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Blog do Mauro Beting

Não queria Felipão hoje, mas quero Felipão para sempre no Palmeiras

Mauro Beting

27/07/2018 11h36

Não queria hoje Felipão no Palmeiras. Preferia Abelão que não pode. Mas eu quero sempre Felipão no Palmeiras. E ele pode tudo. Até quando parecia impossível na Libertadores-99 e Copa do Brasil-12. Até quando não é possível encaminhar para um rebaixamento no BR-12.

Mas mesmo o meu preferido da hora Abel Braga era aposta. Tudo é aposta na vida. No futebol, então, pode virar solução ou uma rima ruim e fedida com aposta. Eu gosto de Roger. Não rolou. Ainda poderia rolar. Mas não estava dando certo. E não se tem paciência.

Quero treinador bom independente do lastro, rastro, mastro, cadastro. Roger é. Não vinha sendo. Felipão lógico que é. Não foi nos últimos trabalhos. Mas o jogo vira. E de virada Scolari é mestre honoris causa. Vincit qui se vencit.

Em latim e latindo contra abutres do apocalipse e cães vira-latas. Sem Abelão poderia ser outro que está no Olimporco dos técnicos. Mas apostaria ainda menos em Luxemburgo HOJE pelo que não tem conquistado e pelo que tem dito.

Outro treinador? Dorival Júnior poderia ser. Mas já começaria mais cobrado. Como Gareca. Sampaoli é louco como nós. Bom nome. Mas não sei se para clube. E sei que estrangeiro em meio de temporada no Brasil é osso.

Zé Ricardo é bom. Mas treinador novo no Palmeiras AGORA é clamar pela inclemência e impaciência. Não rola. Jair Ventura, até pela filosofia de jogo, ainda menos.

Então… Felipão. Ponto final. Reticências…

Não é o meu ideal HOJE. Mas sempre será o meu treinador. Jamais falarei mal dele no Palmeiras – ainda que discorde, ainda que discuta.

Felipão é pai. Discordo, mas respeito. Não gosto agora, mas amo pra sempre.

A palavra final é dele. Até porque de palavra e de final ele entende.

Quando ele chegou, se sabia a competência e o carisma. Tinha dois anos de rusgas e rasgos de raiva dos dois lados. Não se gostava dele quando Grêmio. Do jeito dele tricolor. Mas se queria o mesmo. Vitória Verde.

Em seis meses já chegou além do primeiro objetivo. Não deu para vencer o Vasco no BR-97. Dos amados Edmundo e Evair de Vasco, e o ex-gremista general Felipão do nosso.

Mas era mesmo nosso? Nem tanto. Ele não gostava do estilo "acadêmico" do clube. O sonho era um dia dirigir o Uruguai vizinho do Sul, não o Brasil da CBF. Era apaixonado pela classe de Francescoli, amava meio que às escondidas o "jogo bonito". Mas era muito escancarado defensor de um Dinho dando pra doer que um Zinho dando gosto. Era mais sangue e suor que sabor e saber.

Foi fazendo seu grupo – não grupinho. Foi domando feras e focas. Criando fatos e factoides. Treinando o time e a imprensa. Levando a arquibancada com ele. Virando o jogo e o jeito do Palmeiras jogar.

Se perdesse a Copa do Brasil de 1998, provável que perderia o que nunca ganhou de Mustafá. Nem a Parmalat seguraria. Mas o celeste Paulo César não segurou aquela bola, Oséas mandou pro céu sem ângulo, Copa do Brasil de 1998. Tíquete assegurado pra Libertadores-99. Hora pra treinar na primeira Mercosul. Outro título: Copa Mercosul, nos últimos dias de 1998.

Nem um mês de férias. Reservas em campo no Rio-São Paulo. Grupo duríssimo na Libertadores. Ele anuncia que não fica mais ao final dela. Vaza lista dos fora de forma do elenco. Eles ficam putos. Mas respondem pela bola. Era assim. Felipão cutucava o elenco que respondia a ele em campo. Não no vestiário. Funcionava. Hoje, com story de esposa, Instagram do irmão, Facebook do assessor, vira o caos. Vida de cão.

Em 1999 não se acreditava no time dele. Só o Palmeiras para superar Cerro, Olímpia, Corinthians, Vasco campeão da América, Corinthians mais uma vez e sempre pra sempre, River Plate, Deportivo Cali pra fora com Zapata, São Marcos pro Japão com a Libertadores.

