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Blog do Mauro Beting

Justo. Justíssimo.

Mauro Beting

23/09/2019 20h54

A Villa del Cerro era um distrito vizinho que virou Montevidéu em 1913. Um ano depois foi fundado o Rampla Juniors. Em 1922 nasceu seu maior rival – o Cerro. Desde 1927 se enfrentam no segundo maior clássico uruguaio. Tão intenso quanto Peñarol x Nacional por ser mais do que um confronto municipal, nacional e internacional como o grande clássico: Cerro x Rampla é uma partida do bairro. De famílias. De vizinhos de Montevidéu.

Não tem nada maior. Ou só o amor de Justo para Nico. Do pai que era Cerro e em 72 horas do bebê fez o filho sócio do clube.

Mas na adolescência o perdeu para o rival. A dor e raiva pela casaca virada para as cores do Rampla fez Justo jamais acompanhar Nico do outro lado do estádio.

Em março de 2016, como conta o documentário JUSTO Y NICO, o pai estava em casa quando recebeu o telefonema. Acompanhando o Rampla pelo Uruguai, o filho morreu em acidente, voltando de Maldonado, do jogo contra o Atenas.

Justo foi ao quarto do filho arrancar a bandeira que o levara pro outro lado. Definitivamente. Com ela na mão, Justo entendeu como poderia se conectar em vez de a queimar. "Como pai, como amigo, como homem, me faltou mais comunicação com meu filho".

Desde então, Justo e a mulher estão do outro lado. Todo jogo ele leva a bandeira da foto na reportagem do Grupo Globo. Ele agora torce também para o clube do filho. O melhor jeito de estarem juntos com o futebol que os separou. Na mesma arquibancada onde aspergiu as cinzas de Nico. "Meu sangue é do Cerro. Mas meu coração é do Rampla".

Justo. Justíssimo.

"Aproveitem seus filhos", disse ele ao FANTÁSTICO. Amor que foi finalista do Fifa Fan. E é vencedor como qualquer um que faz da paixão pelo futebol a melhor conexão entre diferentes de tão iguais.

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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