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Blog do Mauro Beting

As viradas e remontadas. Peñarol 2 x 3 Palmeiras.

Mauro Beting

27/04/2017 00h58

Felipe Melo é homem de palavra. Muitas vezes mais homem que palavra. Prometeu com profunda infelicidade ao ser apresentado no Palmeiras: "se tiver que dar porrada, vou dar porrada. Se tiver que jogar no Uruguai e dar tapa na cara de uruguaio, eu vou dar. Lógico que com responsabilidade, porque não quero deixar o time com menos um". 

De fato, foi soco, não tapa, quando acuado por Mier. Não deixou – por ora – o time com 10, porque já havia acabado o jogo com grande virada do Palmeiras (e enorme virada de Eduardo Baptista na entrevista). 

FM cumpriu o que lamentavelmente prometeu – e já havia pedido desculpas pelo que falou. Mas os uruguaios guardaram no fígado. Foram para cima dele. Muito provavelmente com atitudes racistas, também. E quatro ainda foram covardes com Prass. O time ficou preso dentro de campo. O policiamento não existiu na arquibancada. A baixaria se viu no lançamento de cestos de lixo de lado a lado. Pela graça dos deuses de bola, e dos diabos da Conmebol, nada aconteceu de pior. E provavelmente nada de pior – ou mais justo – acontecerá. Sempre foi assim. Continuará sendo. 

Mas o jogo pode virar. Como o Palmeiras virou em Montevidéu. Mr. Chips contou: havia 254 jogos de Libertadores que um clube uruguaio não era remontado como foi virado no emblemático Campeón del Siglo. Depois de novo W.O. palmeirense nos 45 iniciais, também pelo estranho 3-3-3-1 piorado por pavorosas partidas de quase todos os 11 mal escalados, o Palmeiras voltou como Palestra no segundo tempo. No 4-1-4-1, com Michel Bastos na lateral, Tchê Tchê no meio com Guerra, Róger Guedes e Wilian pelas pontas, e enfim Borja abastecido. Willian na primeira bola fez um golaço. Na segunda, RG perdeu um dos maiores gols da história do clube. Como acabaria sendo antológica uma das maiores viradas. Mina se recuperou da falha de dois gols para empatar como sempre aparece em jogos decisivos, aos 16. O jogo ficou igual. Mas o Palmeiras, quando joga como Palmeiras, com o elenco que tem hoje o Palmeiras, fez a diferença, e virou bonito com Willian, aos 27. 

Como só não aconteceu na decisão da Libertadores de 1961, quando deu Peñarol. Antes e depois, o time carbonero perdeu como se perdeu ao final do jogo. Dez anos antes, pouco antes da conquista da Copa Rio de 1951, vitória no Uruguai por 2 a 1 com show de Jair Rosa Pinto. Em 1972, em Mar del Plata, vitória em torneio por 2 a 0, foi a primeira vez que Brandão acabou o jogo com a célebre linha que era uma rima que era uma seleção. Aquela de Leão a Nei. A Segunda Academia de Dudu e Ademir da Guia. 
Na Libertadores, o Peñarol não repetiria 1961. Na semifinal de 1968, o Palmeiras venceu duas vezes o rival. 1 a 0 aqui, 2 a 1 lá. Todos os gols de Tupãzinho. Em 1973, fase de grupos, vitória também em Montevidéu. Em 2000, nos pênaltis, com Sao Marcos no Palestra, não preciso dizer quem se classificou. 

Agora é dever enaltecer o segundo tempo palmeirense, espinafrar o primeiro tempo alviverde, recriminar a baixaria coletiva, e mais uma vez alertar que para defender as próprias cores não é preciso atacar as rivais ("com responsabilidade"). 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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