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Blog do Mauro Beting

Meu nome é enea. Palmeiras 1 X 0 Chapecoense

Mauro Beting

28/11/2016 10h03

Palmeiras ganhando de novo o título em casa com inegáveis méritos, o treinador homenageia a academia de goleiros do clube e troca no fim da partida decisiva um profissional de caráter e carisma que ficou muito tempo fora por lesão pelo substituto natural. Sai Marcos e entra Diego Cavalieri. O Palestra vem abaixo em palmas e lágrimas. Como se o vovô-garoto rejuvenescido como um Zé Roberto (emocionantemente ovacionado pelo que joga e rala e fala aos 20 finais) desse o lugar a um moleque de futebol enorme como o futuro de Gabriel Jesus. Foi nos 5 a 0 na Ponte Preta. Maior goleada de uma final paulista. Em 2008. 

44 minutos do segundo tempo no Allianz Parque. BR-16. Fora desde que a dor de cotovelo por amor ao que faz o tirou do ouro olímpico e do Palmeiras, Fernando Prass, 38, está do lado do gramado que com as luvas ele guarda. Ele vai substituir Jailson, 35, ainda invicto no BR-16. A maior invencibilidade da história de palmeirenses nos Brasileiros que nenhum clube venceu mais.

Placa erguida. Sai 49 e entra 1. Entra um cara que chegou ao clube aos 34 e à Seleção pela primeira vez aos 37. O primeiro goleiro que o Palmeiras comprou desde 1994. Ano do último Brasileiro. Sai um palmeirense de berço que só estreou na Série A aos 35. Sai abraçado por todo o time. Vai pro banco abraçado por todos os reservas. Ovacionado pelo maior público que o Parque Antárctica já viu desde 1902, quando foi palco do primeiro jogo do futebol oficial no Brasil. O país que mais títulos mundiais tem. Casa desde 1920 do maior vencedor de títulos nacionais. Não é por fax e nem por fãs. É fato. É foda. É Palmeiras. 

O clube que faz goleiros foi ao mercado depois de 18 anos comprar Prass e Jailson. Um Prass que vai ser eterno Palmeiras como Zé Roberto e o capitão Dudu e Moisés (o melhor do BR-16) e Tchê Tchê (o melhor no 1 a 0 contra a Chapecoense). Um Jailson que nasceu Palmeiras e vai pra sempre guardar nos olhos como guardou nossa meta a paixão palestrina. 

Na nona conquista do Palmeiras, a Nonna dos meus Luca e Gabriel, a vódrasta da minha Manoela, sogra da minha Silvana, estava no estádio como esteve em 1993, contra o Vitória. Como esteve dona Lucila em 1973, contra o São Paulo. Como esteve a minha Mamma na Vila Belmiro há quase quatro anos, quando o Palmeiras inteiro entrou com uma camisa com o nome de Joelmir, que havia partido dois dias antes, em 29 de novembro de 2012. Uma semana depois da segunda queda. Quando Neymar me deu no gramado uma placa em nome do Santos em homenagem ao meu pai. Quando não lembro o que ele falou de tão emocionado que fiquei. Como não lembro o que Dudu falou ao microfone do trio elétrico na Paulista quando me viu no asfalto, celebrando o enea brasileiro, pouco antes de eu subir no caminhão e desfilar pelas ruas. Sempre em nome da Sociedade Esportiva Jornalismo. 

Dois dias antes da homenagem de Santos e Palmeiras ao meu pai, em 2012, eu havia lido um texto por mais de seis minutos na Rádio Bandeirantes, anunciando ao vivo a morte dele. Não chorei. Sabia ser irreversível o estado do meu pai. Mas não a vida, muito menos o futebol que tem gente pequena que insiste em minimizar e fazer mimimi e memes contra rivais igualmente gigantes. Em 2016, porem, 20 minutos depois da troca de Jailson por Prass no Allianz Parque, quase chorei ao comentar o fato pela Jovem Pan. Relembrando a troca de Marcos por Cavalieri, em 2008. Lembrando o que o saudoso amigo Bindi, na rádio 105 FM, então comentou a respeito, cantando "Una Furtiva Lacrima" pela cena que se repetiu como festa no Allianz Parque, oito anos depois. 

