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Obrigado, Messi. E não seja obrigado a nada.

Mauro Beting

24/06/2018 17h09

Messi, eu nunca te pedi nada porque eu não torço pelos seus times – nem torço contra. Não torço pra ser sincero nem por você. Torço pelo seu jogo. O nosso jogo. O que ninguém neste planeta jogou melhor do que você. Pelé é de outro mundo. Neste em que Cristiano é o maior e mais objetivo atleta, você é melhor do que Maradona. Mas não maior. Especialmente para quem torce por você e pela Argentina. Ninguém será mais argentino que Diego para tungar na mão grande a Inglaterra das Falklands em 1986 minutos antes de D10S conquistar o mundo das Copas com o gol de todas elas, o segundo gol. O maior de todos em Mundiais.

Uma amiga tenta explicar que é o inferno astral que te acomete em torneios internacionais disputados pouco antes e depois do seu aniversário celebrado neste domingo. Pode ser uma explicação cósmica para alguém universal como você. Outros dizem que você está tanto tempo na Espanha que não lembra mais o que é ser argentino na essência. Podemos citar a falta que faz Xavi no seu jogo, a que fará Iniesta no seu time, a ausência de Aguero na sua Argentina, o WO de Di Maria, o despreparo da Albiceleste descolorida… Guardiola distante. Você distante, Messi.

Muito distante.

Do Messi que amamos. Do futebol que adoramos. Da genialidade que admiramos. Do goleador que respeitamos. Do driblador que louvamos. Do Lionel que não se vê – mas não se vaia. Apenas se lamenta como ele parece largar quando nada dá certo para ele e para a Argentina.

Gosto de observar detalhes e entrelinhas. Mas sou míope. Não enxergo longe. Nem gosto de ver dentro das pessoas. Tem um lindo texto que o Tales Torreaga aqui do UOL postou do psicólogo argentino Oscar Mangioni a respeito da "indivisão". A queda da capacidade de fazer o que muito bem se sabe pela pressão externa que implode internamente um ser humano. Algo desumano de tão humano. Por mais super-herói que pareça o Messi blaugrana. Não o menino de Rosário.

O que precisa mostrar desde o hino nacional que ele se importa com o país que há 18 anos deixou para conquistar o mundo a partir de Barcelona. Não pela Argentina natal. Seleção que nada vence desde 1993. E que perde uma final Mundial e duas continentais seguidas e só se vê como derrota. Não como conquista.

Hermanos que exigem de Messi o que cobraram de Maradona em 1982 e o endeusaram em 1986. Diego que dá baforadas com seu charuto no camarote de Copa como se fosse uma nuvem pesada sobre o chico que foi treinado por ele em 2010. Não é culpa de Maradona. Mas essa fumaça tóxica parece recair sobre os ombros de Messi. Jogando ou tentando jogar bem contra a Islândia. Não jogando e muito mal se escondendo contra a Croácia.

Messi não é líder como foi Maradona. Não é ícone como ele. Não se pode exigir que ele lidere no vestiário e no gramado como se fosse um caudilho como Passarella, ou um Deus como Diego. Esse não é Messi. E ninguém pode exigir que ele seja. Nem Pelé, do planeta que veio, é líder. Isso não se exige. É. Ou não é. Messi não é. Nem deveria ser.

Ninguém sabe o que passa pela mente de Messi. Mas a bola dele não mente. Precisamos respeitar e admirar. Como a Argentina precisa ainda mais se fechar com ele. Ao lado dele. Em torno dele.

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Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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