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Blog do Mauro Beting

Naça da nossa raça, 100 anos

Mauro Beting

16/02/2019 12h16

 

Ferroviário é mascote do Nacional da Lapa. Barra Funda. Da rua Comendador Souza. Da Marquês de São Vicente. Do clube que desde os anos 1980 fica na frente do CCT do São Paulo e, desde os 1990, da Academia do Palmeiras. Onde clubes milionários e campeoníssimos na cidade e no planeta bola treinam pertinho do estádio Nicolau Alayon. Do campo e do lar do Naça. Não do segundo time de muitos paulistanos. Não da equipe que a maioria da torcida não sabe citar algum jogador que tenha nascido no clube para o futebol profissional do Brasil. Não que a imprensa dê bola ao time como já não dava pelota antes quando jogava contra todos, ou mesmo couro ao "eleven" na época do São Paulo Railway Athletic Club. Outro que teve de ser nacionalizado quando terminou a concessão das estradas de ferro para a companhia inglesa, em 1946. Jamais o sonho de seguir jogando por essa trilha.

O SPR virou Nacional. Mas poderia mesmo ser Paulista. Paulistano. Lapa ou Barra Funda? Comendador Souza! Não é de bairro, é da rua. E não é de todos, é uma associação que parece sua. De cada um, e só deles. Única. Quase de únicos.

Talvez por isso mais humana. Como sua mascote. O Ferroviário. Não é bicho, não é santo, não é super-herói. É uma profissão. Quase uma profissão de fé para quem o segue sem ajuda da imprensa, dos rivais, dos patrocinadores, muitas vezes até do bairro agora cheios de CTs, e, logo depois da fundação, em 1919, do Palestra Italia que virou Palmeiras em 1942.

Não é fácil fazer 100 anos. Ainda mais com tanta gente jogando contra ou nem jogando. Por isso também é mais humano na capital de tantos campeões mundiais de clubes e pela seleção que um clube seja o que é. Do bairro, do barro e do berro da rua. Da raiz do futebol que escorre como sangue, do trilho que corre rumo ao interior de cada um.

Desse rumo jamais saiu o Nacional. Não descarrilou. Nem perdeu a hora. Segue na sua pontualidade fidelíssima de quem o escolheu porque quer demais um clube que não precisa ser o maior para ninguém. Precisa ser apenas o Ferroviário mascote. Como bem captou Leandro Massoni que, no livro NACIONAL – NOS TRILHOS DO FUTEBOL BRASILEIRO (Flutuante editora) conta muito bem a história de raça do Naça.

Nacional e megapaulistano, sim. Mas plural como uma linha de trem que leva a vida para todos os lugares. Nicolau Alayon, o nome de sua casa, foi um dirigente de berço uruguaio. Como o paulista Charles Miller, que trouxe as bolas e o futebol da Inglaterra para o Brasil, também acabou sendo um pouco da casa. Ele e outros funcionários da SPR Limited fizeram o primeiro jogo de futebol no país, em 1895. Ainda não era o Nacional de 1919, mas já era o espírito empreendedor.

O que teve com suas camisas em começo de carreira gente que você vai saber lendo o ótimo livro. Jogadores que você não sabia que pela Comendador Souza passaram. Gente que como essa que talvez você não conheça. Mas que agora você vai saber como vale a pena ter história. Só vive de passado quem a tem. Quem tem esse trem do Nacional. Aquele que não surge de trás das montanhas azuis, como cantou Raul Seixas. Mas que é o trem azul e branco com muita vida para nos levar como esses que seguem fazendo o trajeto que sonham.

 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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