Um bico pra lateral vale mais do que um drible no Brasil
Já escrevi tantas vezes a respeito – e quase sempre para espinafrar o torcedor que aplaude mais o boleirão que dá um bico para a lateral (e por vezes celebra o feito como se tivesse defendido um pênalti decisivo) do que o jogador que dribla dois em sequência.
É um dos motivos pelos quais o nosso futebol tem sido isso – e não aquilo que o mundo ainda celebra e aplaude mais que um bico para lateral.
Brasileiro ainda sabe jogar bola melhor do que qualquer outro – na média, pouco acima dela, ou um tanto abaixo como nos últimos dois tempos. Mas não sabemos mais jogar tanto assim futebol – o nosso assunto e interesse. Também nos perdemos e perdermos partidas por louvarmos mais gladiadores que jogadores. Também por amar quem racha a bola e não quem a trata melhor.
Sabemos ainda jogar bola no Brasil, e com criatividade claro. Como Kelvin. Tem muita velocidade e força. Tem habilidade admirável. Taticamente evoluiu e ajuda muito o time de Bauza. Mas, com a bola, mesmo tendo talento como poucos, quase sempre dribla quando não é preciso, não passa quando deve, exagera na firula, e, em vez de ganhar muito mais do que ele e o São Paulo tem vencido, acaba se perdendo na inconsequência.
Mas, quando faz um grande lance, como fez no final do jogo com o Palmeiras contra Zé Roberto, Kelvin também merecia mais aplausos do que aqueles dados a um bico para longe do zagueiro Maicon. Becão que ganhou na marra e na garra a torcida que estava carente de qualidade, ídolos e, sobretudo, do espírito de gente como Maicon. Um Lugano com mais pulmão, e todo aquele coração do ídolo uruguaio.
Maicon não e só rebatedor, dever dizer. Tem alguma técnica nos pés. Aprendeu muito no Porto – de onde só saiu por questões com o treinador. Mas o mérito dele é algo que Maicon tem muito e que vinha faltando demais ao São Paulo nas últimas temporadas: esse cara que corre e marca e defende e sua e sobe e desce e sofre e cresce e todas as letras E de energia, entrega, estamina e o que for.
Não gosto do futebol que só gritou o nome de Maicon na grande vitória contra o Palmeiras. Não gosto de quem mais joga bola do que futebol como o inconstante e inconsequente Kelvin – embora esteja cada vez mais confiável. Não gosto de quem mais lembra lances deles do que o gol de Ganso e muitos dos bons momentos do camisa 10 cada vez melhor – mas que pode e deve jogar ainda mais.
Até entendo as carências são-paulinas nos últimos anos. Um time tão vencedor desde a fundação anda meio mal das conquistas e dos ídolos, muitas vezes desarmado desde 2008, quando não desalmado, mesmo. Talvez por isso Ganso ainda não seja tão reconhecido depois de quase incinerado pelas más atuações e péssimas partidas em que flanou pelo gramado. Talvez por isso Maicon seja tão incensado no resgate do sentimento de vestir a camiseta como única pele.
Nada contra o zagueiro e a admiração que rapidamente conquistou. Tudo contra o futebol que mais enaltece quem sua do que o cara que chama a bola de sua.
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