Maestro de nossas trilhas
Quando você falar que alguém é um ex-profissional em atividade, veja este senhor de 87 anos. Ele está chorando ao agradecer pelo primeiro Oscar da carreira de 70 anos. Prêmio que já deveria ter conquistado com ONCE UPON A TIME IN AMERICA. ONCE UPON A TIME IN THE WEST. CINEMA PARADISO. UNTOUCHABLES. Talvez por THE MISSION. Ele deveria ter concorrido também ao Oscar com algum outro western. Só não poderia ter ficado tanto tempo sem levar um prêmio pelas canções que fazem passar vários filmes pela nossa cabeça. Obras que só nós conhecemos. Dirigidas ou desgovernadas pela vida.
Ennio compôs muitas trilhas da minha vida. As mais belas. Além de arranjos que arrumaram o meu mundo. IL MONDO, de Jimmy Fontana, produzida por ele, me fez todas as noites sempre pensar em alguém.
O mundo nunca parou em nenhum momento, como canta a letra. Mesmo quando injusto para o maestro Morricone. Só aos 87 anos ele ganhou o Oscar que já tinha recebido em 2007 em tributo às colunas sonoras que compôs. O que seria da sétima arte sem a primeira delas – a música? Adoro os termos em outras línguas usados para definir o universal som casado com a imagem. Trilha sonora. Soundtrack. Ou a colonna sonora da Itália de Ennio. Da América e do Oeste norte-americano que ele compôs para Sergio Leone. O paraíso do cinema de Giuseppe Tornatore. Cordilheiras e paisagens sônicas para tantos.
Morricone só agora ganhou o prêmio por mais uma obra que não é a melhor. Mas é dele. Como deveriam ter sido outros prêmios da Academia. Não se discute o talento dele. Nunca. Mas a falta do próprio de quem nunca o escolhera. E da falta de senso, noção e respeito de muita gente que aposenta muitos talentos. Profissionais que desrespeitam os que eles acham que já passaram da hora. Ou que nunca foram tudo isso só por não terem conquistado uma estatueta, um troféu, uma menção.
No mundo da bola, Messi. Cruyff. Di Stéfano. Puskás. Eusébio. Zico. Zizinho. Platini. Leônidas da Silva. Domingos da Guia. Falcão. Pedro Rocha. Van Basten. Rivera. Yashin. George Best. Moreno. Franco Baresi. Elías Figueroa. Roberto Baggio. Cristiano Ronaldo. Rummenigge. Ademir da Guia. Coluna. Gullit. Sócrates. Julinho. Boszik. Luisito Suárez (tanto o meia espanhol quanto o goleador uruguaiso). Stanley Matthews. Reinaldo. Careca. Carrizo. Kopa. Sindelar. Masopust. Ocwirk. Giresse. Seeler. Facchetti. Valentino Mazzola. Mazurkiewicz. Cech. Lato. Gento. Jair Rosa Pinto. Neeskens. Toninho Cerezo. Keegan. Paolo Maldini. Dassaev. Kocsis. Friedenreich. Raúl. Spencer. Arsenio Erico. Francescoli. Sívori. Labruna. Luís Pereira. Néstor Rossi. Tesourinha. Cubillas. Giggs. Boniek. Pedernera. Dirceu Lopes. Sandro Mazzola. Figo. Gigi Riva. Júnior. Hidegkuti. Kubala. Zamora. Stoichkov. Hagi. Verón. Tigana. Eto'o. Cantona. Blokhin. Weah. Drogba. Canhoteiro. Ademir de Menezes. Suker. Michael Laudrup. Bergkamp. Boniperti. Riquelme. Fontaine. Romeu Pelicciari. Deyna. Valderrama. Hugo Sánchez. Nedved. Leandro. Evaristo. Nordahl. Schmeichel. Rincón. Fausto. Pagão. Heleno de Freitas. Danilo Alvim. Bauer. Bettega. Barbosa. Khan. Bernabé Ferreyra. Savicevic. Litmanen. Nelinho. Oscar. Renato Gaúcho. Edmundo. Djalminha. Dario Pereyra. Dalglish. Dzajic. Skoglund. Dennis Law. Simonsen. Gamarra. Marinho Chagas. Scholes. Ibrahimovic. Shevchenko. Albert. Cech.
Eles não ganharam Copas. E dai? Azar delas.
Talvez tivesse gente que não levasse mais em conta Ennio Morricone pela ausência de um Oscar na casa que ele divide há 60 anos com a mulher com quem ele sempre divide tudo, até a autoria de canções. Musa feliz por saber que em cada nota tem um toque dela. Maria abençoada que inspira harmonias e melodias que não precisam de prêmios. Apenas de reconhecimento. E muito respeito.
O Oscar aos 87 anos de vida e de trabalho é música para quem sabe que talento não se aposenta. É inspiração para quem não pode parar de fazer o que ama. É lição para quem deveria se aposentar por querer jubilar os outros.
Viva Morricone.
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