltis vencidos pelo Timão por 4 a 1 pelas mãos de Tobias.

Mas tenham sido mais que 70 mil, ou provavelmente menos (também por rubro-negros, vascaínos e botafoguenses que ajudaram o Corinthians a dividir as arquibancadas), o que houve então, na invasão por ponte aérea, terrestre, e se fosse possível marítima ou intergaláctica, é coisa de outra dimensão. Não se tinha na época. Agora é possível captar a essência e tamanho do que foi 1976 no belo e tocante trabalho dos diretores Ricardo Aidar e Alexandre Boechat.

"Tobias or not Tobias"! como estava escrito na faixa levada por um dos 10 mil torcedores que foram receber a delegação em Congonhas depois da classificação para a final do BR-76. Tobias que lembra não imaginar jamais o que foi visto quando o Timão entrou em campo no gramado. "O Basílio subiu um pouco antes ao gramado e viu que tinha bastante gente. Mas jamais imaginávamos aquilo. Nem quando eu e Moisés vimos no ônibus a caminho do Maracanã um ônibus, dois ônibus, três ônibus, um monte de ônibus do Corinthians, a gente imaginava a emoção que tivemos quando entramos em campo. Até hoje fico arrepiado de ver o estádio cheio e dividido. E levou mesmo uns cinco minutos para a gente conseguir controlar aquela emoção".

Sensação que o documentário mostra em esmerada reconstituição de época. E na bela sacada que foi refazer de Kombi-69 a jornada de três torcedores que invadiram o Maracanã ao lado de um dos maiores personagens daquela vitória épica. O Fluminense era muito mais time, jogava em casa (ou nem tanto…). Mas São Pedro tabelou com São Jorge e empoçou o gramado impraticável no segundo tempo. Levando para os pênaltis defendidos por Tobias, e treinados durante a semana pelo Corinthians. O Tricolor achou que definiria em 90 minutos jogados – não molhados. O Corinthians de Duque sabia ser inferior. Marcou direitinho, aproveitou-se do dilúvio, e ganhou nos quatro pênaltis bem batidos, e três bem defendidos por Tobias (um dos de Rodrigues Neto foi repetido). São Jorge que também tabelou com entidades e guias escalados pelo Pai Guarantan, em história muito bem contada pelos personagens presentes.

Você pode achar exagero isso tudo – e foi mesmo um exagero histórico. Pode lembrar que a invasão também se deveu aos então 22 anos de fila, às carências corintianas na época. Ok. Mas isso tudo amplia ainda mais o mérito e a marca. Não havia rede social para marcar nada. Só havia presidentes geniais como Francisco Horta (Fluminense) e Vicente Matheus (Corinthians) para animar e atiçar torcidas. Mas tudo aquilo vai muito além de jogadas de marketing que não existiam – e jamais se repetirá o que aconteceu.

Nem se outra vez o Corinthians ficar na fila. Nem se o Fluminense montar outro senhor time. Nem se.

O mais lindo de tudo é que tudo que aconteceu foi em paz. Tudo.

Não houve briga antes, durante ou depois. Apenas alegria. De todos os lados.

Emoção que o documentário consegue contar a quem não viu – e jamais verá igual. Sentimentos que quem não viu passará a conhecer pela obra. E quem, como eu, viu, e depois soube muita coisa, muito mesmo eu só fui aprender com essa aula de futebol e de cinema da produtora Canal Azul (a mesma que assina outros títulos oficiais do Corinthians, Santos, e os que fiz em parceria com eles, do Palmeiras e da Seleção Brasileira). Mais que tudo, podemos aprender muito com essa lição fidelíssima de paixão.

Como disse um dos entrevistados, e como já escrevi por aqui algumas vezes:

"O Timão entrar em campo é mais emocionante que um gol do Corinthians".

"1976 – O Ano da Invasão Corinthians" é retrato em preto e branco disso. Não precisou ser campeão em 1976 contra o campeão com melhor desempenho na história do Brasileiro – o Inter de Falcão e Minelli. Precisou estar presente. Precisou ser Corinthians.

 

 

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Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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