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Blog do Mauro Beting

Eles estavam lá. Brasil 1 x 1 Alemanha. 5 x 4 nos pênaltis

Mauro Beting

20/08/2016 20h40

Aquelas traves quadradas de madeira do Maracanã foram trocadas no início dos anos 1960 por modelos arredondados. Ordem da Fifa. Diretor do estádio, Abelardo Franco resolveu doar o material para um novo funcionário do futuro Mario Filho: Moacyr Barbosa. Goleiro do Brasil no Maracanazo de 1950. Goleiraço que levou nas traves da direita das cabines o gol de empate de Schiaffin0, e o da virada fatal de Ghigghia. Nenhum deles foi  culpa do maior goleiro da história do Vasco. Mas até morrer, Barbosa foi declarado "culpado".

Moacyr Barbosa não gostou do "presente" de intenção mais duvidosa  que o gosto do patrão. Relata o colega Bruno Freitas, no ótimo livro "Queimando as Traves de 50", na história contada primeiro pelo goleiro a Roberto Muylaert; quando ganhou as traves malditas, Barbosa não quis papo, só churrasco: queimou em Ramos as metas de madeira em uma ceia para os amigos.

As traves da direita do Maracanã. Aquelas onde Gotze fez o gol do tetra mundial alemão, em 2014. Aquelas 0nde a muito bem armada Alemanha sub-23 de Hrubesch, que não veio completa ao Rio-2016 (mas tem um treinador há 16 anos trabalhando a base), mandou três bolas no travessão no primeiro tempo. Quando a Alemanha chegou mais vezes que o Brasil. Mas foi Neymar, aos 26min21s, que bateu uma falta de Zico no Maracanã, chutando todas as zikas, zicas, urucas, abutres. Um golaço de Neymar.

Aos 28min48s, dois anos antes, houve um jogo que não se devolve, não se compara, não tem revanche, não tem revide, não tem Copa, não é sub-23; nesse exato momento, estava 5 a 0 Alemanha. Nesse momento, a foto mostra abaixo, o Brasil olímpico trocava bola na defesa. Esperando uma Alemanha que ao final dos 45 minutos iniciais mandaria três bolas naquelas traves.


Três bolas no travessão.
Os deuses da bola voltaram a tabelar com o Brasil. Mesmo que, aos 13min36s do segundo tempo, falha na saída de bola de Walace, erro no bote de Rodrigo Caio, nova hesitação do zagueiro, falta de atenção do volante, tudo combinado deixou Meyer se sentir em casa, ali pertinho do Maracanã: 1 a 1.

Jogo lá e cá. Mais lá dentro de Horn que perto de Weverton. O Brasil acabou melhor, ainda que Gabriel não estivesse bem, e Gabriel Jesus, só um pouco melhor. Nos 30 minutos de prorrogação, o Brasil acabaria ainda mais próximo de fazer 2 a 1. Foram 10 chances brasileiras, oito alemãs. Uma grande partida, com ótimas atuações de Neymar e Renato Augusto. Uma pena que decidida nos pênaltis.

Onde? Na mesma meta à direita. 
Onde o Brasil das meninas fora eliminado na luta pelo ouro contra a Suécia. 

Na mesma meta onde um goleiro como Barbosa fora crucificado sem razão. 

Onde um goleiro do Acre onde as urnas demoram a ser fechadas nas eleições, um goleiro que também foi o último a chegar no grupo, foi o goleirão que é nos pênaltis. Do mesmo Furacão de Caju goleiro. Do mesmo pé apareceram as mãos de Weverton.

Substituindo um cara que todo jogo na Olimpíada e todo o jogo no Rio imaginei no lugar dele na meta. Tenho certeza absoluta que ele esteve lá em todos os momentos ajudando o colega. Por isso, também, a nossa meta enfim foi conquistada.  Ele esteve lá. Ele também é ouro como Weverton. É Prass. O nome merecidamente mais visto no peito dourado dos colegas campeões. 
É o Brasil de Neymar. O cara que não estava lá no Mineirazen. Se estivesse, possível que não mudasse o resultado, apenas o placar.

 

Ele fez muita falta em 2014. Mas a falta que ele fez em Horn, em 2016, é para guardar nos olhos e engolir o choro e as críticas.
E não queimar as traves. 

Até porque o nosso gol, o de Neymar, também teve ela sendo beijada antes de a bola entrar.

O Brasil enfim é ouro. Não o final. Mas o recomeço do futebol. De um treinador arejado e ousado como Micale. De laterais que atacam mas sabem guardar posição. De dois zagueiros muito eficientes como Marquinhos e Rodrigo Caio. De um volante que sabe jogar como Walace. De um todocampista como Renato Augusto. De um iluminado Luan que joga em todas. De Gabriel que é 100% Jesus. De um Gabriel que não foi tão gol. 

De um Neymar. De ouro. 

 

 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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