Topo

Blog do Mauro Beting

Ofício CBF. Desagravo jornalismo e arbitragem.

Mauro Beting

28/07/2017 09h50

 

São Paulo, 27 de julho de 2017

 

 

A

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE FUTEBOL
 

Ref.: arbitragem na partida da Copa do Brasil ente Santos e Flamengo, de 26/07/2017

 

Ilustríssimo Sr. Presidente da CBF, Dr. Marco Polo Del Nero:

 

Venho, pelo presente, apresentar para vosso conhecimento, os fatos ocorridos ontem, 26 de julho de 2017, em partida de volta das quartas-de-final da Copa do Brasil, entre Santos e Flamengo.

 

 

Ocorre que aos 40 minutos do primeiro tempo, quando o placar da partida estava empatado por 1 a 1, o árbitro Leandro Pedro Vuaden anotou um pênalti do zagueiro Réver, do Flamengo, sobre o atacante Bruno Henrique, do Santos. Insisto: ele anotou a penalidade. Mas ele pode voltar atrás. A regra permite. O quarto árbitro tem autoridade para tanto. 

 

O árbitro estava a poucos metros de distância do lance e interpretou o contato do zagueiro com o atacante como faltoso e dentro dos limites da grande área. Embora, na minha interpretação (logo, discutível, porque subjetiva, como exige a regra do jogo), não tenha havido a infração. Mais de 1 minuto após de sua marcação (71 segundos), influenciado pelo 4º árbitro, Sr. Flavio Rodrigues de Souza, que estava na linha de meio-campo, a cerca de 35 metros da jogada, a penalidade foi cancelada, e o Sr. Vuaden determinou a cobrança de escanteio.

 

Novamente, estamos diante de um caso em que o árbitro revoga sua marcação por comunicação do quarto árbitro, cuja participação teria sido provocada (na opinião de muitos torcedores) pelo repórter de campo, Sr. Eric Faria, da Rede Globo de Televisão, que é elemento alheio ao certame, devendo se comportar como jornalista e não como torcedor de seu time do coração. Cono colega e amigo do jornalista, sem corporativismo ou coleguismo, atesto e dou fé: é dos mais corretos profissionais que conheço. De postura correta  no exercício do ofício. Jamais iria comprometer a credibilidade dele e da empresa onde trabalha interferindo acintosamente numa partida de futebol. 

 

Diretoria do Fluminense já se manifestou a respeito no ano passado, em caso rumoroso, mas já desmentido pelas partes envolvidas, que confirmaram o acirramento da discussão em rede social pelo calor da disputa. Não mais do que isso. 

 

Reportar ao 4º árbitro sua impressão do lance após ver replay na televisão não é função e nem atitude condizente com um jornalista esportivo. Não é mesmo. E não há prova alguma que até agora mostre tal atitude. Até porque o repórter de campo também não tem acesso às imagens. Apenas ouve o que os comentaristas da cabine e/ou do estúdio falam. Hoje em dia, com as discussões e cobranças ainda maiores sobre a arbitragem e a própria conduta da imprensa presente no gramado, os cuidados de todos são ainda maiores. Se já não se fazia isso antes acintosamente, cada vez menos tal atitude é possível de ser praticada. 

 

 Destaco que é a terceira oportunidade recente em que interferências de outros membros da arbitragem (não necessariamente externas) atuam na remarcação de lances capitais de partidas de futebol no Brasil, a saber:

 

▪ Fluminense x Flamengo, em 13 de outubro de 2016;

▪ Avaí x Flamengo, em 11 de junho de 2017;

▪ Santos x Flamengo, em 26 de julho de 2017;

 

Como torcedor, entendo que tais fatos poderiam até ensejar a anulação da partida, pelo bem do futebol nacional e da credibilidade da entidade que V.Sa preside. Mas como não há prova, apenas suposição, nada além de uma nota oficial podemos fazer. Apenas podemos lamentar o estado de coisas em que tudo podemos desconfiar pela falta de credibilidade geral das autoridades e personagens envolvidas em nossa vida pública. Suspeitamos de tudo. A presunção da inocência, princípio jurídico de ordem constitucional, infelizmente, se tornou apenas uma presunção nossa de "inocência" na acepção de "ingenuidade" nossa. Tudo e todos são culpados. Uma pena. Uma lastima. Somos todos responsáveis por esse estado de coisas. E não podemos ser ainda mais irresponsáveis de acusar sem provas, criando uma instabilidade insuportável, onde ninguém mais consegue trabalhar com tranquilidade. 

 

As decisões do árbitro são soberanas e a interferência externa não é autorizada pela FIFA ou CBF, tampouco recomendada pela comissão de arbitragem nacional.

 

Do ponto de vista desportivo e institucional, solicito as providências perante a comissão de arbitragem, para análise da conduta do árbitro e seus auxiliares, bem como junto a detentora dos direitos de transmissão sobre a postura de seus prepostos. 

 

Não obstante, solicito a V.Sa que tome as providências no sentido de:

 

a) Anular a partida – caso haja prova definitiva da interferência de elemento estranho à competição, e não apenas suposição, como até agora temos ciência. 

b) Proibir que repórteres se comuniquem com a equipe de arbitragem durante as partidas;

c) Punir adequadamente a equipe de arbitragem que atuou em referida partida – caso haja a prova cabal de interferência indevida, e não apenas as suposições atuais. 
 

Certo de sua compreensão e providências, firmo a presente com o respeito e as homenagens de praxe.

 

 

 

Mauro Beting, jornalista esportivo, fez curso de arbitragem em 1995 na Federação Paulista de Futebol. É amigo de Eric Faria. Mas não é corporativista. Defende o futebol e o que entende ser justo

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

Blog do Mauro Beting