A alma é enorme - Portugal 2 x 0 País de Gales
"Matar o sonho é matar-nos. É mutilar a nossa alma. O sonho é o que temos de realmente nosso".
Portugal deu pesadelos na Euro. Só empatou na primeira fase, e parecia só perder no último jogo contra a Hungria. Só foi ganhar da Croácia que era melhor time na última bola da prorrogação. Foi buscar o empate contra a Polônia vencida apenas nos pênaltis.
Precisou de um voo impressionante de Ronaldo para abrir o placar de cabeça na semifinal. Mais três minutos e um carrinho de Nani foram suficientes para superar Gales desfalcada de Ramsey e desprovida de maiores predicados para ser semifinalista da Euro.
Mas foi bonita a festa galesa, ó pá!
Mas ainda mais bonito é o sofrimento português.
Veja a foto da transmissão do jogo, na reprodução da TV Globo.
Olha o tempo de partida. Olha o placar. Faltavam segundos para acabar. Faltavam dois gols aos bravos galeses para empatar.
E o sofrimento português era o de sempre. Parece que não vai dar. Ou pior: não vai dar mesmo.
Mas deu.
Doze anos depois, Portugal pode ser de França ou Alemanha o que a Grécia foi para Portugal, na Euro disputada em Lisboa, em 2004.
Os tugas de Felipão era os favoritos. Perderam para os gregos ainda mais zebras que os portugueses de 2016.
É um sonho o que a turma de Renato Sanches fez.
"Sonho impenetravelmente e inexpugnavelmente nosso".
Portugal pode sonhar o que a torcida costuma ter de pesadelos.
"O meu passado é tudo quanto não conseguir ser".
E olha que Portugal tem sido desde 2000 mais do que havia sido antes. Não foi só Figo então, ou Cristiano depois. Tem feito bonito até quando não joga bonito. Tem sido ainda mais assim em 2016. Quase não se classifica. Suou além da conta do chaveamento menos complicado. Em poucos momentos mostrando futebol de finalista. Ou apenas bola possível para Euro tão inchada e, ainda assim, tão vazia.
Mas Portugal está na final onde Bélgica e Croácia não chegaram. E gigantes do outro lado como Itália e Inglaterra nem perto chegaram.
"O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela".
Portugal é isso. Vai a campo achando que vai ficar pelo caminho. Fazendo as contas e figas para celebrar mais um dia de sobrevivência de que vida. Esquecendo que…
"Para viajar basta existir".
Portugal parece que não viaja e, sim, marcha. Navega. Encontra a América sem querer. Soçobra. Se perde quando acha. E até se perde ao achar que nada encontrará. Bússola descompassada. Difícil precisar, ainda mais em mundo tão imperfeito. Mais complicado tentar explicar:
"Quem quer dizer o que sente não sabe o que há de dizer: Fala: parece que mente… Cala… parece esquecer…"
Difícil tentar compreender esse futebol que leva tão longe Portugal com tão pouco.
Mas Portugal já perdeu com muito mais que está merecendo essa alegria finita de tão dolorosa, essa confiança acabada mesmo quando tudo só começou na vitória, como mostram os torcedores da foto a segundos da grande final.
"Querer não é poder. Quem pôde, quis antes de poder só depois de poder. Quem quer nunca há de poder, porque se perde em querer".
É Portugal. Com todas as aspas de Fernando Pessoa.
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