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Blog do Mauro Beting

Todos os caminhos levaram a Totti

Mauro Beting

29/05/2017 14h37

Mattia Almaviva é o capitão do sub-13 da Roma. Honra ao sobrenome do maior capitano

A caminho de Cardiff, só penso nos 25 anos de carreira no clube que Francesco franciscanamente amou como atleta e mais ainda como tifoso. "Doente" em italiano. Contagioso e contagiante. Leva à morte o tifo. Meu tio-bisavô morreu assim. Mas o tifo de Totti leva mais vida até pra quem é Lazio até a morte. Querendo lá no fundo do fígado ver vestindo a camisa rival figadal da Roma o capitano giallorosso. De um clube muitas vezes amarelo demais em decisões. De um torcedor que fica vermelho de raiva e até de vergonha pelas romadas de perder o rumo, das remadas que não são rimadas e muito menos ritmadas. 

Tudo que você precisa saber de Totti, Roma e calcio você vai encontrar no Quattro Tratti do amigo Braitner Moreira. Os oito vices italianos. Apenas um scudetto. Uma Liga dos Campeões disputada pela primeira vez apenas aos 26 anos. Uma só artilharia do calcio – embora esteja entre os maiores goleadores. 

Mais não conseguiu não por ele, campeão mundial em 2006 pela Itália, em Berlim. Mas pelo muro que blindou seu coração. Totti poderia estar na final da Liga de 17 no País de Gales. Poderia ainda atuar como reserva no Real Madrid que tanto o quis. Poderia ser opção de Allegri na Juventus que para esta temporada tirou o melhor do Napoli – Higuain – e o melhor da própria Roma – Pjanic. Como tantas vezes tentou tirar aquele gandula romanista que virou jogador, que virou goleador, que virou craque, que virou ídolo, que virou lenda, que virou nono rei de Roma. 

Talvez não seja nem mesmo o maior craque giallorosso num clube que teve Falcão de história brilhante. Não seria o maior do Madrid e da Juve. E do Milan, Inter, Manchester United e tantos outros colossos que tentaram comprá-lo. E outros tantos que nem fizeram oferta. Sabem que Totti é Roma. E a Roma não será a mesma sem ele. 

Por isso não foi só o Olímpico que chorou e se emocionou com a despedida dele. Não foi só o torcedor romanista – mesmo o romano da Lazio. Foi um pedaço de todos nós que gostaríamos de ser tão torcedores quanto ele. Tão bons como ele. Tão leais às nossas cores e credos. 

Ele certamente teria ganhado muito mais dinheiro e mais títulos se aceitasse algumas das tantas propostas que recebeu. Mas o que ele conquistou em Roma, amici, nem no Império. Na República. 
Roberto Piantino, companheiro de paixões pelo futebol acima dos clubes, sentiu o que viu: "Nunca vi um estádio inteiro chorar como ontem. E o Totti é o cara do bairro, o herói alcançável, palpável. Simples, até burrão, e extremamente​ humano. Ele dizer que tem medo do que vai ser dele depois do futebol, demonstrando uma fragilidade total, como se tivesse contando pro amigo confidente, mas era pro mundo todo". 
Puro Totti. Por mais impuro que fosse em campo. De deixar puto quem não é Roma. 

Todos os caminhos levaram a Totti. Que ainda nasçam ou se formem novos uomi-squadra

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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