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Blog do Mauro Beting

O alguém mais do vôlei tri olímpico

Mauro Beting

21/08/2016 19h12

reprodução: TV GLOBO

O time de vôlei de Volta Redonda foi desativado há algum tempo. Em 2013, ele tinha um torcedor, corneteiro, "assessor de imprensa", motivador, pegador de bola, auxiliar técnico, exemplo. 

Nosso amigo Daniel Barud. 

O sonho dele era ser o que foi aqui no blog e em outros espaços. Jornalista esportivo. Esportivo mesmo. Manjava muito de futebol. E também de outros esportes. Sobretudo o vôlei que acompanhou dentro da quadra, na arquibancada, e pela TV. A fibrose cística que o levaria mais cedo não o deixou ser atleta. Mas deixou a quem o conheceu uma vontade de ser qualquer coisa. 

Ou melhor: ser igual o Daniel. 

Ele sabia que o jogo da vida era dificílimo como a semifinal contra a Rússia. Como a doença que o venceu em junho, o Brasil tinha poucas chances. Mas mestres como Júlia e Estanislau, os Bernardinhos do Daniel, são de ouro. Duas vezes ouro, duas de prata – que não dá para ganhar sempre. Mais dois bronzes femininos, e a primeira prata levantando a bola, em 1984. Como o Daniel sempre ergueu moral e sempre colocou as coisas certas, Bernardinho e os pais erguem catedrais. 

Barud não pôde viver como Escadinha. Nasceu aliás apenas dois anos antes do primeiro ouro do Serginho, esse menino gigante de quatro Olimpíadas e 40 anos. Mas ele se defendeu e nos defendeu, e ainda dando e se doando com os passes precisos e perfeitos como só quem tem a garra e a gana de Escadinha para ganhar todas. Agarrando chances. Lutando por pontos que todos já entregavam ou já achavam perdidos. Menos Serginho. Aquele que além de jogar por todos e pra todos, ainda chamou o grupo para tirar o Brasil daquela UTI contra a França. E eles jogaram também por ele. Como a família e os amigos se uniram pelo Barud.  

Daniel é Bruno levantador. Filho do homem, herdeiro de gênios, e que carrega sobre os ombros cargas que não merece. E as descarregou com garra. E armou com naturalidade. Superando-se. Como Daniel sempre foi além das limitações. 

Daniel é Lucarelli, outro que joga muito, e que precisou superar dores para atuar como um amador. Aquele que ama. E supera a dor da lesão nas quartas. Jogando por prazer. 

Daniel é Lipe. Estava no cantinho dele até ser chamado, devastar nos saques, e levantar o Maracanãzinho com a potência do cara que assume a bronca. 

Daniel é Lucão e também Maurício Souza. Podem atacar que eles vão bloquear. Vão subir antes, vão encher a mão antes, e vão honrar os gritos de Romulo Mendonça. "Ali, não, suas lambisgóias". 
Daniel é Éder. Evandro. William. Mauricio Borges. Douglas Souza. Campeões. 

Daniel é Wallace. Estava bloqueado? Ponto! Estava difícil? Wallace. Estava perdido? Wallace. Estava fácil. Wallace! E mais alguma situação? Wallace! 

E tchau, Rússia. E ciao, Itália. Favoritas despencadas e depenadas em dois 3 a 0. 

Para a festa que eu não esperava no vôlei. Para as vitórias que não eram prováveis. Tudo aquilo que eu deveria ter aprendido com o Daniel. Tudo é mais possível quando se sabe. E quando se quer até sem saber como. 

O sonho dele era ver o sonho que foi realizado por esses caras. 

O sonho que, agora, eu sei como eles conquistaram. Com aquilo que os atletas têm, e poucos, na história de qualquer esporte, conseguem extrair como Bernardinho. Com aquele tal do "algo mais" de cada um.

No caso, com o "alguém mais " que não pudemos ver na quadra. Mas sei que ele estava lá no Maracanãzinho. 

Você é campeão, Daniel. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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