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Blog do Mauro Beting

Galo, 108

Mauro Beting

25/03/2016 18h37

Final do BR-77. Mineirão. FOTO: GALODOIDO

Texto publicado no site do Atlético Mineiro no centenário. 




O melhor lance do Atlético não foi num jogo.

Foi fora dele. Foi numa derrota.
Minto, num empate de um time invicto, o supervice-campeão do BR-77.

Não foi o melhor jogo ou jogada.
Mas não teve nada mais atleticano que aquilo: depois da derrota nos pênaltis para o São Paulo, Mineirão e Brasileirão estupefatos pela queda sem derrota de um senhor time de bola, os jogadores baqueados e barreados pela chuva e pela lama se abraçaram no gramado e assim foram ao vestiário.

Foi a primeira vez que vi a cena reverente que virou referência.

Ninguém estava fazendo marketing (nem existia a tal palavra).

Nenhum jogador estava jogando pra galera.

Era fato.

Time e torcida estavam juntos naquele abraço doído e doido como o Galo. 

Como tantas vezes o atleticano esteve junto com o time. Qualquer time.

Nada é mais atleticano que aquilo: um time que se comportou como o torcedor.
Solidário na dor, irmão no gol.

O atleticano é assim: tem a coragem do galo, mas não a crista.

Luta e vibra com raça e amor. Mas não se acha o dono do terreiro.

Sabe que precisa brigar contra quase tudo e contra quase todos. Até contra o vento, na célebre imagem de Roberto Drummond.

Aquela que fala da camisa preta e branca pendurada num varal durante uma tempestade. Para o escritor atleticano, ou, melhor, para o atleticano escritor, o torcedor do Atlético sopraria e torceria contra o vento durante a tormenta.

Não é metáfora. É meta de quem muitas vezes fica de fora da festa. Não porque quer. Mas porque não querem.
Posso falar como jornalista há 17 anos e torcedor não-atleticano há 41: não há grande equipe no país mais prejudicada pela arbitragem.

Os exemplos são tantos e estão guardados nos olhos e no fígado.

Não por acaso, o atleticano acaba perdendo alguns jogos e títulos ganhos porque acumulou nas veias as picadas do apito armado.

Algumas vezes, é fato, faltou time. Ou só sobrou raça. Mas não faltou aquilo que sobra no Mineirão, no Independência, onde o Galo for jogar: torcida.

Pode não ser a maior, pode não ser a melhor, pode até se perder e fazer perder por tamanha paixão, cobrando gols do camisa 9 como se todos fossem Reinaldo, pedindo técnica e armação no meio-campo como se todos fossem Cerezo, exigindo segurança e elegância da zaga como se todos fossem Luisinho.
Mas não se pode cobrar ninguém por amar incondicionalmente.

O atleticano não exige bola de todo o time. Não cobra inspiração de cada jogador. Quer apenas ver um atleticano transpirando em cada camisa, em cada posição, em cada jogada.

Por isso pede para que o time lute.
É o mínimo para quem dá o máximo na arquibancada.

A maior vitória atleticana é essa. Mais que o primeiro Brasileirão, em 1971, mais que o vice mais campeão da história do Brasil, em 1977.

Os tantos títulos e troféus contam. Mas tamanha paixão, essa não se mede.
Essa é desmedida. Essa é a essência atleticana.

Essa é centenária.

Foi o texto que escrevi há oito anos. Hoje, com Ronaldinho Gaúcho e Victor de 2013, com a campanha de 2014 na Copa do Brasil, com o que também pode se repetir como festa em 2016, o que era só orgulho ferido é feliz reconhecimento do Brasil e da América. 


Parabéns, Galo. 


E obrigado por ter me feito tão torcedor em 2013. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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