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Blog do Mauro Beting

O Brasil de 1982 era tudo isso mesmo?

Mauro Beting

31/05/2016 08h20

FALCÃO empata contra a Itália. FOTO ABRIL

Era tudo aquilo. E muito mais. 

Se a Copa fosse em 1981, quando a Seleção venceu como quis amistosos contra Inglaterra, França e Alemanha, lá mesmo na Europa, Luciano do Valle teria gritado "é tetra" na Globo, 12 anos antes da célebre narração de Galvão Bueno. 

Mas não foi. Perdendo o Brasil, a qualidade do futebol mundial saiu derrotada em 1982. Foi uma derrota coletiva maior que qualquer outra em Copas. A Holanda em 1974 deixou bom legado – embora nem eles mesmos conseguiram emular a excelência do sumo da Laranja. A Hungria de 1954 deixaria frutos para o Brasil de 1958. Mas a derrota do time de Telê foi usada como muleta tática para que mulas dos bancos nos amolassem com muitos jogos aborrecidos nos anos 80-90.  

Este texto responde ao comentário no FB a respeito do meu post A DERROTA DE SIMEONE NÃO É A VITÓRIA DO FUTEBOL. Ele é do dentista Leandro Paulo, de Garanhuns-PE:
"O Brasil de 82 ganhou na dificuldade da URSS, venceu os "extraordinários" escretes neozelandês e escocês para finalmente ganhar da Argentina (algo tão comum quanto um CRB e CSA).
O time de Simeone tirou Barcelona e Bayern e jogou melhor que o Real Madrid.
Cansa demais associar grandes times unicamente com a seleção de 82."

Caro Leandro, associei a lembrança de 1982 apenas para citar um time – e sem deixar de enaltecer a Itália de Bearzot. O post não era a respeito de grandes times derrotados. Citava apenas um que realmente, ao perder, deixou o futebol mais pobre, com a ideia de que não é bom "jogar bonito e perder".

 A Hungria-54 era outra equipe notável, de longa hegemonia, e que perdeu para rival menos qualificado. A Holanda-74, não. A Laranja Mecânica, de fato, durou um mês brilhante. Nem antes, e nem na Euro-76, ou mesmo no vice na Copa-78. 
Quando a Holanda perdeu em 1974, foi para a dona da casa. Já campeã mundial – hoje tetra. Uma senhora Alemanha que tinha a base campeã europeia do Bayern (seria tri). Uma baita seleção com Maier, Beckenbauer, Breitner, Overath, Gerd Muller. Time que realmente jogou melhor que a Holanda na final em Munique. 

O Brasil de 1982 foi o melhor time de uma grande Copa. Das melhores de todos os tempos. A URSS era ótima. E foi prejudicada pela arbitragem no primeiro jogo tanto quanto o Brasil na falha do goleiro Valdir Peres no gol deles. A Escócia era time chato, vencido também de virada, e com categoria. Nova Zelândis foi treino. Não conta. 

Ótima vitória contra a Argentina então campeã mundial, com o mesmo time de 1978 mais Maradona e Ramón Diaz, mas mal preparada fisicamente, e sem espírito de Copa. 

Contra a Itália, falhas de craques como Cerezo e Júnior em dois gols, erros de arbitragem (para os dois lados), um certo individualismo em lances de ataque, o espírito ousado do treinador e da equipe, a qualidade do rival, e a "estreia" de Paolo Rossi depois de quatro sofríveis apresentações "explicam" Sarriá. Quando o bonde desgovernado de Rossi resolveu jogar. Marcou seis gols em três jogos. Foi artilheiro, craque e campeão da Copa em 270 minutos. A maior virada individual de todos os Mundiais. 

O Brasil de 1982 não foi tudo isso mesmo que se esperava antes de a bola rolar. Mas é tudo aquilo que merece elogios e aplausos. Ganhar o mundo sem conquistar a Copa é para aquele time, para a Holanda de 1974 e para a Hungria de 1954.

Essas equipes e mais detalhes da Itália de 1982 e da Alemanha de 1974 eu apresento melhor no meu livro AS MELHORES SELEÇÕES ESTRANGEIRAS DE TODOS OS TEMPOS, da Editora Contexto, em colaboração com André Rocha, Dassler Marques e Gustavo Roman. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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