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Ghiggia. O pai que nunca falou ao filho do Maracanazo.

Mauro Beting

17/07/2018 10h22

Fez 68 anos em 16 de julho. Você já sabe… Friaça 1 x 0 para os "campeões do mundo"… Schiaffino empatou para a seleção campeã mundial em 1930 e bicampeã olímpica em 1924 e 1928..: Ghiggia escapou pela direita e bateu no canto de Barbosa…

Maracanazo. 1950. A única derrota sem volta no futebol.

Tudo isso você já soube. Mas o que Alcides Ghiggia levou quando partiu há exatos 3 anos, quando completavam errados 65 anos do Maracanazo (e ele foi o último sobrevivente da maior vitória uruguaia e do mundo), nem o filho Arcadio soube.

Em um clássico entre o Peñarol dele e o Nacional, em 1952, sobrou um chute pelas costas do árbitro Latorre. Quando ele virou para ver o agressor, só viu Ghiggia por perto. Ele foi expulso e suspenso por 15 meses.

A suspensão só foi revista 8 meses depois, quando a Roma o levou para a Itália em 1953 para jogar por 8 temporadas, e ser campeão nacional no único ano pelo Milan. Também defendeu a Squadra Azzurra por 3 anos. Nos 9 na Itália teve de se defender dos paparazzi e do que adorava viver com paixões de todas as idades.

Jogando pela Roma não pôde jogar a Copa de 1954 pelo Uruguai onde atuou apenas 12 vezes e marcou 4 gols – todos na Copa de 1950. (Mundial que ele quase não jogou se tivesse acertado contrato com a Atalanta…)

Negócio com a Itália dos pais genoveses de Alcides (da terra da mãe que ele lembrava com uma foto que deixava no calção) só saiu mesmo em 1953. E só porque a federação uruguaia reduziu pela metade a pena de 15 meses. Discutida por muitos que disseram que não havia sido Ghiggia o agressor.

Anos mais tarde, o filho Arcadio (nomeado em homenagem ao colega e capitão da Roma Arcadio Venturi) perguntou a ele o porquê de o pai não ter se defendido da acusação de agressão. O homem que calou o Maracanã explicou: "vou levar para a tumba o nome do companheiro que chutou o árbitro".

Faz três anos que não sabemos quem foi. Mas se imagina que não tenha sido quem chutou aquela bola entre Barbosa e a trave em 1950. A mais grave do futebol brasileiro.

A história que milhões conhecem. Mas Arcadio só foi saber mais velho, quando o pai voltou da Itália, em 1962, para jogar até os 42 anos pelo Danubio. Quando os novos colegas no Uruguai souberam que Arcadio era Ghiggia, perguntavam do Maracanazo. O filho de Alcides não soube responder. Um dia perguntou ao pai. A resposta: "Teve um Mundial em 1950 no Brasil. Eu joguei pelo Uruguai. Fizemos alguns gols. Eu fiz um gol".

Não falou que era o da virada. O do título. Não falou que ele marcou nos quatro jogos uruguaios na Copa.

Alcides nunca mais falou a Arcadio sobre 1950.

Não por acaso nunca falou o nome do colega agressor em 1952.

Ghiggia aprontou muito. Mas nunca apontou para ninguém.

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Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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