Foi a primeira vez que quase chorei no ar em 26 anos de rádio (onde trabalho por ser Palmeiras há 50 anos) Eu que sou filho do rádio (por meus pais se conheceram na rádio 9 de Julho). Onde, na mesma data e feriado, em 1960, Joelmir e Lucila começaram a namorar. No ano do primeiro título nacional do Palmeiras. A Taça Brasil. A primeira das nove do enea. A primeira que meus pais celebraram juntos. Meu pai que nasceu Palestra Italia, em 1936. Minha mãe que nasceu Palestra de São Paulo, em 1942. Ano da Arrancada Heróica do Campeão do Século XX. 

O maior vencedor nacional por ser um time de torcedores que muitas vezes se acham os maiores perdedores interplanetários. Só as meias brancas me tranquilizaram antes do jogo que merecia ser goleada contra o misto da Chapecoense, na melhor semana da história do clube catarinense. Grito de "é campeão" só se ouviu aos 38 do segundo tempo – e olha que o Flamengo ganhava do Santos e garantia o título desde o primeiro minuto de jogo no Allianz. É assim a torcida que corneta e desconfia. A que canta e vibra (e que de novo foi absurdamente proibida pela PM, MP e a PQP de fazer a festa da SEP no seu CEP na Palestra com Caraíbas) levou 37 jogos para ter confiança de gritar "é campeão". O palmeirense não sente cheiro de nada, não acha que o campeão voltou, ou que é contra tudo e contra todos. 

Aqui é Palmeiras. Basta. 

Festa e alegria no apito final que remetem à Pazza Gioia da primeira conquista. O Paulista de 1920. A Louca Alegria dos palestrinos pelas ruas paulistanas nos anos 20. O primeiro título do futuro Campeão do Século. Acabando com uma "fila de seis anos". Nada para quem estava até 27 de novembro 21 anos sem ser em nível nacional o que ninguém foi mais desde então – o maior campeão. 

Em 1994, com a Via Láctea da Parmalat. Quando ganhar o Paulistão ainda era muito importante. Título que o Palmeiras ganharia como nenhum outro com tantos pontos na era profissional em 1996. Voltaria a vencer em 2008. Palmeiras que ganhou Rio-São Paulo em 2000, a Copa dos Campeões no mesmo ano, três Copas do Brasil, uma Mercosul, a Libertadores, desde 1994. 

Mas o Brasileiro fazia tempo. Justo o primeiro entre paulistas e cariocas a ser campeão, em 1960. O Brasileiro que ninguém venceu mais desde a unificação da CBF, em 2010. O Palmeiras não sabia o que era desde 1994. Quando venceu de novo o Corinthians, no Pacaembu. E, agora, quando venceu antecipadamente o nono brasileiro na longa novena de orações de um campeonato que parecia conquistado desde os 2 a 0 em Itaquera. Quando o torcedor começou a represar o grito que só soltou na última semana. Esta que levou 21 anos para o palmeirense. E vai levar ainda muito tempo para os rivais lembraram e criticarem o nível do futebol de hoje, o Cucabol, o apito, o Marco Polo presidente da CBF, o Paulo Nobre do Palmeiras, a Parmalat, a Academia, e qualquer motivo que se use contra o time que Zé Roberto disse que é o mais gigante onde ele já jogou. Críticas que serão levantadas por mais anos enquanto o Palmeiras seguir levantando taças. Elogios que serão eternos como as trocas de goleiros e abraços. A passagem de bastão de gerações campeãs.  Como os filhos de Luís Pereira e Vagner Bacharel, que não viram os pais serem zagueiros do Palmeiras. Mas viraram palmeirenses que foram ao estádio ou às ruas vibrarem pelo time que os pais honraram.  Pela paixão de Palmeiras para os filhos. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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