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Blog do Mauro Beting

Pacaembu, 76. Um estádio de espírito. 

Mauro Beting

28/04/2016 16h43

 
 
Minha primeira vez foi com você. Foi de noite. Eu tinha sete anos. Nunca vou esquecer. Eu imaginava como seria fantástica a emoção. Foi melhor do que eu imaginava. Meu pai me levou. Meu tio também. Não era a primeira vez do meu irmão. Mas era como se fosse.
Saí meio frustrado da minha primeira experiência. Foi meio brochante. Não saímos do zero a zero. Não foi aquele jogo. Eu esperava muito mais. 

Afinal, era a Segunda Academia. Dudu e Ademir da Guia. Rima que era Seleção.
Não teve gol e nem show. Era outubro de 1973. Empate com o Vasco. Um gol eu só veria em estádio em 15 de novembro. Um a zero no Inter. Gol do Nei. Tinha de ser com você. Em você. 

À noite teve pizza no Casa Grande, na Pompeia. No salão de cima estava toda a segunda academia jantando. Leão, Luís Pereira, Leivinha. E o bom velhinho Dudu.

Ele é um pouquinho mais velho que o Pacaembu. E pra mim nada consegue ser mais mais velho que a estátua Olegário e que o estádio Paulo Machado de Carvalho. 
Nada também consegue ser mais palestrino e palmeirense que Dudu e Pacaembu. Rima que é solução.

Dudu que jogou com costelas quebradas no título de 1972. Dudu que se doou e se doeu como Dudu em cada canto do campo onde se vê sempre todo o jogo.

Dudu é nosso. O Pacaembu é nosso. De todos os nosso. É da cidade. De todos os cidadãos e credos.  Mas também é nossa identidade. Ninguém deu tanta volta olímpica no Pacaembu como o Palmeiras. Foi o primeiro estadual em 1940. Foi sem Dacunto em 1944 . Foi o Jogo da Lama de 1950 no Ano Santo contra o Tricolor da Fé. Foi o Rio-SP de 1951 contra o Corinthians. 

Supercampeonato de 1959 contra Pelé. A goleada contra o Fortaleza na Taça Brasil de 1960. Academia de 1965. Taça Brasil de 1967. Paulista invicto de 1972. Rio-São Paulo de 1993. Brasileiro de 1994. Volta olímpica paulista em 1994 e 1996. A libertação de um grito travado contra o Libertad, em 2013.
Mais um jogo histórico que não levou a título algum.
E quem diz que é preciso?
O palco da primeira vez é o templo de todas elas. Como o Pacaembu é um pouco de todos. É da casa.
Não somos maiores e nem menores. Não somos donos da casa. Mas ninguém mandou melhor no Pacaembu.
Onde morremos líder e nascemos campeões em 1942. Onde eu nasci pro futebol. Onde meus filhos viram juntos a primeira derrota em 2010, contra o Flamengo do Love que era nosso, mas virou deles, como uma ópera de Vagner. Onde eu também vi a minha primeira derrota, em 1977. Onde o avô deles também viu alguma derrota que eu não sei. Até empate com gosto de queimado como eu sofri em agosto de 1990.
Palmeiras 0 x 0 Ferroviária. Bastava vencer para ser finalista. Não deu. O Novorizontino se classificou e foi vice paulista para o Bragantino de Luxemburgo.
Eu era jornalista esportivo havia dois meses. E não me aguentei quando vi uma camisa queimada do Palmeiras na arquibancada. Levei para casa. Mas antes fui chamado de corintiano por alguém que me viu com o manto queimado.
Dor apenas menor que ver a sala de troféus do Palestra quebrada por "palmeirenses" minutos depois.
Pacaembu querido, ganhei muito na nossa casa. E, quando perdi, ou empatei, como em 1990, aprendi mais do que perdi.

São Paulo, a cidade, não pode perder o Pacaembu que ontem, dia 27, fez 76 anos. Corinthians também não. Palmeiras. Santos. Portuguesa. Juventus. Fla-Flu que foi aqui em 2016. Copa de 1950 que foi aqui. Um pedaço de todos nós que está sendo despedaçado pelo Viva Pacaembu que mata a praça de esportes e sufoca o palco de espetáculos.  

Ricardo Chester, publicitário, tem a ideia de fazer do estádio o Wembley paulistano. Palco das grandes finais. 

É uma ótima ideia. Não sei se factível pelos muitos interesses dos clubes e novas arenas. Compreensíveis. Mas o interesse público como o estádio passa por manter um lugar como o Pacaembu. 

Um vale quanto pesa desde 27 de abril de 1940. O meu primeiro canto para eu cantar que sou Pacaembu até morrer. 

Sobre o Autor

Mauro Beting é comentarista do Esporte Interativo e da rádio Jovem Pan, blogueiro do UOL, comentarista do videogame PES desde 2010. Escreveu 17 livros, e dirigiu três documentários para cinema e TV. Curador do Museu da Seleção Brasileira, um dos curadores do Museu Pelé. Trabalhou nos jornais Folha da Tarde, Agora S.Paulo e Lance!, nas rádios Gazeta, Trianon e Bandeirantes, nas TVs Gazeta, Sportv, Band, PSN, Cultura, Record, Bandsports, Foxsports, nos portais PSN, Americaonline e Yahoo!, e colaborou nas revistas Placar, Trivela e Fut! Lance. Está na imprensa esportiva há 28 anos por ser torcedor há 52. Torce por um jornalismo sério, mas corneta o jornalista que se leva muito a sério

Sobre o Blog

O blog fala, vê, ouve, conta, canta, comenta, corneta, critica, sorri, chora, come, bebe, sofre, sua e vive o nosso futebol. Quem vive de passado é quem tem história para contar. Ele tem a pretensão de dar reload no que ouvi e li e vi e fazer a tabelinha entre passado e presente para dar um toque no futuro.

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