Não deu contra o United mesmo jogando melhor. Não daria Mercosul-99. Mas teve mais Rio-São Paulo em 2000 com a Parmalat já nas vacas magras. Teve mais uma final de Libertadores eliminando o Corinthians. Mas já não tinha mais Felipão depois disso. Ainda deu Copa dos Campeões em 2000 com time frágil e remontado. Mas só sobrou aquele Felipão que tinha raiva de rival, comprava briga, elogiava quem não podia, era radical e ranzinza. Mas era nosso. Muito nosso. No que há de Palmeiras e no que há de ruim. Para o Palestra e para o mal.

Esperamos 10 anos por ele depois da Copa de 2010. Botamos bigodes sobre a boca e a desconfiança de um clube que também repatriava ídolos recentes como Valdivia e Kleber. Não rolou. Eles não foram os mesmos de 2008. Felipão também não foi o mesmo de 1997-2000. Ou pior: era o mesmo. As broncas do grupo que se engolia então viraram brigas. Os atletas mudaram. Na média, pra pior. Ele não mudou. E ficou pior.

Derrotas duras de engolir como a Sul-Americana de 2011 para o Goiás. Os pênaltis sempre vencidos que foram perdidos antes para o maior rival, no SP-11. Elenco mais frágil. Sem Parmalat. Sem muito Palmeiras. Mas ainda com o espírito felipônico de que é possível. É Palestra. E foi demais na Copa do Brasil-12. Gol de Betinho!? Bicampeão!

Libertadores-13 no horizonte. Esqueceram de jogar bola no BR-12. Felipão esqueceu como fazer um time limitado competitivo. Não deu liga. Daria rebaixamento. Já sem Felipão.

O Palmeiras não era o mesmo. Ele não era o mesmo. Ninguém é. Na Copa-14 não foi.

Mas sempre tem volta. Tem jogo. Mesmo um maluco como é o futebol. Louco como somos nós. Apaixonado como somos. Apaixonante como é esse tiozão Felipão. O que faz coisas que não pode. Jogar bola no campo no final de jogo, tretar com Deus, o mundo e os diabos da bola. Um cara que não se quer enfrentar. O cara para encarar quem vier. Para ter raiva daquela porra, ter raça deste porco, ter gana de ganhar.

Mas já disse antes e reitero agora. Ele não me parece mais ter pique para treinar clube no Brasil. Jogador no Brasil. Não é que esteja ultrapassado. Mas o jeito dele não bate mais com o da geração atual muito delicada para aceitar algumas grossuras e outras que são apenas cobranças duras de quem é tão dedicado. Felipão precisa se adaptar ao novo jogador. Ao novo YouTuber de chuteiras coloridas. Também precisa estar antenado com o que rola aqui e com a bola que se joga acolá.

Temo que a teima num passado brilhante na primeira passagem e discutível na segunda esteja mais para repetir a segunda que a primeira história. Por mais que ela não se repita, são outras pessoas (e mesmo Felipão é diferente ainda que seja igual demais em outras situações). Não tenho a mesmo convicção de vitória que tive desde o dia em que chegou em 1997. A alegria do retorno e apoio de 2010 a 2012.

Não tenho. Não é por duvidar dele. Não tenho como torcedor como não o elevar ao máximo do Olimporco por tudo que fez como um dos nossos três maiores treinadores. Mas por questionar os métodos dele com os medos de hoje. Por não saber hoje se ele vai se adaptar aos humores de jogadores que não entendem os modos muitas vezes sem modi que deram muito certo antes. Não mais agora.

Não preciso desejar nada além de obrigado a ele por tudo. O crédito de Felipão é eterno. Ele sempre terá aqui dentro a imagem que tem na placa da foto do Bar Dissidenti.

Posso discutir muito. Posso não gostar das ideias atuais. Dos modos desde sempre. Mas no meu peito e no meu Palmeiras o Felipão pode até estar errado. Pode pensar errado. Pode agir errado.

Mas ele vai ser sempre estar "certo". O tiozão que pega pra nós o brigadeiro da mesa antes de cortar o bolo. Vai ser sempre o cara que no chute de Zapata não vai celebrar com a Via Láctea da Parmalat. Vai direto abraçar os gandulas que faziam o jogo dele. Nem sempre o que é certo é bonito. Mas sempre o que um paizão-tiozão faz para defender a prole, a plebe, e o Palmeiras.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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