Não basta ser pai. Tem de torcer junto.
A campanha é dos anos 1980. Gelol. "Não basta ser pai, tem de participar" era o slogan. Autoexplicativo.
Não sonhava ainda ser pai – embora achasse que a gente devesse nascer com filho. Ainda mais os meus. Mas, com os anos, e com o trabalho pesado, embora prazeroso, dentro do impossível, tento ficar o tempo que posso com a família. Com a graça que Deus me deu de, no segundo casamento, ganhar mais três filhotes que vieram com minha mulher.
Somos cinco. Meus dois palmeirenses como os avós e como toda a minha família – e a da mãe deles. Ganhei de enteados no novo casamento um são-paulino como o avô – mas tão tricolor quanto Barcelona; um corintiano como o pai mas que é light – ufa; e uma caçulinha linda e palmeirense como a mãe de olhos e coração verde.
Dei sorte em tudo. Mas não brinco com ela. Já vi muitos amigos e queridos colegas de ofício perderem os filhos para outros credos e cores. Como todos os domingos e quase todos os jogos estamos em cabines e gramados, mal conseguimos torcer juntos com as crianças em estádios e poltronas por nossos times. Muitas vezes, os filhos de jornalistas esportivos acabam cooptados pelos lados negros (ou tricolores, colorados, celestes, da força) e não torcem pela paixão que quase sempre levou os pais ao jornalismo esportivo.
Também por isso, desde sempre, meu filhos vão a jogos, treinos, eventos, o que for do Palmeiras.
E, também por isso, apesar da talibancada patrulheira das redes sociais, fui recepcionar Borja em Cumbica, seis da manhã de sábado. Já contei o episódio e a epopeia neste blog. Fiz questão de filmar, fotografar e não filtrar a história para que histéricos de todas as cores não usassem como usaram o fato como prova de clubismo, bairrismo, parcialidade, isenção zero, patrulhamento dez, sem noção mil grau.
Na minha folga, fui ao aeroporto com meu caçula numa festa palmeirense. Como celebrei o final da fila em 1993 até 9 da manhã. Como fui de gorro escondendo o rosto festejar títulos em 1993, 1994, 1996, 1998, 1999 e 2000. Como, desde então, resolvi mostrar a cara e o coração de peito aberto. E alviverde.
Não vou repetir o que digo sempre, que jornalista tem de torcer por um clube, só não pode distorcer por ele. Que clubismo não é torcer por um clube, e, sim, distorcer contra ele. Você já leu por aqui tudo isso.
Mas, quando você comprou seus sapatinhos da cor do clube e os pendurou na porta da maternidade, quando você comprou roupinha do seu time para o seu bebê, quando ensinou o Hino, quando cantou gritos da torcida, quando fez caretas para os rivais, saiba que também fizemos isso.
Só que nem sempre conseguimos gritar gols junto com os filhos. Dificilmente somos o ombro paterno na derrota, o papo de pai no empate, a alegria de família na vitória. Estamos longe. Trabalhando. E, algumas vezes, perdendo a prole para a concorrência…
Então, quando eu, PVC, Alex Muller e outros vão ser Palmeiras no estádio, quando Vitor Sergio Rodrigues e Mauro Cézar Pereira são Flamengo, Leonardo Bertozzi e Mario Marra vão ser Galo até na Argentina, quando Fabiano Baldasso e Rafael Serra saem com as camisas do Grêmio e do Inter do armário, como sempre fez o santista Odir Cunha, os corintianos Celso Unzelte, Juca Kfouri, Neto e Chico Lang, o vascaíno Garone, e tantos colegas queridos, por favor, pensam nas nossas crianças. Podem continuar xingando nossa mãe.
Mas garantam a alegria e a segurança de um pai.
Saudações paternas. E palestrinas.
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